Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sábado, 1 de agosto de 2009

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ilustração de Forges, El País

terça-feira, 28 de julho de 2009

domingo, 26 de julho de 2009

Michelangelo Pistolleto

Ver aqui site de Michelangelo Pistolleto.
«Nicholson tirou mais um cigarro, mas sem desviar os olhos de Teddy. «Como é que se sai das dimensões finitas? - perguntou, e soltou uma risadinha. - Quer dizer, para pôr as coisas em termos básicos, um bloco de madeira é um bloco de madeira, por exemplo. Tem cumprimento, largura...»
- Não tem. Aí é que se engana - disse Teddy. - Toda a gente pensa que as coisas acabam num ponto qualquer. Mas não. É isso que eu estava a tentar dizer ao Professor Peet. -Mexeu-se no assento e tirou do bolso a lástima de um lenço, uma coisa cinzenta, amarfanhada, e assoou-se. - As coisas só parecem acabar num ponto qualquer porque a maior parte das pessoas só sabe olhar para as coisas dessa maneira - disse ele. - Mas isso não quer dizer que acabem. - Guardou o lenço, e olhou para Nicholson. - Importa-se de levantar o braço um segundo, faz favor? - perguntou.
- O meu braço? Porquê?
- Levante-o. Só um segundo.
Nicholson levantou o braço uns centímetros acima do braço da cadeira. «Este?», perguntou.
Teddy fez que sim com a cabeça. « Que nome dá a isso? », perguntou.
- Como assim? É o meu braço. É um braço.
- Como sabe que é? - perguntou Teddy. - Sabe que lhe chamam um braço, mas como sabe o que é? Tem alguma prova de que é um braço?
Nicholson tirou um cigarro do maço e acendeu-o. « Francamente, isso tresanda a sofisma do pior - disse ele, soprando o fumo. - É um braço, co´s diabos, porque é um braço. Para já, tem de ter um nome para se distinguir de outros objectos. Quer dizer, não se pode simplesmente...»
- Está apenas a ser lógico - disse Teddy, impassível.
- Estou a ser apenas o quê? - perguntou Nicholson, com uma polidez um pouco exagerada.
- Lógico. Estou a tentar ajudá-lo. Perguntou-me como saio das dimensões finitas quando quero. Não é a lógica que eu uso , quando o faço. A lógica é a primeira coisa de que temos de nos desembaraçar.
Nicholson retirou da língua um fio de tabaco, com os dedos.
- Conhece o Adão? - perguntou Teddy.
- Se conheço quem?
- Adão. O da Bíblia.
Nicholson hesitou. « Pessoalmente não », disse ele cortante.
Teddy hesitou. « Não se zangue comigo - disse ele. - Fez-me uma pergunta e eu estou a...»
- Não estou zangado consigo, por amor de Deus.
-Ok - disse Teddy. Estava reclinado na cadeira, mas com a cabeça voltada para Nicholson. - Lembra-se daquela maçã que Adão comeu no Paraíso, como vem na Bíblia? - perguntou. - Sabe o que havia naquela maçã. Por isso, isto é o que eu acho, o que tem de fazer é vomitá-la se quiser ver as coisas como elas são realmente. Quer dizer, se vomitar a maçã, então já não tem mais problemas com blocos de madeira e assim. E fica a saber o que o seu braço é realmente, se estiver interessado. Está a ver o que eu quero dizer? Está a seguir o que eu digo?
- Estou a seguir, estou - disse Nicholson, um pouco seco.
- O problema - disse Teddy - é que a maior parte das pessoas não quer ver as coisas como elas são. Nem sequer querem deixar de estar sempre a nascer e a morrer. Querem sempre novos corpos, em vez de pararem e de ficarem com Deus, que é onde se está realmente bem. - Reflectiu uns instantes. - Nunca vi um tal bando de comedores de maçãs - disse ele. Abanou a cabeça.»

Excerto do conto " Teddy ", deJ.D.Salinger, incluído no livro " Nove contos ", Trd. José Lima, 2ª edição, p.182/183

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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