Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sábado, 12 de maio de 2007

A luz do Sol

" Olive tees with yellow sky and Sun "(1889) - Van Gogh



" O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa. "


Excerto do poema " O guardador de rebanhos/V " de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro

" O Salteador " - Robert Walser

" The dance of life "(1899/1900) - Munch

" É difícil manter uma atitude isenta de paixão, quando se faz uma crítica, quero dizer com isto que aquele que faz a crítica não deve sentir o espírito exaltado. Ter de se submeter a uma crítica tem algo em si que provoca uma grande satisfação, porque o criticado pode, muito facilmente, sentir-se lisonjeado, na medida em que se convence de que está a ser objecto da atenção de alguém, e isso é uma realidade. Para compreender isto, todavia, há que estar já um pouco familiarizado com regiões mais vastas do pensamento e que ter a capacidade de entender as conexões. Se começamos a falar seriamente, logo oito em cada dez pessoas se convencem de que nos estamos a despenhar encosta abaixo, por assim dizer, como se fosse um dado adquirido que só as pessoas alegres ocupariam o lugar de topo da inteligência, o que de modo nenhum é exacto. A alegria tem, na realidade, um grande merecimento, mas a alegria e a seriedade devem alternar uma com a outra de modo a que a seriedade conduza à alegria e a alegria conduza à seriedade, a delimite ou conduza perto dela. "
Excerto de " O salteador ", de Robert Walser, Trd. Leopoldina Almeida, Ed. Relógio d´Água

Repousar o olhar

Ios - Grécia

" Space Invaders " - Leonardo Pascoal


Clicar na imagem, para ampliar

Pintores Americanos do século XX

" Nighthawhs " (1942 ) - Edward Hooper
" Eve of St. John " (1960) - Peter Hurd


" El mundo de Cristina " - Andrew Wyeth

" Three studes for a crucifixion " - Francis Bacon





A exposição de Francis Bacon, em Serralves(2003) marcou-me profundamente, e as palavras de João Pereira Coutinho, dizem porquê:
" Francis Bacon é um pintor realista porque, em Bacon, a realidade não é idealização da ordem. A realidade é violenta, caótica e cruel. E por que motivo as suas figuras nos perturbam tanto ? A resposta é mais simples do que parece: porque as pessoas nos perturbam tanto. Porque, como Bacon diria, não ficamos indiferentes às » emanações » daqueles que nos rodeiam. Os nossos sentimentos são múltiplos, contraditórios, avessos a qualquer hierarquia. Amamos, desejamos, tememos, invejamos, odiamos - de uma só vez, perante uma só pessoa. Ao mesmo tempo, num mesmo tempo. Por isso « distorcemos » os outros: porque imprimimos nos outros aquilo que apenas nos pertence. Porque só podemos pintar os outros, pintando aquilo que os outros nos sugerem - aquilo que os outros significam para nós. Nesta, como noutras matérias, convém lembrar o velho Wilde. Todos acabamos por matar aquilo que amamos? Precisamente. "
Excerto da crónica " Francis Bacon "(31/01/2003), publicada no jornal "O Independente " e coligida no livro de crónicas " Vida Independente 1998-2003 ", Ed. O Independente,2004

" Sex and landscapes " - Helmut Newton


















" Sex and landscapes " - Helmut Newton



" Príncipe Valente " - Hal Foster



O Príncipe Valente, ajudou a construir a minha personalidade, faz parte da minha vida.


Ensaio de Eduardo Martinez-Pinna: aqui e aqui.

Dix & Céline


" Infelizmente não duraram muito, as aldeias... Ao fim de um mês, naquele cantão já nenhuma delas existia. Às florestas, a essas atiraram-lhes para cima com o canhão. Duraram pouco mais de oito dias. Dão também lindas fogueiras, as florestas, mas não vale a pena.
Por essa altura as colunas de artilharia ocuparam todas as estradas num sentido, enquanto que os civis, ao escaparem-se, o faziam no outro. Em suma, já não podíamos ir nem vir, tínhamos de ficar onde estávamos.
Fazia-se bicha para morrer. O próprio general já não encontrava acampamentos sem soldados. Acabávamos por nos deitar todos em pleno campo, generais ou não. Os que ainda tinham um resto de sentimento, perderam-no. Foi a partir desse mês que começaram a fuzilar soldados para lhes levantar o moral, por esquadras, e que a polícia militar passou a ser citada na ordem do dia pela maneira como fazia a sua própria guerrazinha, a mais profunda, a mais verdadeira de todas. "
Pintura de Otto Dix e excerto de " Viagem ao fim da noite " de Céline

