Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com
domingo, 30 de dezembro de 2007
Os beijos cheios de paixão
Excerto de " O vermelho e o negro ", de Sthendal, Trd. Maria Manuel e Branquinho da Fonseca, Ed. RBA Editores,1994
"Devagar e Sempre" - Pixinguinha
Roda de Choro, num sábado de manhã tocando Devagar e Sempre de Pixinguinha, na loja Ao Bandolim de Ouro.
Almeida Junior
Almeida Junior, um dos maiores pintores brasileiros do século XIX. Ver aqui, mais pinturas presentes em exposição realizada em S.Paulo.
sábado, 29 de dezembro de 2007
Balanços de 2007 (2)
Anais Mitchell -" Old Fashioned Hat "
Os dez melhores discos, nacionais e internacionais, para o Blogue do JL.Balanços de 2007 (1 )
Aqui não há inocentes
Excerto de " O pátio maldito ", de Ivo Andric, Trd. Lucia e Dejan Stankovic,Ed. Cavalo de Ferro,2003
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
"Roda Viva" - Chico Buarque
Roda Viva
Composição: Chico Buarque
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas rodas do meu coração
A consoada
Excerto de " A consoada ", incluído no " Roteiro Sentimental Douro" de Manuel Mendes, escrito entre 1961/1963 e publicado em 1964 e 1967, reeditado em 2002 pela Afrontamento
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
A tragédia de Mayerling na história das moscas*
* Excerto de " As Contadoras de Histórias", Fernanda Botelho, Biblioteca Prestígio,2001
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Notas sobre a politica e o Estado em Maquiavel -Hannah Arendt
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Nick Cave -" The Ship Song "
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
" Liberdade" de Fernando Pessoa
Utopias
Brian Eno & David Byrne - "Mea Culpa "
" - Quando conversar com um proletário, serei vermelho. Agora estou à conversa consigo e digo-lhe: a minha sociedade inspira-se naquela que no princípio do século nono organizou um bandido chamado Abdla-Aben-Maimum. Naturalmente, sem o aspecto industrial que eu confiro à minha e que será forçosamente uma garantia do seu sucesso. Maimum quis fundir os livres pensadores, aristrocatas e crentes de duas raças tão distintas como a persa e a árabe, numa seita na qual implantou diversos graus de iniciação e mistérios. Mentiam descaradamente a toda a gente. Aos judeus prometiam a chegada do Messias, aos cristãos a de Paracleto, aos muçulmanos a de Madhi... foi de tal modo que uma turba de gente com as mais distintas opiniões, situação social e crença, rabalhava em prol de uma obra cujo verdadeiro fim era conhecido por muito poucos. Desta forma Maimum esperava chegar a dominar por completo o povo muçulmano. Escuso de acrescentar que os directores do movimento eram uns cínicos estupendos, que não acreditavam absolutamente em nada. Nós vamos imitá-los. Seremos bolcheviques, católicos, fascistas, ateus, militaristas, em diversos graus de iniciação."
Excerto de " Os sete loucos", de Roberto Arlt, Trd. Rui Lagartinho e Sofia Castro Henriques, Ed. Cavalo de Ferro,2003
Brian Eno & John Cale - "One Word "
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
" Independança " - GNR
No lado I procura-se demonstrar um domínio sobre os padrões mais exóticos da new wave dividido em temas que vão dos arranjos de Japan, até ao piano acústico de Corea; colagens sniffantes de pop art; coca-sounds; feed-backs; dissonoes-tupefacto nas actividades digitais; - se algum momento é fraco neste oceano de energia libidinal ele é rotulado por uma pseudo-crítica como "rock português" - mas compreende-se, o disco é feito inteiramente por portugueses.
Electro-scats, multi-ressonâncias, misturas devolucionais, escato-poemas, remoto-melodias, galactico-imitações, lúdico-virtuosismos de baixo, sincronias metamáticas da percussão, passas de strings, etc... cibernantropicamente concluindo: " Independança" é a obra de rock feita em Portugal com maior qualidade e vanguardismo, e o GNR é a mais promissora instituição sonora para produzir rock nas ecologias artificiais da nossa imaginação. "
Jorge Lima Barreto
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
" Pedro Páramo" - Juan Rulfo
" Pedro Páramo ", de Juan Rulfo é um dos livros da minha vida. Ler aqui artigo de Margo Glantz, publicado no suplemento Babelia do jornal El Pais.
