Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Sobre a vitória de Barack Obama
Foi uma extraordinária vitória. Só por isso, o dia será recordado. O novo Presidente dos Estados Unidos foi eleito num clima excepcional. Internamente, mas sobretudo internacionalmente.O mundo inteiro, ou quase, deposita nele enormes esperanças. Ilimitadas, mesmo. É talvez o Presidente americano eleito com maior expectativa favorável no mundo inteiro. Espera-se dele que resolva as questões do Iraque, do Irão, do Afeganistão e do Paquistão. Do terrorismo internacional. Do Próximo Oriente. De grande parte de África. Do comércio internacional. De defesa da Europa e do Atlântico. Das relações difíceis com a Rússia. De proliferação das armas atómicas. De controlo da degradação do ambiente. De regulação das actividades financeiras internacionais. De controlo da especulação capitalista. Do aparente declínio da América. E de problemas internos urgentes: a saúde pública, a pobreza, as relações raciais e a crise da educação.Certo é que ele não vai resolver nem uma grande parte deste cardápio assustador. O exagero de expectativas traz sempre um excesso de desilusões. O mais provável é que, dentro de meses, estas últimas comecem a exprimir-se. Mas a verdade é que as expectativas positivas podem ter algo de uma profecia que se realiza a si própria. Por isso foi bom que Obama tenha ganho. O clima geral, nos EUA e no mundo, é favorável à sua presidência e ao seu papel. É possível que a sua simples eleição, por causa deste clima, seja um trunfo para ir resolvendo alguns daqueles problemas. A eleição do seu rival e a persistência do fantasma de Bush teriam sido desastrosas. Prosseguir o deslizamento político, moral e financeiro nos abismos para que a Administração Bush empurrou a América teria sido catastrófico.Ser negro não lhe dá nenhuma vantagem política, intelectual ou moral. Mas o facto de o ser, pelo que significa para a sociedade americana, deu-lhe trunfos valiosos. E esse é um feito, não dele, mas dos Estados Unidos. Que outro país, da Europa, de África ou da Ásia será capaz de eleger presidente um membro de uma minoria étnica? Nesse facto reside talvez esta monumental coligação de simpatizantes através do mundo. Os que são minorias ou como tal são tratados, seja por razões religiosas, étnicas, sexuais ou nacionais, reconhecem-se facilmente nele. Muitos dos amigos da América vêem-se hoje ao lado dos europeus antiamericanos, que são multidão. Esquerda e direita, por esse mundo fora, preferem Obama. Estas coligações são pouco saudáveis. Mas permitem respirar, descomprimir e, espera-se, pensar. Assim como falar com todos. O que talvez seja a fundação de uma nova autoridade. Imprescindível por todas as razões e mais uma: a de poder contrariar o excesso de ilusões.
António Barreto, Público Online, 06/11/2008
Tradução do discurso de Barack Obama em Chicago, Público Online, 05/11/2008
José Saramago, no blogue O Caderno de Saramago, 05/11/2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
A minha discoteca: " Foreves changes " - Love(CD)
Alone Again Or
Maybe the People Would Be the Times or Between Clark and Hilldale
Ver aqui na Wikipédia.
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Época da Paixão
Pintura " Bad Boy ", de Eric Fischi
«En las calles más céntricas y en las fachadas de muchos grandes almacenes ya han colgado las luces de Navidad. En cuatro días las encenderán y nos recordarán que tenemos que ser buenos los unos con los otros y que debemos dejarnos penetrar (no necesariamente de manera textual) por el Amor. Así, en mayúsculas. Entre esto y que ya llevamos unos posts muy genitales, hoy he pensado que estaría bien intentar entender cómo funcionan las cosas del querer, como decía la copla. La lógica no siempre impera en nuestras relaciones sexuales y afectivas. Eso lo sabemos todos, sobre todo si rememoramos ciertos episodios de nuestro pasado particular. Vamos, la típica noche tonta que termina con campanas de boda. O el por qué no sabré decir que no… Sin embargo, a pesar de todos los condicionantes internos y externos de cada uno de nosotros, una cosa está clara: el amor es pura química. Además, fabricada por nuestro cerebro.»