Dix & Céline

Pintura de Otto Dix
" O estar enamorado duma Musyne tão gentil levave-me a crer que tal facto me fosse dotar de todos os poderes, e em primeiro lugar e acima de tudo da coragem que me faltava, tudo isto porque ela era muito bonita e tão belamente musical, a minha amiguinha. O amor é como o álcool: quanto mais nos tornamos impotentes e ébrios, mais nos sentimos fortes e brigões e muito senhores dos nossos direitos. "
Excerto de " Viagem ao fim da noite ", de Céline, Trd. Aníbal Fernandes, Ed. Circulo de Leitores

" Coisas do arco da velha " - Banda do Casaco


A Banda do Casaco, faz parte do nosso património musical. As suas músicas continuam a ter ,uma frescura e uma força fantásticas. Infelizmente, apesar das reedições, continuam no esquecimento.

Canto Do Amor E Do Trabalho
Ehehóhó arre burra!!!
Já lá vai o sol
Já lá vai o dia
Anda bonita !!!
Já me cheira a noite
Já se vê a aldeia
Eh ! bonita vai mais rédea
Ah ! como nos dói o corpo
A merenda é pouca
E o trabalho, o trabalho é duro
A mulher à espera
Já se fez noitinha
E a menina é já dormindo
Ai ! a nina está dormindo
O teu pai vem do trabalho
Meu amor vem da campina
Ao chegar o ventinho ao borralho
Ai ! não vá,
Ai não vá acordar a menina
Eiii ! arre burra é bonita vá embora
Ai o frio já aperta
Vai-se o verão
Vem o inverno
Arreda que vai doido !!!
Terra ladra
Terra farta
Terra que te quero bem
Eh! bonita vai mais rédea
Ah! já se vê a casa
Ai a ceia
No braseiro
Já lhe sinto o gosto
Já lhe sinto o cheiro
A mulher à espera
E a nina está dormindo
Ai a nina está dormindo
O teu pai vem do trabalho
Meu amor vem da campina
Ao chegar o ventinho ao borralho
Ai não vá
Ai não vá acordar a menina

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Eduardo Teixeira Coelho


Alexandre O´Neil

Sei os teus seios.
Sei-os de cor.

Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.

Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.

Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!

Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!

Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?

Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?

Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!

Quantos seios ficaram por amar?

Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!

Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!

Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...

Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.

Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...

Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!

Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...

O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"

Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!

Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.

Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!

Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!

"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos

"Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, p'la igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.

Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...

Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...

Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...

Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!

Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.

Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser

Alexandra Lencastre


Robert Frank


From The Americans, ©. Robert Frank

O amor

" O amor não sobrevive aos ritmos da nossa modernidade. O amor exige tempo e conhecimento. Exige, no fundo, o tempo e o conecimento que a vida moderna de hoje não permite e, mais, não tolera: se podemos satisfazer todas as nossas necessidades materiais com uma ida ao shoping do bairro, exigimos dos outros igual eficácia. Os seres humanos são apenas produtos que usamos ( ou recusamos) de acordo com as mais básicas conveniências. Procuramos continuamente e desesperamos continuamente porque confundimos o efémero com o permanente, o material com o espiritual. A nossa frustação em encontrar o « amor verdadeiro » é apenas um cliché que esconde o essencial: o amor não é um produto que se compra para combinar com os móveis da sala. É uma arte que se cultiva. Profundamente. Demoradamente. "

Excerto de "Como Jane Austen pode mudar a sua vida ", de João Pereira Coutinho

Quarteto 1111


Os Quarteto 1111 foram os pioneiros da nossa modernidade musical ( Pop/Rock)

" Five leaves left " - Nick Drake



Mais um dos discos da minha vida: descobri Nick Drake através de Miguel Esteves Cardoso, e do seu espantoso programa de rádio " Aqui Rádio Silêncio " ( Rádio Comercial/Anos 80).