E, ler aqui análise de Paulo Baía.
Aqui, ler artigo do El País sobre exposição de fotografias de Juan Rulfo que inspiraram o mesmo na sua escrita.
Os ácaros
Jacques começara por sentir o corpo metido numa labareda e depois, aos poucos, mal passava o fugaz alívio da pele coçada até ao sangue, uma queimadura mais aguda, um enervamento de desatar aos gritos, uma comichosa dor de enlouquecer!
É dos ácaros - disse a tia Norine a rir.
- Só apareceram ontem. Vê só! - Baixou a cabeça e afastou duas borrefas no pescoço que encaixavam entre elas um grão de milho vermelho enfiado na pele.
- Isto não vale nada, não vale mais do que uma pulga! - continuou o tio. - Hão-de encontrar-se por aí até chover.
Jacques invejou o couro batido daquela gente que não sofria, enquanto lhe dava a ele para ranger dentes e espiolhar carnes.
Diabos levem o campo! - Afastou-se dos ceifeiros. Tinha de tirar a roupa para poder arranhar-se à vontade. A meio caminho do castelo não pôde aguentar mais. Despiu-se atrás de um maciço de árvores, quase a chorar com as dores que sentia. Arrancou bocados de epiderme e não houve coçadela, raspagem, beliscão ou esfregadela que lhe saciasse o corpo. Mal esfolava um lado nasciam noutro comichões intoleráveis que iam ardendo, uma de cada vez, e o absorviam, forçavam a dar unhadas em tudo quanto era sítio e a voltar às bolhas maduras que já sangravam."
Excerto de " O castelo do Homem ancorado ", de J.K.Huysmans, Trd. Aníbal Fernandes, Colecção Livros B, Editorial Estampa, P. 129
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Repensar Deus (1)
Os valores cristãos têm uma dimensão ética, e prática, que está para além da religião. O cristianismo contribuiu de forma decisiva para a compreensão da dignidade humana, que se traduziu na formulação dos direitos humanos, e na igualdade entre os homens, independentemente da religião, sexo, cultura. Tudo isso faz parte do mundo cristão e é partilhado também por aqueles que estão expostos a esses valores, mesmo que não haja uma crença explícita no Deus de Jesus. O mais importante é o amor entre os seres humanos, é fazer o bem, e fazê-lo de modo verdadeiro, e eficaz - não falo da pequena caridade, mas da transformação das estruturas sociais, políticas, económicas, de tal modo que todos os homens possam realizar a sua humanidade. Freud, que era ateu, escreveu um dia uma carta em que disse: « Eu procurei na minha vida ser bom e fazer o bem aos homens, mesmo quando eles foram maus para mim. Se me perguntam a razão disso, não sei responder.» Isto representa um sinal de abertura ao mistério, ao sentido último. É que há aqui um problema: o das vítimas inocentes.
Quem são?
Todos aqueles que foram vítimas da brutalidade humana, os que não puderam levar avante a sua realização humana, todas as vítimas de todas as guerras, todos os homens, mulheres e crianças sobre quem foi exercida brutalidade. Há uma escola filosófica, a Escola Crítica de Frankfurt ( Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jurgen Habermas - este último um dos maiores filósofos vivos ) que afirma que há uma dívida para com essas vítimas inocentes, e que pergunta: quem é que pode pagá-la, a essa dívida que a História tem para com os inocentes? E é aqui que surge um enorme clamor por justiça. Num dos últimos textos de Habermas( que á agnóstico), escrito depois do 11 de Setembro, ele fala daquilo que a razão não consegue dar: o perdão.
Porque o perdão é um milagre. »
Excerto de entrevista de Anselmo Borges a Sarah Adamopoulos, publicada na Notícias Magazine de 09/12/2007
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos
Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas. E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados. É a cólera que me leva
aos precipícios de agosto, e a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas como o ar
palpitante fechado num espelho. É a estação dos planetas.