Amor, sexo y química, Cama Redonda por Josep Tomás, El Mundo Online, 05/11/2008
«En las calles más céntricas y en las fachadas de muchos grandes almacenes ya han colgado las luces de Navidad. En cuatro días las encenderán y nos recordarán que tenemos que ser buenos los unos con los otros y que debemos dejarnos penetrar (no necesariamente de manera textual) por el Amor. Así, en mayúsculas. Entre esto y que ya llevamos unos posts muy genitales, hoy he pensado que estaría bien intentar entender cómo funcionan las cosas del querer, como decía la copla. La lógica no siempre impera en nuestras relaciones sexuales y afectivas. Eso lo sabemos todos, sobre todo si rememoramos ciertos episodios de nuestro pasado particular. Vamos, la típica noche tonta que termina con campanas de boda. O el por qué no sabré decir que no… Sin embargo, a pesar de todos los condicionantes internos y externos de cada uno de nosotros, una cosa está clara: el amor es pura química. Además, fabricada por nuestro cerebro.»
Amor, sexo y química, Cama Redonda por Josep Tomás, El Mundo Online, 05/11/2008
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terça-feira, 4 de novembro de 2008
O processo de emancipação dos negros está a chegar ao último patamar: O Poder Democrático
Obama conversa com a mulher após terem votado numa escola perto de Chicago. O candidato democrata, acompanhado pelas filhas, demorou cerca de 10 minutos a votar o que parece indicar que o sistema electrónico de voto não é o mais simples. ©AP Sol Online,04/11/2008
" A lei e, em parte, a opinião pública apressam-se a proclamar que não existe nenhuma inferioridade natural e permanente entre o criado e o senhor. Mas esta nova fé ainda não penetrou profundamente no espírito deste último, ou melhor, o seu coração ainda a rejeita. No fundo da sua alma, o senhor ainda julga pertencer a uma espécie particular e superior, mas não ousa dizê-lo e, incomodado, deixa-se relegar para o nível proposto. A sua autoridade torna-se simultaneamente tímida e dura; já não sente pelos seus criados os sentimentos protectores e benevolentes que resultam do exercício de um longo poder incontestado e espanta-se que, tendo ele próprio mudado, o mesmo tenha ocorrido ao seu criado. Desejaria que este, mais não fazendo do que passar, por assim dizer, pela condição doméstica, adquirisse aí hábitos regulares e permanentes, se mostrasse satisfeito e orgulhoso com uma posição servil que mais cedo ou mais tarde abandonará, se dedicasse a um homem que não pode nem protegê-lo nem perdê-lo, e que, finalmente, se estabelecesse uma ligação perpétua com seres que se lhe assemelham e que não duram mais tempo do que ele."
Excerto do capítulo " Relações entre o Criado e o Senhor ", do livro " Da Democracia na América "(1835-1840), de Alexis de Tocqueville, Trd. João Carlos Espada, Ed. Principia
" A lei e, em parte, a opinião pública apressam-se a proclamar que não existe nenhuma inferioridade natural e permanente entre o criado e o senhor. Mas esta nova fé ainda não penetrou profundamente no espírito deste último, ou melhor, o seu coração ainda a rejeita. No fundo da sua alma, o senhor ainda julga pertencer a uma espécie particular e superior, mas não ousa dizê-lo e, incomodado, deixa-se relegar para o nível proposto. A sua autoridade torna-se simultaneamente tímida e dura; já não sente pelos seus criados os sentimentos protectores e benevolentes que resultam do exercício de um longo poder incontestado e espanta-se que, tendo ele próprio mudado, o mesmo tenha ocorrido ao seu criado. Desejaria que este, mais não fazendo do que passar, por assim dizer, pela condição doméstica, adquirisse aí hábitos regulares e permanentes, se mostrasse satisfeito e orgulhoso com uma posição servil que mais cedo ou mais tarde abandonará, se dedicasse a um homem que não pode nem protegê-lo nem perdê-lo, e que, finalmente, se estabelecesse uma ligação perpétua com seres que se lhe assemelham e que não duram mais tempo do que ele."
Excerto do capítulo " Relações entre o Criado e o Senhor ", do livro " Da Democracia na América "(1835-1840), de Alexis de Tocqueville, Trd. João Carlos Espada, Ed. Principia
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segunda-feira, 3 de novembro de 2008
O ponto do Capitalismo(1)
Triunfantes o capitalismo e a globalização, começaram os inevitáveis antagonismos causados tanto pela presença de um superimperialismo contraditório quanto pelo desabar do modelo regional asiático assentem, em grande parte, no crédito malparado e na mão-de-obra submissa.
Só a intervenção dos norte-americanos nos mercados evitou uma queda do iene que poderia atingir o sistema económico-financeiro mundial na véspera de Clinton ir a Pequim. No entanto, a fuga de capitais da Ásia ficou bem expressa nas bolsas europeias e norte-americanas.