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Tony Blair



Autoria: Jorge Molina

Ler artigo de Rui Ramos, publicado no Público

" Jovem lendo uma carta junto à janela " - Vermeer


JAN VERMEER DE DELFT
Muchacha que lee una carta junto a una ventana h.1657
Gemäldegalerie Dresde

Raymond Scott














































" Manhattan Research inc. " - Raymond Scott

Raymond Scott, precursor da música elétronica e inventor de instrumentos, como o Clavivox.

" Avenida Paulista " - João Pereira Coutinho



Recolha de textos escritos para o diário brasileiro " Folha de S. Paulo "

Distribuição com a revista " Sábado ", de 10/05/2007, Ed. Quasi

Fabuloso, JPC no seu melhor.

José Gama


Modelo: Darina Klimková
Fotos realizadas com a colaboração de A. Brito.
Fotos realizadas em estúdio com fundo branco ou preto

Cindy Sherman


Cindy Sherman, uma das minhas fotógrafas preferidas.

Robert Mugabe



Mugabe fez anos. Parabéns, Robert.
Não é caso para menos. A coisa tem sido um sucesso. Bem instalado, Mugabe tem assistido serenamente ao evoluir do Zimbabwe. O desemprego a rondar os 80%, a inflação os 1600%. Coisa pouca para quem pensa em grande como o velho Robert. Mas há mais: 500 mil infectados com HIV, a cólera a aumentar nas zonas rurais e em Harare, e uma reforma agrária plena de sucesso. Eu sei, nesta matéria não levamos lições de moral de nenhum ditadorzeco. O facto é que foi um feito, a expropriação das terras às populações brancas. Branca, porque espiã ao serviço da pérfida Albion, ou não estivéssemos perante mais um ex-colonizado com o tique habitual de sacudir as culpas para quem lá andou antes.
Mas Robert achou tudo isto coisa de meninos e tratou de nos brindar com um plano estatal de destruição de habituações ilegais. Resultado? Mais de 300 mil famílias desalojadas. Esta propensão para o bem comum sempre tocou fundo Mugabe. Por isto há muito que tratou de si, não vá algum louco enfiar-lhe uma valente bala na testa. Com as preciosas ajudas da China e da Coreia do Norte – com muitos adeptos numa ala muito particular do parlamente português – reforçou a sua guarda pretoriana, as forças armadas e a sua amada polícia política. Para bem de todos, em especial do seu.
Parece que também tem havido queixas de torturas maciças, prisões um tanto duvidosas e uma oposição silenciada. Tudo obra da “teia imperialista ocidental” que impõe sanções económicas ao regime e que, nas palavras de Mugabe, o tornaram naquilo que ele é hoje. Não surpreende. Esta esquerda despótica, vermelha porque sangrenta, sempre teve o condão de ver no satã externo os males para todas as suas diabruras. Querem exemplos?
Por tudo isto, Robert está de parabéns. Cumpriu. Mais: superou as expectativas. Tornou-se no case study moderno de como arruinar um país em menos de um piscar de olhos. Para celebrar o feito, o ditador do Zimbabwe fez uma festa a rondar o milhão de dólares. Recorrendo a uma engenharia financeira digna dos eleitos, congelou parte dos salários dos funcionários públicos para patrocinar a farra.
O que me faz alguma espécie é não ver ninguém nas ruas de Lisboa e de outras capitais europeias, sempre prontas para a indignação, aproveitar a efeméride. O anti-americanismo ganhava outra causa e alguns eurodeputados também.
[Atlântico, Maio 07]
Posted 9.5.2007 by Bernardo Pires de Lima