Cada dia é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses. Bate em mim cada pancada do pedreiro
que talha no calcário a rosa congenital.
A carne, asfixiam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.
É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,
esta rede de jardins diante dos incêndios. E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder
Cobra
Poesia Toda
Assírio & Alvim
1979
O Pátio Maldito
" A própria localização do Pátio Maldito era estranha, como se tivesse sido calculada para aumentar as torturas e os sofrimentos dos presos( frei Petar voltava muitas vezes a isto, tentando descrevê-lo). Do Pátio nada se vê da cidade, nem do porto, nem do arsenal abandonado lá em baixo na margem do estreito. Só há o céu, imenso e cruel na sua beleza e, ao longe, um canto verdejante da margem asiática, do outro lado do mar invisível, e o vértice do minarete de uma mesquita desconhecida ou da copa de um cipreste gigantesco, atrás do muro. Tudo indeterminado, anónimo e alheio. Assim, um estrangeiro tem a sensação constante de estar numa ilha diabólica, longe de tudo o que até então para si significava vida, e sem esperança de em breve tornar a reencontrá-la. Os presos de Constantinopla sofrem ainda um outro castigo, aquele de não ver nem sentir nada da sua cidade: estão lá, mas é como se estivessem a cem dias de viagem; e essa lonjura aparente atormenta-os como se fosse real. Por todas estas razões, o Pátio, rápida e insensivelmente, dobra um homem, subjuga-o de tal modo que acaba por se perder. Depressa se esquece de tudo o que aconteceu e pensa-se cada vez menos no que acontecerá; assim o passado e o futuro fundem-se num único presente, na terrível e insólita vida do Pátio Maldito. "
Excerto de " O pátio maldito ", de Ivo Andric, Trd. Lucia e Dejan Stankovic, Ed. Cavalo de Ferro,2003
domingo, 9 de dezembro de 2007
sábado, 8 de dezembro de 2007
Excerto de " Império à deriva - A corte Portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821 ", de Patrick Wilcken,Trd. António Costa, Ed. Civilização,2004
Quando tudo começou *
O misticismo industrial
- E o industrialismo. Faz falta outro para prender a consciência dos homens. Tal como houve o misticismo religioso e o cavalheiresco, há que criar o misticismo industrial. Fazer ver ao homem que é tão belo ser chefe de um alto forno como descobrir um continente. O meu político, o meu aluno político na sociedade será um homem que pretende conquistar a felicidade através da indústria. Este revolucionário saberá falar tão bem de um sistema de estampagem de um tecido como da desmagnetização do aço. ........Criar um homem soberbo, bonito, inexorável, que domina as multidões e lhes mostra um porvir baseado na ciência. De que outra forma é possível uma revolução social? O chefe de hoje terá de ser um homem que saiba tudo. Nós criaremos este príncipe de sapiência. A sociedade encarregar-se-á de confeccionar a sua lenda e estendê-la. Um Ford ou um Edison têm mil probabilidades mais de provocar uma revolução que um político. Você acha que as futuras ditaduras serão militares? Não senhor. O militar não vale nada ao pé do industrial. Pode ser um seu instrumento, nada mais. É tudo. Os futuros ditadores serão Reis do petróleo, do aço, do trigo. "
Excerto de " Os Sete Loucos ", de Roberto Arlt, Trd. Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues, Ed. Cavalo de Ferro,2003
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
O amor e a ténia
Excerto de " A queda dum anjo", de Camilo Castelo Branco, Ed. Clássicos Público,1995
Beber em família
An excerpt from "Volcano: An Inquiry into the Life and Death of Malcolm Lowry," available on the Criterion Collection edition of "Under the Volcano." Richard Burton reads Lowry's writing.
