Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com
sábado, 21 de novembro de 2009
Premonição?
« Quando está a viver o fim de uma ilusão política, a sociedade não tolera uma agonia lenta e dolorosa, como nas doenças terminais. Vai procurar uma resolução antes de a decadência gerar a desordem e a violência, com cada um a procurar sobreviver, com os meios e os métodos que tiver ao seu alcance. A sociedade vai procurar a vítima expiatória, aquele que tem de ser sacrificado para poder ficar como o culpado de tudo, libertando a sociedade das suas responsabilidades no logro, e abrindo o vazio no palco do poder para que tudo possa recomeçar. A vítima expiatória é o que revela o mal, tornando evidente a impossibilidade de governar, mas é o que abre o caminho para o bem, ao aceitar ser o culpado do mal. Poderia ter sido Santana Lopes, mas nem sequer se apercebeu da impossibilidade de governar, não servia para expiar as culpas colectivas. Será José Sócrates, como deve ser. É quem empenhou a honra na defesa de uma ilusão que melhor ilustrará a impossibilidade de governar nessa ilusão. É por ele que o real vai emergir.»
Excerto da crónica " A procura da vítima expiatória ", de Joaquim Aguiar, publicada na revista Atlântico Nrº 3, de 26/05/2005
Excerto da crónica " A procura da vítima expiatória ", de Joaquim Aguiar, publicada na revista Atlântico Nrº 3, de 26/05/2005
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Palavras levadas pelo vento
Avenida de França, Porto, 19/11/2009
Frases sopradas pelo vento:
- Agora tens que tratar dos papéis para o desemprego!
Uns passos mais à frente,
- Não te chega a experiência de 6 anos que tiveste com o outro?!
Frases sopradas pelo vento:
- Agora tens que tratar dos papéis para o desemprego!
Uns passos mais à frente,
- Não te chega a experiência de 6 anos que tiveste com o outro?!
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
A confissão de Vara
« Pois foi este o processo que eu segui. Meti ombros à empresa de subjugar a ficção dinheiro, enriquecendo. Consegui. Levou um certo tempo, porque a luta foi grande, mas consegui. Escuso de lhe contar o que foi e o que tem sido a minha vida comercial e bancária. Podia ser interessante, em certos pontos sobretudo, mas já não pertence ao assunto. Trabalhei, lutei, ganhei dinheiro; trabalhei mais, lutei mais, ganhei mais dinheiro; ganhei muito dinheiro por fim. Não olhei a processos - confesso-lhe, meu amigo, que não olhei a processos; empreguei tudo quanto há - açambarcamento, o sofisma financeiro, a própria concorrência desleal. O quê?! Eu combatia as ficções sociais, imorais e antinaturais por excelência, e havia de olhar a processos?! Eu trabalhava pela liberdade, e havia de olhar às armas com que combatia a tirania?!»
Excerto de " O Banqueiro Anarquista ", de Fernando Pessoa
Excerto de " O Banqueiro Anarquista ", de Fernando Pessoa
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domingo, 15 de novembro de 2009
O homem que gostava de peixe*
«O que terá levado estes homens, acusados de actos ilícitos e de conspirações para fins eticamente reprováveis, a encontrarem-se aqui e não noutros locais? O ambiente? A possibilidade de passarem despercebidos? A proximidade dos seus locais de trabalho (nunca eram jantares, só almoços)? A facilidade de acesso? A qualidade do serviço? A comida? O preço? O acaso?
» ler aqui artigo completo.
* reportagem de Luís Francisco, ilustração de João Fazenda, P2(Público) de 15/11/2009
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...
« - Não há microfones pois não tem a certeza que não há microfones escondidos?
e o que eu escutava ao servir-lhes refrescos eram tosses e pigarros, e o que eu via ao entregar-lhes os copos eram pobres velhotes inofensivos, em camisa, desidratados, à beira da síncope, enxugando-se com o lenço, à procura de bobines e de gravadores nos saquinhos de sementes e na terra dos vasos, militares que prometiam regimentos façanhudos e colegas que profetizavam aldeias inteiras desembarcando de autocarro em São Bento, abades cabeludos aos berros nos púlpitos de Trás-os-Montes, você vai ver isto é facílimo acredite, a assembleia disposta a votar por unanimidade
por unanimidade afianço-lhe
o derrube do usurpador enquanto um cavalheiro centenário, a dormitar num banquinho de lona de nariz nas orquídeas, emergia de tempos a tempos do seu coma para exigir a espreguiçar-se num crocito sonâmbulo
- Não me vou daqui sem as Finanças não me vou daqui sem as Finanças
e até à noite, já sem se distinguirem nas trevas, distribuíram pastas, secretarias, embaixadas, comendas, direcções-gerais, esquartejando Portugal entre si como um borrego, com o velhote a insistir numa teimosia férrea
- Não me vou daqui sem as Finanças
partindo finalmente numa prudência de sussurros, com medo de aparelhos de escuta da polícia disfarçados nas guelras dos peixitos do lago, a esbarrarem no caramanchão e na capoeira enervando as galinhas, a picarem-se nos espinhos das rosas que boiavam no escuro, o senhor doutor para mim desiludíssimo
- Uma cambada de gágás Titina »