quarta-feira, 9 de maio de 2007

Darfur

22/02/2007

Darfur - A crise explicada

Alex de Waal*

A guerra na região de Darfur, no Sudão, deixa perplexos tanto especialistas em África quanto diplomatas experientes, de forma que não causa surpresa deixar confuso o público em geral. Este guia para o conflito responde dez perguntas simples.
1. Onde fica Darfur?Darfur é a região mais a oeste do Sudão, o maior país da África. Ela se espalha pelo deserto do Saara, pelas savanas secas e florestas da África central. Ela é maior que a França, apesar de esparsamente povoada. A população de Darfur vive da terra, a cultivando durante a estação das chuvas (junho-setembro) e criando animais.Darfur foi um sultanato independente de cerca de 1600 até 1916, quando foi integrado ao vizinho Sudão e se tornou o maior território a ser absorvido pelo império britânico. Após a independência do Sudão em 1956, Darfur foi negligenciado, com pouco desenvolvimento econômico.
2. Quem são os darfurianos?Cerca de um terço da população de Darfur (cerca de 6,5 milhões no total) é composta de descendentes de árabes que migraram pelo Saara entre os séculos 14 e 18, se casando com os habitantes locais de forma que a maioria é fisicamente indistinguível de seus vizinhos não-árabes. Darfur também tem uma longa história de migração da África Ocidental.Todos os darfurianos são muçulmanos e a maioria é seguidora da seita sufi Tijaniyya, originária do Marrocos.
3. Como o Sudão é governado?Os governos pós-independência do Sudão (população atual de 40 milhões) foram todos dominados por uma elite de Cartum, a capital do país. A orientação árabe e islâmica desta elite provocou rebeliões no sul do Sudão entre a população não-árabe daquela região, a maioria cristãos e teístas. Os darfurianos também foram marginalizados pelos governos sudaneses, apesar de muitos fazerem parte do Exército.Em 1989, um golpe militar levou o presidente Omer al Bashir ao poder, mas ele foi ofuscado por Hassan al Turabi, que buscou formar um Estado islâmico. A militância de Turabi exacerbou a guerra no sul cristão, provocou a hostilidade dos vizinhos do Sudão e levou a um isolamento internacional.Falidos e exaustos, os islamitas começaram a brigar entre si em 1999 e Bashir prendeu Turabi. Determinado a manter o poder, Bashir buscou a paz no sul, assinando um "acordo de paz abrangente" com o Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA), em janeiro de 2005. Enquanto isso, Darfur foi se tornando cada vez mais ingovernável. As armas eram abundantes, importadas de guerras civis no sul do Sudão e no Chade.
4. Por que a guerra começou?Os primeiros confrontos armados em Darfur ocorreram em 1987, quando a milícia árabe chadiana - armada pela Líbia como parte da tentativa de Gaddafi de controlar o Chade - foi empurrada para Darfur pelas forças chadianas e francesas.Em 1991, o SPLA tentou instigar uma rebelião em Darfur mas foi esmagado pelo exército sudanês e por uma milícia árabe. Novos confrontos ocorreram esporadicamente ao longo dos anos 90, provocados pelas disputas por terras e rebanhos. Em cada caso, enquanto os líderes locais tentavam promover conferências de paz intertribais, os serviços de segurança respondiam com táticas dividir-e-governar, geralmente armando a milícia árabe e tentando desarmar os grupos de defesa das aldeias. Em nenhum momento as causas por trás do descontentamento - a pobreza e marginalização de Darfur - foram tratadas.
5. Quem são os rebeldes darfurianos?Em 2002, grupos de defesa da aldeia Fur começaram a se organizar e as unidades Zaghawa começaram a receber armas de seus parentes no exército chadiano (sem conhecimento do presidente). Com apoio do SPLA, eles formaram o Exército de Libertação do Sudão (SLA), promoveram ataques a guarnições do governo e publicaram um manifesto. Mas as alas Fur e Zaghawa do SLA fracassaram em cooperar. Enquanto o SLA de Abdel Wahid contava com grande apoio popular, a ala Zaghawa, liderada por Minni Minawi, era militarmente mais agressiva. Explorando a ausência de Abdel Wahid de Darfur - ele estava percorrendo o mundo para obter apoio- em novembro de 2005, Minawi convocou uma reunião e se elegeu presidente, criando uma divisão irreversível. Daí em diante, as duas alas começaram a enfrentar uma à outra assim como ao governo de Cartum.Em março de 2003, os islamitas dissidentes recém derrubados do poder em Cartum criaram o Movimento Justiça e Igualdade (JEM) e se juntaram à rebelião do SLA. Menor e mais coeso que o SLA, o JEM se apóia na base de seu líder, Khalil Ibrahim, entre o clã Kobe de Zaghawa.