" Mas a verdade é que toda a família bebia de forma excepcional. O velho Taskerson, homem bondoso e inteligente, que perdera o único filho, que parecia ter herdado um pouco do talento literário do pai, ia sentar-se, todas as noites, pensativo, no escritório, com a porta aberta, bebendo a todas as horas, com os gatos ao colo e o jornal da tarde, que ele manejava bruscamente, numa distante desaprovação pelos outros filhos que, por sua vez, se ficavam a beber copos a fio na sala de jantar. A srª Taskerson, que, na sua terra, se mostrava uma mulher diferente, talvez por nela sentir menos a necessidade de causar boa impressão, deixava-se ficar junto dos filhos, com o bonito rosto corado e com um ar meio repreensivo, meio jovial sem, no entanto, deixar também de esvaziar o seu copito às escondidas. É certo que os rapazes geralmente lhe levavam um grande avanço. Não que pertencessem ao número dos indivíduos que andam a cambalear pelas ruas. Todos estavam de acordo quanto ao seguinte ponto de honra: quanto mais bêbedos estivessem, mais se lhes impunha a necessidade de parecerem perfeitamente lúcidos."
Excerto de " Debaixo do Vulcão ", de Malcolm Lowry, Trd. Virgínia Motta, Ed. Livros do Brasil
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Bonzo Dog Doo Dah Band
Death Cab For Cutie
do not adjust yr set
I'm the urban spaceman
Vivian Stanshall
Crank (Part One)
Crank (Part Two)
Crank (Part Three)
O livro das peças isabelinas
Eis cortado o ramo que poderia ter atingido pleno desenvolvimento,
Eis queimado o loureiro de Apolo
Que outrora floresceu dentro desse homem sabedor,
Fausto deixou de existir: vejam como cai nos infernos!
Excerto de " Debaixo do Vulcão ", de Malcolm Lowry, Trd. Virgínia Motta, Ed. Livros do Brasil
domingo, 2 de dezembro de 2007
É a jovial família das aves e as tribos de animais selvagens e as marítimas criaturas das profundidades, às quais ele arma ciladas com as suas redes, aprisionando-as com a superioridade da sua inteligência? Consegue igualmente domesticar, com as suas artes, a fera que percorre os altos e cujo fojo se oculta no seio da floresta; amansar o cavalo de crinas hirsutas, lançando-lhe as rédeas ao pescoço e dominar o infatigável touro das montanhas.
E a fala e a arte de pensar com a rapidez do vento e todos os dotes com que se pode criar uma nação? Tudo isso ele aprendeu, por si mesmo, e como fugir aos golpes do frio, quando duro se torna viver exposto ao cruel fulgor do céu, e evitar as flechas da chuva torrencial. Sim, soube descobrir recurso para tudo; só contra a Morte, embora inventasse defesas para lutar contra a doença traiçoeira, é que ele em vão clamará por auxílio."
Excerto de " Antígona ", de Sófocles, in " Debaixo do Vulcão ", de Malcolm Lowry, Trd. Vírgina Motta, Ed. Livros do Brasil
Carrinhos de mão
Excerto de " A estrada ", de Cormac Mccarthy, Trd.Paulo Faria,Ed.Relógio D´Água,2007
" Stalker " - Tarkovsky
sábado, 1 de dezembro de 2007
Sonhos de perigo
TV on the Radio -" Dreams "
Excerto de " A estrada ", de Cormac Mccarthy,Trd. Paulo Faria,Ed. Relógio D´Água,2007
A essência do mundo é musical
Randy Newman -" Sail Away "
" « A essência do mundo é musical» - disse para si Augusto quando morreu a última nota do órgão. - « E a minha Eugénia, não é musical também? Toda a lei é uma lei do ritmo, e o ritmo é o amor. Eis que a divina manhã, virgindade do dia, me traz uma descoberta: o amor é o ritmo: A ciência do ritmo é a matemática; a expressão sensível do amor é a música. A expressão não, a sua realização: entendamo-nos. » "
Excerto de " Névoa ", de Miguel Unamuno, Trd. Manuela Agostinho, Ed. Vega
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma coisa oculta em cada coisa que vês.
O que vês, vê-lo sempre para veres outra coisa.
Para mim, graças a ter olhos só para ver,
Eu vejo ausência de significação em todas as coisas;
Vejo-o e amo-me, porque ser uma coisa é não significar nada.
