Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

" Devo acrescentar que acredito pouco nas leis. Demasiado duras, são transgredidas com razão. Demasiado complicadas, o engenho humano encontra facilmente maneira de se escapar por entre as malhas dessa nassa monótona e frágil. O respeito pelas leis antigas corresponde ao que tem de mais profundo a piedade humana; serve também de almofada à inércia dos juízes. As mais velhas participam daquela selvageria que se empenhavam em corrigir; as mais veneráveis são um produto da força. A maior parte das nossas leis penais só atinge, talvez felizmente, uma pequena parte dos culpados; as nossas leis civis nunca serão bastante maleáveis para se adaptar à imensa e fluída variedade dos factos. Mudam menos rapidamente que os costumes; perigosas quando eles as ultrapassam, são-no ainda mais quando pretendem precedê-los."


Excerto de " Memórias de Adriano ", de Marguerite Yourcenar, Trd. Maria Lamas, Ed. Ulisseia

Led Zeppelin- "Good Times Bad Times"

Não acreditem neles*

" Esta crise não se percebe com a declaração (deleitada) do fracasso do "neolibelarismo" (quem sabe o que é precisamente o "neolibelarismo" (quem sabe o que é precisamente o "neoliberalismo"?), nem com vociferações, que já se tornam ridículas, sobre a irresponsabilidade e a "ganância" de Wall Street, da City e outros lugares de perdição. Talvez seja bom começar pelo que, de facto, aconteceu. A crise foi revelada pelo problema do subprime na América, ou seja, pelo excessivo crédito de risco à habitação, sem qualquer forma de garantia ou expectativa racional de pagamento. Mas não veio exclusivamente daí, nem por si mesmo o subprime explica o resto da história. O facto é que todo o crédito cresceu sem lógica ou limite, até ao ponto em que desde o Estado americano à grande banca (comercial ou de investimento) e a uma qualquer companhia de seguros pouco ilustre, o mundo inteiro ficou endividado.
Isto quer dizer duas coisas. Em primeiro lugar, que centenas de milhões de pessoas, na América, na Ásia e na Europa, se habituaram a viver para lá dos meios que tinham ou que podiam ter, pelo artifício simples de gastar o dinheiro que não era deles. E, em segundo lugar, que isto se passou com a cumplicidade e colaboração do Estado ( Estados, na verdade ), de instituições financeiras e de organismos reguladores de carácter nacional ou internacional. Aqui, por exemplo, há anos que se fala no endividamento da banca. Só que, tirando um ocasional "velho do Restelo" suficientemente ingénuo para ir à televisão arrancar os cabelos, não se fez nada.

A animosidade crescente contra os responsáveis pela catástrofe é, em parte, merecida. O cidadão comum não compreende a justiça subjacente ao caso. Quem rouba um automóvel ou uma bicicleta ( um delito certamente menor) marcha direitinho para a cadeia. Quem cria uma desordem financeira, sem precedente histórico, e contribui para o sofrimento de milhões, continua no gozo da sua importância e dos seus proventos. Sucede que as finanças são uma disciplina abstracta e, pior ainda, "irreal". Quem especula em Wall Street, na City, em Madrid ou Lisboa não vê a "realidade" arrumada e matemática, que obedece às suas próprias leis. E, quando essa 2realidade" se impõe como universal e única, o fim está próximo. Principalmente, se por oportunismo os políticos também perdem a cabeça e decidem acreditar na tribo da economia e dos "negócios".


* Crónica de Vasco Pulido Valente, Público de 10/10/2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Músicas eternas: Baba O'Riley




The Who -" Baba O'Riley "

Terry Riley - "A Rainbow in a curved air "(1969)

Ver aqui na Wikipédia.

As minhas BDs: Almanaque do Mundo de Aventuras(1983)


A minha discoteca: " Goodbye and hello " - Tim Buckley(vinyl)