6. Quem são os janjaweed?Os janjaweed originais dos anos 80 eram uma coalizão de milicianos árabes chadianos e um punhado de nômades árabes darfurianos. Por anos, estes milicianos foram tolerados e apoiados de forma intermitente por Cartum. Quando a insurreição do SLA ganhou força, o governo recorreu aos janjaweed como vanguarda de sua contra-insurreição.Desafiando uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigia o desarmamento dos janjaweed, o governo absorveu um grande número de milicianos em seu exército e continua a empregá-los contra aldeões suspeitos de apoiarem os rebeldes.
7. É genocídio?Em julho de 2004, os Estados Unidos iniciaram uma investigação sobre se as atrocidades em Darfur constituíam genocídio. A conclusão, anunciada pelo então secretário de Estado, Colin Powell, era que sim. Mas para desalento dos ativistas, Powell disse que isto não resultaria em nenhuma mudança na política americana. Em vez disso, ele encaminhou o assunto para o Conselho de Segurança da ONU, cujas investigações apontaram que ocorreram crimes de guerra e outras violações "tão hediondas quanto genocídio" em Darfur, mas que a acusação de genocídio era injustificada. O Conselho de Segurança encaminhou o assunto ao Tribunal Penal Internacional, que deverá emitir seus primeiros indiciamentos em breve.Grandes organizações de direitos humanos e agências humanitárias se recusam a usar o termo "genocídio" em Darfur. A análise delas é de que Darfur não se trata de uma tentativa deliberada de exterminar um grupo, como no Holocausto e Ruanda, mas sim de crimes contra a humanidade cometidos ao longo de uma contra-insurreição.
8. Quem está protegendo os civis?Após negociações na capital chadiana em abril de 2004, Cartum e os rebeldes concordaram em um cessar-fogo, que seria monitorado por uma equipe de observadores da União Africana (UA). O cessar-fogo foi violado por ambos os lados, o que tornou impossível a tarefa da Missão da União Africana no Sudão (Amis). A Amis foi ampliada para 7 mil soldados, mas suas operações foram atrapalhadas pela escassez de fundos e combustível -assim como pelo mandato fraco que não lhe permitia proteger todos os civis em risco.A Casa Branca decidiu que a Amis deveria ser substituída por uma força de paz maior da ONU, com autoridade para uso de força. Nos últimos 18 meses, os esforços para impor esta força a um Sudão relutante consumiram grande parte das energias diplomáticas empregadas pelo Ocidente em Darfur. O presidente Omer al Bashir fincou o pé e rejeitou qualquer papel militar da ONU.
9. Por que as negociações de paz fracassaram?A UA realizou sete rodadas de negociações de paz, culminando em uma sessão contínua de seis meses na capital nigeriana, de novembro de 2005 a maio de 2006. Sob severa pressão, especialmente dos Estados Unidos, Cartum e Minawi concordaram. O líder do JEM, Khalil Ibrahim, rejeitou o pacote de imediato. Abdel Wahid, que conta com o maior apoio em Darfur, também rejeitou. Após a assinatura do acordo, Minawi foi desertado pela maioria de seus comandantes.
10. O que precisa ser feito?Desde maio passado, uma combinação de cinismo do governo e liderança errática dos rebeldes levou a um agravamento da crise em Darfur. A guerra se intensificou e agora é em parte uma guerra por procuração entre o Chade e o Sudão, com cada lado apoiando os rebeldes do outro. Uma reunificação dos rebeldes é necessária antes que qualquer negociação significativa possa ser realizada.Uma solução política de Darfur está agora mais distante do que em qualquer momento desde que a guerra teve início. Esta complexidade frustrante não é motivo para outra solução rápida mal acabada: é motivo para tratar dos processos políticos complicados mais seriamente.
*Alex de Waal é diretor do Social Science Research Council, uma organização sem fins lucrativos com sede em Nova York Tradução: George El Khouri Andolfe