Ser uma coisa é não ser susceptível de interpretação. "
Excerto de " Poemas inconjuntos ", de Alberto Caeiro ( Fernando Pessoa )
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
terça-feira, 27 de novembro de 2007
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
O teatro lírico para Calisto Elói
Calisto inteirou-se do enredo da ópera, e assistiu em convulsões ao espectáculo, que era a Lucrécia Bórgia.
G. Donizetti, "Lucrezia Borgia"Act II, sc. 2 (fragment)Joan Sutherland, Alfredo KrausCond. Richard Boning,Covent Garden, 1980
Saiu da plateia frio de horror e protestou, em presença de Deus e do abade, nunca mais contribuir com oito tostões para a exposição das chagas asquerosas da humanidade. Rompeu-lhe então do imo peito esta exclamação sentida: «Amici, noctem perdidi! Melhor me fora estar lendo o meu Eurípedes e Séneca, o trágico! Medeia não mata os filhos cantando, como a celerada Lucrécia! As devassidões postas em música, dão bem a entender que geração esta é! Brinca-se com o crime, abafando-se os gemidos da humanidade com o estridor das trompas e dos zabumbas. É um tripúdio isto, amigo abade! Quem sai do seio da natureza rude, e de repente se acha à labareda destes focos das grandes cidades, é que atina com a providencial filosofia destas tramóias de teatros!»
Assanhou-se o abade de Estevães o azedume do fidalgo, dizendo-lhe que o Estado subsidiava o Teatro de S. Carlos com vinte contos de réis anuais. Calisto fez pé atrás, e exclamou:
- Obstupui!... O abade zomba!... O Estado!... o meu colega disse o Estado!
- Sim, o tesouro... - confirmou o clérigo.
- A res publica? o dinheiro da nação?
- Certamente: pois de quem há-de ser o dinheiro, senão da nação?
- Pois eu e os meus constituintes estamos pagando para estas cantilenas do teatro de Lisboa!
- Vinte contos de réis.
Calisto Elói correu a mão pela fronte humedecida de suor cívico, e sentou-se nas escadas da Igreja de S. Roque, porque ao espanto, cólera e dor de alma seguiram-se cãibras nas pernas. Minutos depois, ergueu-se taciturno, despediu-se do abade, e foi para casa. "
Excerto de " A Queda de um Anjo", de Camilo Castelo Branco, Ed. Clássicos Público,1995
domingo, 25 de novembro de 2007
"Les Sucettes"
France Gall
Serge Gainsbourg et France Gall
sábado, 24 de novembro de 2007
Marília Vargas - "Orfeo" - Monteverdi
Marília Vargas...Ninfa
Com a Capella Reial de Catalunya, Direção Jordi Savall.
Gravado em Janeiro de 2002 pela Ops Arte, no Gran Teatro del liceo, Barcelona
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
À sombra de El Supremo
Ler aqui artigo da Revista Veja, sobre Hugo Chávez.
A lenda do fogueteiro
- Conta.
- Sabes que em Portugal os fogos de artifício, a pirotécnia, é uma verdadeira arte. Quem não viu fogos de artifício em Portugal não sabe nada do que se pode fazer nesta matéria. E que colecção, Deus meu!
- Venha a lenda...