Ao contrário do que foi moda acreditar, a grande aliança já não se vislumbra entre a América do Norte e o Pacífico e avança entre a América do Norte e a União Europeia.
Uma vez mais na História, a Ásia afunda-se perante o Ocidente. No entanto, desta vez, as dezenas de milhões de desocupados e a brutal crise económica num mundo globalizado vão provocar no continente asiático grandes e dramáticas mudanças políticas e sociais, com inevitáveis reflexos, a prazo, também no Ocidente.
A compra pelos americanos de alguns sectores mais rentáveis da economia asiática, principalmente na área financeira, não bastará para evitar esses reflexos.
O Novíssimo Império capitalista é a realidade inegável do fim deste século e sê-lo-á no início do próximo, tanto mais que o petróleo abunda e está pelo preço da chuva. Mas não há Novíssima Economia. Ela é a de sempre - muito parecida, agora, com a dos anos 20 segundo bom número de analistas...norte-americanos.
Crónica de Victor Cunha Rego, Diário de Notícias, 28/06/1998
Só a intervenção dos norte-americanos nos mercados evitou uma queda do iene que poderia atingir o sistema económico-financeiro mundial na véspera de Clinton ir a Pequim. No entanto, a fuga de capitais da Ásia ficou bem expressa nas bolsas europeias e norte-americanas.
Ao contrário do que foi moda acreditar, a grande aliança já não se vislumbra entre a América do Norte e o Pacífico e avança entre a América do Norte e a União Europeia.
Uma vez mais na História, a Ásia afunda-se perante o Ocidente. No entanto, desta vez, as dezenas de milhões de desocupados e a brutal crise económica num mundo globalizado vão provocar no continente asiático grandes e dramáticas mudanças políticas e sociais, com inevitáveis reflexos, a prazo, também no Ocidente.
A compra pelos americanos de alguns sectores mais rentáveis da economia asiática, principalmente na área financeira, não bastará para evitar esses reflexos.
O Novíssimo Império capitalista é a realidade inegável do fim deste século e sê-lo-á no início do próximo, tanto mais que o petróleo abunda e está pelo preço da chuva. Mas não há Novíssima Economia. Ela é a de sempre - muito parecida, agora, com a dos anos 20 segundo bom número de analistas...norte-americanos.
Crónica de Victor Cunha Rego, Diário de Notícias, 28/06/1998
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O ponto do Capitalismo(2)
" O capitalismo ganhou em toda a linha pela primeira vez na História. Só os cegos não vêem que esta foi a maior questão do século XX.
Quer dizer: a «libertação» dos preços no mercado e a «liberdade» da propriedade dos meios de produção associam-se aos chamados direitos do homem e partiram para a globalização das nossas vidas.
Ironia das ironias. Essa situação de hegemonia, ou até monopólio, é absolutamente contrária à natureza desse mesmo capitalismo, cujo primeiro fundamento - o mercado - é o da concorrência. É exactamente por não existir essa concorrência na práctica do seu poder triunfante que ele nos obriga ao pensamento único - uma faca de dois gumes.
Bem podem os partidos ditos socialistas e sociais-democratas usar o unguento da solidariedade que nada pode afastá-los da farmacologia dos ultraliberais. A aceitação do modelo globalizante obriga-os a idêntica corrida à prosperidade dentro da maior ortodoxia financeira.
Pedir, por exemplo, ao Estado e ao Governo portugueses maior distância do empresariado seria pedir uma tarefa impossível porque é o capital - financeiro ou não - que hoje domina em toda a parte, como se pode ver nos balanços das grandes multinacionais e nos orçamentos de um vasto número de estados.
Renegados os sentimentos que lhes deram vida, esses estados e partidos não podem experimentar a paixão. Por isso buscam a excitação no desafio do sucesso sem perceberem, sequer, que o poder está a fugir-lhes das mãos.
Quer dizer: a «libertação» dos preços no mercado e a «liberdade» da propriedade dos meios de produção associam-se aos chamados direitos do homem e partiram para a globalização das nossas vidas.
Ironia das ironias. Essa situação de hegemonia, ou até monopólio, é absolutamente contrária à natureza desse mesmo capitalismo, cujo primeiro fundamento - o mercado - é o da concorrência. É exactamente por não existir essa concorrência na práctica do seu poder triunfante que ele nos obriga ao pensamento único - uma faca de dois gumes.