Excerto de " O Manual dos Inquisidores ", de António Lobo Antunes, Ed. Planeta DeAgostini, 2000
e o que eu escutava ao servir-lhes refrescos eram tosses e pigarros, e o que eu via ao entregar-lhes os copos eram pobres velhotes inofensivos, em camisa, desidratados, à beira da síncope, enxugando-se com o lenço, à procura de bobines e de gravadores nos saquinhos de sementes e na terra dos vasos, militares que prometiam regimentos façanhudos e colegas que profetizavam aldeias inteiras desembarcando de autocarro em São Bento, abades cabeludos aos berros nos púlpitos de Trás-os-Montes, você vai ver isto é facílimo acredite, a assembleia disposta a votar por unanimidade
por unanimidade afianço-lhe
o derrube do usurpador enquanto um cavalheiro centenário, a dormitar num banquinho de lona de nariz nas orquídeas, emergia de tempos a tempos do seu coma para exigir a espreguiçar-se num crocito sonâmbulo
- Não me vou daqui sem as Finanças não me vou daqui sem as Finanças
e até à noite, já sem se distinguirem nas trevas, distribuíram pastas, secretarias, embaixadas, comendas, direcções-gerais, esquartejando Portugal entre si como um borrego, com o velhote a insistir numa teimosia férrea
- Não me vou daqui sem as Finanças
partindo finalmente numa prudência de sussurros, com medo de aparelhos de escuta da polícia disfarçados nas guelras dos peixitos do lago, a esbarrarem no caramanchão e na capoeira enervando as galinhas, a picarem-se nos espinhos das rosas que boiavam no escuro, o senhor doutor para mim desiludíssimo
- Uma cambada de gágás Titina »
Excerto de " O Manual dos Inquisidores ", de António Lobo Antunes, Ed. Planeta DeAgostini, 2000
Leituras de domingo(5)
« Existiu uma ambivalência de sentimentos? Houve um momento em que percebeu que ele era desprezível e simultâneamente digno de amor?
Eu não amava o meu pai. Um homem que faz 15 filhos a uma mulher não é respeitável! Ele respeitava Franco, respeitava o nacional-catolicismo. Era respeitado pelo franquismo, pela igreja: Tudo isto me parecia irracional, animalesco. A partir de determinado momento, deixámos de discutir. Se tinha que o ajudar em algum aspecto, económico ou outro, ajudava-o, mas nunca teve o meu carinho nem o meu respeito.
Nem quando era pequena? Nunca foi para si o pai herói? O pai-Deus, bom, grande, omnisciente, omnipotente.
Nunca tive essa ideia. Pergunto-me como é possível que haja mulheres que continuam a sentir fascinação pela figura do pai. É a figura do impositor, do guerreiro, o depositário da autoridade divina e social. Eu rebelo-me contra isso, geneticamente e ideologicamente.»
« Como é que tem assistido à polémica que envolve " Caim "?
Estes colunistas de merda, tão jovens, submissos, obsoletos, em vez de pensarem: "Um tipo com 86 anos que enfrenta Deus, que enfrenta a sociedade... Que sorte ter um homem com esta capacidade de rebeldia!", perguntam: "Quem é? Quem escreve? Não gosto!" Estou indignada de ver o pouco livre que são os jovens, o quão convencionais são, o quão cansados estão. Estão assustados porque José tocou num livro sagrado. Mas quem disse que o livro é sagrado? Que mentes tão pequenas julgam a obra pública. Não conseguem ver a grandeza nem de uma ponte nem de um ser humano. Têm uns óculos que lhes deve dar para verem o tamanho do seu pénis... pequenino.»
Excertos de entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Pilar del Río, publicada na Pública de 15/11/2009
Eu não amava o meu pai. Um homem que faz 15 filhos a uma mulher não é respeitável! Ele respeitava Franco, respeitava o nacional-catolicismo. Era respeitado pelo franquismo, pela igreja: Tudo isto me parecia irracional, animalesco. A partir de determinado momento, deixámos de discutir. Se tinha que o ajudar em algum aspecto, económico ou outro, ajudava-o, mas nunca teve o meu carinho nem o meu respeito.
Nem quando era pequena? Nunca foi para si o pai herói? O pai-Deus, bom, grande, omnisciente, omnipotente.
Nunca tive essa ideia. Pergunto-me como é possível que haja mulheres que continuam a sentir fascinação pela figura do pai. É a figura do impositor, do guerreiro, o depositário da autoridade divina e social. Eu rebelo-me contra isso, geneticamente e ideologicamente.»
« Como é que tem assistido à polémica que envolve " Caim "?
Estes colunistas de merda, tão jovens, submissos, obsoletos, em vez de pensarem: "Um tipo com 86 anos que enfrenta Deus, que enfrenta a sociedade... Que sorte ter um homem com esta capacidade de rebeldia!", perguntam: "Quem é? Quem escreve? Não gosto!" Estou indignada de ver o pouco livre que são os jovens, o quão convencionais são, o quão cansados estão. Estão assustados porque José tocou num livro sagrado. Mas quem disse que o livro é sagrado? Que mentes tão pequenas julgam a obra pública. Não conseguem ver a grandeza nem de uma ponte nem de um ser humano. Têm uns óculos que lhes deve dar para verem o tamanho do seu pénis... pequenino.»
Excertos de entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Pilar del Río, publicada na Pública de 15/11/2009
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