- Já lá vou! O caso é que havia numa aldeia portuguesa um pirotécnico, o fogueteiro, que tinha uma mulher formosíssima que era o seu consolo, o seu encanto e o seu orgulho. Estava loucamente apaixonado por ela e mais ainda orgulhoso. Gostava de fazer inveja, por assim dizer, aos outros mortais e passeava-a consigo como que a dizer-lhes: «Vedes esta mulher?, agrada-vos?Sim,hein?, pois é minha, só minha!, e vão-se lixar!». Não fazia senão gabar as excelências da formosura da mulher, e até pretendia que ela era a inspiradora das suas mais belas produções pirotécnicas, a musa dos seus fogos-de-artifício. Até que um dia, ao preparar alguns destes, enquanto estava, como de costume, a sua formosa mulher a seu lado para o inspirar, se lhe pega o fogo à pólvora, há uma explosão e têm de tirar marido e mulher desmaiados e com gravíssimas queimaduras. A mulher queimou-se numa boa parte da cara e do peito, de tal maneira que ficou horrivelmente desfigurada; mas ele, o fogueteiro, teve a sorte de ficar cego e não ver a desfiguração da mulher. E depois disto continuava orgulhoso da beleza da sua mulher, gabando-a a todos e caminhando ao lado dela, convertida agora em sua moça de cego, com o mesmo ar e porte de arrogante desafio que antes. «Já viram mulher mais formosa?», perguntava, e todos, sabedores da história, se compadeciam do pobre fogueteiro e lhe gabavam a formosura da mulher. "
Excerto de " Névoa ", de Miguel de Unamuno, Trd. Manuela Agostinho,Ed. Vega
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Fábrica de Lacticínios Tirolesa
Excerto de " A inocência do Padre Brown", de G.H.Chesterton,Trd.Vera Azancot,Biblioteca Visão,2000
terça-feira, 20 de novembro de 2007
O poder do tempo
Excerto de " Do lado de Swann",1º Volume de " Em busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, Trd.Pedro Tamen,Ed. Círculo de Leitores,2003, P. 50
sábado, 17 de novembro de 2007
El cronista como historiador
Cada uno de esos desconocidos que encontramos en nuestros periplos por el mundo parece llevar en su interior a dos personas; se trata de una dualidad que a menudo resulta difícil discernir, cosa de la que no siempre nos damos cuenta. Una es un ser como todos nosotros, con sus alegrías y sus tristezas, con sus días buenos y malos, alguien que celebra sus éxitos, al que no le gusta pasar hambre ni frío, que percibe el dolor como desgracia y sufrimiento, y la suerte como disfrute y realización. El segundo ser, que se solapa y entrelaza con el primero, es portador de unos rasgos raciales determinados, de una cultura, unas creencias y una ideología. Ninguno de estos seres se manifiesta en estado puro, por separado; los dos conviven y se influyen mutuamente.
El problema -y también la dificultad de mi oficio de reportero- radica en que la relación entre estos dos seres que habitan en cada uno de nosotros -el individuo con su unicidad y personalidad y el individuo portador de una cultura y una raza- no es inmóvil, rígida, estática, dada de una vez para siempre, sino que, todo lo contrario, se caracteriza por un dinamismo constante, por transformaciones, transiciones, transustanciaciones y cambios cuya intensidad depende del contexto exterior, de los imponderables del momento, de las expectativas del entorno e, incluso, de nuestra edad y nuestro estado de ánimo. Por eso nunca sabemos con quién nos vamos a encontrar, aunque se trate de una persona cuyo nombre y aspecto conocemos desde hace cierto tiempo. ¡Qué decir, pues, de alguien a quien vemos por primera vez en nuestra vida! De ahí que cada encuentro con el Otro sea un enigma, una incógnita, más aún: es un misterio.
Sin embargo, antes de que se produzca ese encuentro, nosotros, los reporteros, solemos estar preparados de una manera u otra. Las más de las veces, a través de la lectura (sobre todo en tiempos en los que todavía no había televisión). En el fondo, toda la literatura universal está dedicada al Otro: desde los Upanishads pasando por el I Ching y por Chuang Tzu; desde Homero y Hesíodo pasando por el Gilgamesh y el Antiguo Testamento; desde el Popol Vuh hasta la Torá y el Corán. ¿Y los grandes viajeros de la Edad Media que partían con rumbo a los confines del planeta para encontrar al Otro, tales como Giovanni Carpine e Ibn Batuta, Marco Polo, Ibn Jaldún y Chen Chun? En algunas mentes jóvenes, aquellas lecturas despertaban el deseo de llegar a los lugares más recónditos del mundo a fin de encontrar y conocer al Otro. Se trataba de la típica ilusión espacial: la convicción de que lo lejano era diferente, y cuanto más remoto, más diferente todavía.