Goodbye and hello

Parte da vida*

" É uma velha história sufi. Um homem atravessava, uma tarde, a praça do mercado quando alguém lhe puxou pela manga. « Eu sou a Morte », disse a figura. « Vim para te avisar que temos encontro marcado às seis da manhã. » O homem ficou muito assustado, mas pensou que poderia fazer bom uso da informação adiantada. Vendeu o que tinha rapidamente, comprou os três melhores e mais rápidos cavalos que havia na cidade e lançou-se através do deserto em direcção a uma cidade distante, onde tinha a esperança que a Morte não conseguisse encontrá-lo.
Cavalgou toda a noite, como o vento, esgotando cavalo após cavalo, até que, aproximando-se as seis horas da manhã, chegou a um pequeno oásis, onde desmontou para beber água antes de continuar a viagem. Quando se encaminhava para o poço, uma figura silenciosa que estava ao lado deste olhou o relógio e levantou-se, dizendo: « Curioso. Eu ia jurar que o senhor não conseguiria chegar a horas! »
Não vale a pena fugir. Nem, pelo contrário, procurá-la. Ela tem a sua hora e é pontual.
Na última das análises, é a nossa concepção da morte que decide todas as respostas às perguntas que a vida nos faz.
Conscientes do nosso fim, tudo passa a ter sentido numa vida tão curta. Com o sentido, vem a necessidade de lhe desvendar o segredo e a descoberta só pode ser feita quando se chega ao coração. É preciso, nessa altura, abrir de par em par o coração ao corpo da vida. É assim que se cresce e é possível ter paz.
« A vida e a morte são uma só, tal como o rio e o mar são um só. » Khalil Gibran sabia do que falava. "

* Crónica de Victor Cunha Rego,publicada no DN em 20/01/95, e incluída no livro " Os dias de amanhã ".

Redescoberta de Alberto Korda em Havana


Ler aqui sobre exposição a decorrer em Havana. El País Online, de 09/10/2008.

A minha discoteca: " Strange Days " - The Doors(vinyl)



your lost little girl

My eyes have seen you

Jacques Brel - " Les Timides "

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Maria Rita





Duo Ouro Negro -" Maria Rita "

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Gestão do desconhecido

" Outward Bound " de Norman Rockwell


«El modelo de saber que hasta ahora hemos manejado era ingenuamente acumulativo; se suponía que el nuevo saber se añade al anterior sin problematizarlo, haciendo así que retroceda progresivamente el espacio de lo desconocido y aumentando la calculabilidad del mundo. Pero esto ya no es así. De manera que este no-saber no es un problema de falta provisional de información, sino que, con el avance del conocimiento y precisamente en virtud de ese crecimiento aumenta de manera más que proporcional el no-saber (acerca de las consecuencias, alcances, límites y fiabilidad del saber). Si en otras épocas los métodos dominantes para combatir la ignorancia consistían en eliminarla, los planteamientos actuales asumen que hay una dimensión irreductible en la ignorancia, por lo que debemos entenderla, tolerarla e incluso servirnos de ella y considerarla un recurso. La sociedad del conocimiento se puede caracterizar precisamente como una sociedad que ha de aprender a gestionar ese desconocimiento.»
El retorno de la incertidumbre por Daniel Innerarity( es profesor de Filosofía en la Universidad de Zaragoza y autor de El nuevo espacio público) El País Online, 07/10/2008

Incêndio

Se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes


são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te


diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão


Incêndio, de Al Berto

A alma é uma porta aberta...



" Air on a G-String ", suite para orquestra nrº 3, de J.S.Bach, arranjada e interpretada por Per-Olov Kindgren.

Big Joe Williams - "Baby Please Don't Go"(1963)

O meu cartão da FNAC


A minha discoteca: " Songs from a room " - Leonard Cohen(vinyl)




The Partisan

The Old Revolution

Ver aqui na Wikipédia.

A minha discoteca: " The Bends " - Radiohead (CD)




Street spirit

Just

Ver aqui na Wikipédia.
«Um pai financeiramente desesperado matou cinco membros da sua família suicidando-se depois, disse a polícia de Los Angeles, Estados Unidos da América» Sol Online,07/10/2008


domingo, 5 de outubro de 2008

Penguin Cafe Orchestra -" Music For A Found Harmonium "

Ao vivo na BBC em 1989

O mistério do amor


" Andamos nesta vida a tentar decifrar o mistério de sermos, de termos nascido e sabermos que vamos morrer, o que é isto, de onde é que viemos, para onde é que vamos, como no princípio dos tempos. Há um outro mistério que o ilumina e que se chama amor. Redentor, revigorador, regenerador, perversor. O amor acontece-nos, não se fabrica. Toda a luz do mundo incide sobre um única pessoa e a luz de que nós precisamos, para iluminar o nosso caminho, derrama-se dessa pessoa para nós. O que é isto de elegermos ou sermos eleitas por?
O que o amor desencadeia dentro é a única forma de nos aproximarmos da divindade. É a desordem de esquemas e normas, e é a única alavanca para ordenarmos o caminho. Tudo o que é normativo é condicionante e a minha religião, o islão, o judaísmo - as religiões do Livro - são muito penalizadores das mulheres. Porque a origem do mundo está em nós, está no nosso corpo. "

Ilustração de Honoré Daumier e excerto de crónica " Eles são o outro ", de Ana Sousa Dias, Pública de 05/10/2008

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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