Retirado e traduzido da Revista Prospect

Darfur


Taha, Age 13 or 14
“In the afternoon we returned from school and saw the planes. We were all looking, not imagining about bombing. Then they began the bombing. The first bomb [landed] in our garden, then four bombs at once in the garden. The bombs killed six people, including a young boy, a boy carried by his mother, and a girl. In another place in the garden a women was carrying her baby son—she was killed, not him. Now my nights are hard because I feel frightened. We became homeless. I cannot forget the bad images of the burning houses and fleeing at night because our village was burned…”

Cronologia do Liberalismo em Portugal, de: 1777 a 1926



A Maria da Fonte, por Bordalo Pinheiro

Fumar ou não fumar !?

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

Excerto do poema " Tabacaria ", de Álvaro de Campos ( Fernando Pessoa )

Luiz Pacheco


Luiz Pacheco, Afonso Filhó e Jorge Santos, na comemoração do 1.º de Maio de 1966, na Quinta de S. Paulo, em Setúbal.

Excertos de " Comunidade "

Monica Belucci


Laetitia Costa


Para recordar-mos a escravidão


Para recordar-mos a escravidão


terça-feira, 8 de maio de 2007

" Brevíssima relação da destruição de África " - Bartolomé de Las Casas

" 5. Considerações éticas sobre a guerra de conquista das ilhas


É coisa por certo de grande pasmo que nos cristãos haja caído tanta cegueira; pois tendo eles professado respeitar a lei natural e o Evangelho em seu baptismo, e seguir, em tudo no que toca ao trato e à edificação dos outros homens, as pisadas e as obras de seu Mestre e guia Jesus Cristo, uma há e deve haver, que é a de convidarem, atrairem e ganharem, por paz, amor, mansidão e exemplos de virtude, à fé, ao culto, à obediência e à devoção do verdadeiro Deus e Redentor do mundo todos os infiéis sem diferença de seita ou religião, de pecados ou costumes corruptos que tenham; e isto, não da maneira que qualquer um queira representar, mas segundo a forma e o exemplo que Cristo nos deu e instituiu para a sua Igreja e como nós fomos e seríamos se a ele não tivéssemos sido trazidos, ordenando-nos por regra geral que tudo o que quisermos que os outros homens nos façam, lho façamos a eles, e aonde quer que entremos, demos como primeiro sinal nosso, por palavras e obras, o da paz; e que nisto não há destrinças, seja com índios, gentios, gregos ou bárbaros, pois a todos pertence um só Senhor, que por todos sem diferença morreu, e que vivamos dessa maneira e sejamassim as nossas obras para com todos os que nela louvamos o Senhor em que cremos e por via delas adoramos, e não sejamos causa de ofensa ou escândalo para judeus ou gentios, nem para a Igreja de Deus, como S.Paulo promulga, e que sem fazer distinção alguma entre infiéis, não por não serem alguns homens cristãos, mas por serem infiéis, possamos crer e ter como verdade que nos é lícito invadir as terras onde vivem e onde estão seus reinos, indo desassossegá-los e conquistá-los ( para usar o termo que muitos tiranos usam, e apenas significa ir matar, roubar, escravizar, sujeitar e tirar bens e terras de senhorio a quem em suas casas está quedo e mal não fez nem dano ou injúria àqueles de quem isso recebe ), sem considerar que são homens e têm almas racionais, e que os céus e aterra e tudo quanto dos céus provém, como as influências e o que na terra e nos elementos existe, são benefícios comuns que Deus concedeu a todos os homens sem diferença, fazendo-os a todos por igual senhores naturais de tudo isso, como diz S. Mateus: «Solem suum oriri facit super bonos et malos, et pluit super iustos et iniustos », e que a lei divina e seus preceitos negativos. que contra o próximo proíbem cometer injúria ou injustiça, furtar-lhe coisa sua e ainda menos tomá-la pela força, quer sejam bens móveis ou de raiz, suas mulheres ou filhos, a sua liberdade, os seus jumentos, gatos ou cães, ou outra peça qualquer, se entendem também e se estendem a todos os homens do mundo, pequenos e grandes, homens e mulheres, fiéis ou infiéis: pois tudo isto contém a lei de Jesus Cristo.
Quem inventou este caminho de ganhar para Cristo os infiéis e trazê-los ao seu conhecimento e incorporá-los no redil da sua universal Igreja, creio eu e sei-o de bom saber que não ( foi ) Cristo, antes, e mui claramente e sem rodeios, em seu Evangelho o condena. "

Excerto da " Brevíssima relação da destruição de África ", de Bartolomé de Las Casas, Trd. Júlio Henriques, Ed. Antígona

Sebastião Salgado




Depois de andar durante toda a noite, refugiados se escondem sob as árvores dos aviões de reconhecimento etíopes. O governo etíope não quer que a população de Tigre cruze a fronteira para o Sudão. Etiópia, 1985.

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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