He dicho "en algunas mentes" porque la pasión viajera no se da con tanta frecuencia como se suele pensar. Por naturaleza, el hombre es un ser sedentario, rasgo que se acentuó en él muy particularmente a partir de la invención de la agricultura y del arte de construir ciudades. Por lo general, no abandona su casa si no está forzado a hacerlo, expulsado ya por la guerra o la hambruna, ya por la peste, la sequía o el fuego. A veces se marcha a causa de sus ideas, a veces para buscar trabajo o un futuro mejor para sus hijos. En mucha gente, el espacio crea estados de inquietud, de miedo ante lo inesperado e, incluso, ante la muerte. No hay cultura que no conozca toda una serie de conjuros y signos mágicos que han de proteger al que parte de viaje, quien, además, es despedido con lamentos y sollozos, como si estuviera a punto de subir al cadalso.
Al hablar de viaje, por supuesto no tengo en mente una aventura turística. A nuestro entender de reporteros, el viaje significa desafío y esfuerzo, cansancio y sacrificio, cometido difícil y proyecto ambicioso. Cuando recorremos el mundo, sentimos que ocurren cosas importantes, que estamos inmersos en algo de lo que somos parte y testigo a la vez, que tenemos una obligación que cumplir y una responsabilidad que asumir. ¿Y de qué somos responsables? Del camino. Al enfilar uno, a menudo tenemos la certidumbre de que lo hacemos por primera y última vez en la vida, que nunca más volveremos a pisarlo, y por eso mismo no podemos descuidar nada, no podemos perder o pasar por alto un solo detalle, pues de todo lo vivido tendremos que dar cuenta en nuestros ulteriores escritos, crónicas y relatos; en definitiva, vamos a hacer nuestro propio examen de conciencia. Por eso, mientras viajamos estamos concentrados, nos fijamos en todo y aguzamos el oído. El camino resulta tan importante porque cada paso que en él damos nos conduce al encuentro con el Otro: si no, ¿por qué lo enfilaríamos? Si no fuera así, ¿acaso nos expondríamos voluntariamente a dificultades y riesgos, a ese sinfín de incomodidades y peligros que acechan por todas partes?
Pero no solo el viaje como forma de vida libremente elegida es infrecuente. También lo es la curiosidad por el mundo. La mayoría de la gente no la tiene. La historia conoce civilizaciones que jamás mostraron interés por el mundo exterior. África nunca construyó una nave con la que descubrir lo que había más allá de los mares que la bañaban. Sus gentes ni tan siquiera intentaron llegar a la vecina Europa. Más lejos aún fue la civilización china: pura y simplemente se separó del resto del mundo con una gran muralla. (Es cierto que no actuaban del mismo modo los imperios montados a caballo: los persas, los árabes, los mongoles... Pero su objetivo no era conocer el mundo sino conquistarlo, tomarlo por las armas y esclavizarlo. En cualquier caso, los períodos de su auge y expansión fueron relativamente breves; desmoronados, todos acabaron cubiertos por las arenas para siempre.)
En ese desfile de civilizaciones, Europa será una excepción, pues es la única que desde sus mismos comienzos griegos muestra una gran curiosidad por el mundo y un deseo no solo de conquistarlo y dominarlo sino también de conocerlo. Y en el caso de sus mentes más preclaras, única y exclusivamente de conocerlo. Y comprenderlo.
Acercarse a otras gentes con el fin de crear una sola comunidad humana. Será allí donde se manifestarán con toda nitidez, su dramatismo y su complejidad nuestras relaciones con otros habitantes del planeta: los Otros. Estas relaciones tienen una larga historia, que, en la literatura, empieza con la monumental obra de Heródoto. El griego, que vivió y escribió hace dos mil quinientos años, nos muestra que ya entonces el mundo que le era accesible estaba habitado por numerosas comunidades formadas y maduras, cada una con su propia y desarrollada cultura y un fuerte sentido de identidad; en una palabra, aquel primer europeo, griego para ser exactos, aunque llamaba al no griego bárbaro, o sea, alguien que balbucía cosas incomprensibles, era consciente de que ese Otro, pese a todo, era alguien. Heródoto escribe sobre los Otros sin desdén y sin odio, intenta conocerlos y comprenderlos, más aún, a menudo demuestra que en muchos sentidos superan a los griegos.