Bem podem os partidos ditos socialistas e sociais-democratas usar o unguento da solidariedade que nada pode afastá-los da farmacologia dos ultraliberais. A aceitação do modelo globalizante obriga-os a idêntica corrida à prosperidade dentro da maior ortodoxia financeira.
Pedir, por exemplo, ao Estado e ao Governo portugueses maior distância do empresariado seria pedir uma tarefa impossível porque é o capital - financeiro ou não - que hoje domina em toda a parte, como se pode ver nos balanços das grandes multinacionais e nos orçamentos de um vasto número de estados.
Renegados os sentimentos que lhes deram vida, esses estados e partidos não podem experimentar a paixão. Por isso buscam a excitação no desafio do sucesso sem perceberem, sequer, que o poder está a fugir-lhes das mãos.
Crónica " O ponto do Capitalismo ", de Victor Cunha Rego, publicada em 28/06/1998, no Diário de Notícias
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Ontem como hoje
" A queda, quinta-feira, do mago do hedging, John Meriwether, popularizado no bestseller de há uns anos " Liar´s Poker ", deixou Wall Street siderada. Poucos minutos depois de ter aparecido nos ecrãs da Reuters a notícia de que a UBS, o maior banco da Europa, tinha perdido mais de cem milhões de contos com o seu investimento no fundo especulativo gerido por Meriwether, viu-se o gráfico do Dow Jones - até então impulsionado pelas palavras da véspera de Greenspan sugerindo a possibilidade de um corte nas taxas de juro - começar a cair a pique. Na sexta-feira outros bancos enormes anunciaram prejuízos neste e noutros fundos e nas Bolsas mundiais aconteceu o que aconteceu.
Note-se que estas quedas se deram apesar de o fundo em questão não ter sido liquidado! De facto, as consequências de uma liquidação forçada ( a acrescer às que vêem sendo feitas desde meados de Julho) seriam tais que o FED, quebrando todos os seus princípios, evitou a falência e montou (forçou?) um sindicato bancário internacional que pôs quase setecentos milhões de contos de dinheiro fresco. A verdade é que não só os maiores bancos do mundo lá estavam investindo, como, a título pessoal, alguns dos presidentes desses bancos lá tinham as suas fortunas pessoais... Ninguém sabe a extensão do risco assumido (e vivo neste momento) , mas as estimativas mais conservadoras apontam para 17 ou 18 mil milhões de contos, ou seja, mais do que o PIB anual português. Que tais riscos, geridos, aliás, por um homem de grande prestígio profissional e por uma equipa de traders que inclui dois prémios Nobel e um vice-presidente do Federal Reserve, tenham podido ser assumidos sem supervisão oficial e sem que nenhum dos sofisticados intervenientes seja capaz de os medir ou até, talvez, de os compreender completamente, mostra a extensão da crise financeira que paira sobre nós. E explica que as autoridades bancárias americanas tenham feito exactamente o oposto do que tão arrogantemente aconselham os governantes de outros países a fazer! A realidade tem muita força."
Crónica " A realidade tem muita força ", de Leonardo Ferraz de Carvalho, 28/09/1998, publicada no jornal " Independente "
Note-se que estas quedas se deram apesar de o fundo em questão não ter sido liquidado! De facto, as consequências de uma liquidação forçada ( a acrescer às que vêem sendo feitas desde meados de Julho) seriam tais que o FED, quebrando todos os seus princípios, evitou a falência e montou (forçou?) um sindicato bancário internacional que pôs quase setecentos milhões de contos de dinheiro fresco. A verdade é que não só os maiores bancos do mundo lá estavam investindo, como, a título pessoal, alguns dos presidentes desses bancos lá tinham as suas fortunas pessoais... Ninguém sabe a extensão do risco assumido (e vivo neste momento) , mas as estimativas mais conservadoras apontam para 17 ou 18 mil milhões de contos, ou seja, mais do que o PIB anual português. Que tais riscos, geridos, aliás, por um homem de grande prestígio profissional e por uma equipa de traders que inclui dois prémios Nobel e um vice-presidente do Federal Reserve, tenham podido ser assumidos sem supervisão oficial e sem que nenhum dos sofisticados intervenientes seja capaz de os medir ou até, talvez, de os compreender completamente, mostra a extensão da crise financeira que paira sobre nós. E explica que as autoridades bancárias americanas tenham feito exactamente o oposto do que tão arrogantemente aconselham os governantes de outros países a fazer! A realidade tem muita força."
Crónica " A realidade tem muita força ", de Leonardo Ferraz de Carvalho, 28/09/1998, publicada no jornal " Independente "
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