Consciente de la naturaleza sedentaria del hombre, Heródoto sabe que para conocer a los Otros hay que ponerse en camino, ir a buscarlos, llegar hasta ellos, salir a su encuentro; por eso no para de viajar: visita a egipcios y a escitas, a persas y a lidios, y guarda en la memoria todo lo que le dicen y también lo que él mismo ve con sus propios ojos. Resumiendo: anhela conocer a los Otros porque comprende que el hombre lo necesita para conocerse a sí mismo, pues no son sino Ellos ese espejo en el que nos reflejamos; sabe que solo así podemos compararnos, medirnos, confrontarnos... ...l, ciudadano del mundo, se muestra contrario a aislarse de los Otros, así como a cerrarles la puerta. La xenofobia, parece decir, es una enfermedad de sujetos miedosos y con complejo de inferioridad que tiemblan ante la perspectiva de verse obligados a reflejarse en el espejo de una cultura ajena. Cada uno de sus Nueve libros de la historia no es sino una contumaz y concienzuda labor de fabricación de espejos en los que, sobre todo, podemos contemplar -y comprender- a Grecia y a los griegos.
Más adelante, sin embargo, los encuentros de los europeos con los no europeos adquirirán otro carácter, a menudo violento, sanguinario, atroz. De todos modos, esas cosas habían sucedido antes de Heródoto -en la guerra entre Grecia y Persia-, lo mismo que después: en la época de las campañas de Alejandro Magno, en los años de la expansión del imperio romano, en las cruzadas, durante la conquista española, etc., etc. Reparemos de pasada en el hecho de que nuestra manera de pensar es hasta tal punto eurocéntrica -tal el caso, también, de la mayoría de nuestros historiadores- que cada vez que escribimos o hablamos de las relaciones con el Otro, por ejemplo, de un conflicto con ese Otro, asumimos sin verbalizarlo que se trata de un conflicto entre europeos y los que no lo son, pese a que enfrentamientos y guerras del mismo cuño se han cobrado un océano de víctimas en la propia familia no europea, en cuyo seno los mongoles habían combatido a los chinos, los aztecas a las tribus vecinas, los musulmanes a los hinduistas, etc.
En una palabra, el choque de civilizaciones no es una invención moderna, pues ha acompañado a la humanidad a lo largo de toda su historia. Sin embargo, hay que tener presente que el conflicto, el choque, no es más que una forma -y no necesariamente inevitable- de contacto entre civilizaciones. La otra, que se da incluso con más frecuencia, consiste en el intercambio, que a menudo se produce al mismo tiempo y en el mismo marco que el choque. Un ejemplo: a principios de los noventa estuve en Liberia, que en aquellos momentos era escenario de una guerra civil. Con un destacamento del ejército gubernamental, fui al frente. Marcaba su línea un río cuyas márgenes unía un puente junto al cual, en la orilla controlada por el gobierno, había un mercado. En la otra orilla, tomada por los rebeldes de Charles Taylor, no había nada; era un erial. Hasta el mediodía, aquel frente estallaba en el tableteo de los fusiles y el estruendo de los morteros. Por la tarde se instalaba la paz: los rebeldes cruzaban el puente para hacer compras en el mercado. Depositaban sus armas en manos de una patrulla gubernamental, la cual se las devolvía cuando regresaban a sus posiciones con la compra. Y así un mismo lugar albergaba un conflicto terrible, sangriento, y un intercambio de mercancías y otros bienes. El Otro, pues, puede ser visto como enemigo y a la vez como cliente. Son las circunstancias, la situación y el contexto los que deciden si en un determinado momento vemos en una persona al contrincante o al amigo; ese Otro puede ser lo primero y lo segundo, y en esto consiste su cambiante e inasible naturaleza y sus maneras de actuar contradictorias cuyos motivos a menudo ni él mismo es capaz de comprender.
adnKAPUSCINSKI
Periodista polaco, cubrió y narró los grandes acontecimientos del siglo XX en libros que hacen de la crónica un verdadero género literario. Su lúcida mirada incluía en ellos la vida cotidiana de los seres anónimos. Murió en enero último, a los 74 años
Por Ryszard Kapuscinski
Traducción: Agata Orzeszek
Excerto de " Encontro com o outro ", publicado no jornal La Nacion.
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