" É difícil manter uma atitude isenta de paixão, quando se faz uma crítica, quero dizer com isto que aquele que faz a crítica não deve sentir o espírito exaltado. Ter de se submeter a uma crítica tem algo em si que provoca uma grande satisfação, porque o criticado pode, muito facilmente, sentir-se lisonjeado, na medida em que se convence de que está a ser objecto da atenção de alguém, e isso é uma realidade. Para compreender isto, todavia, há que estar já um pouco familiarizado com regiões mais vastas do pensamento e que ter a capacidade de entender as conexões. Se começamos a falar seriamente, logo oito em cada dez pessoas se convencem de que nos estamos a despenhar encosta abaixo, por assim dizer, como se fosse um dado adquirido que só as pessoas alegres ocupariam o lugar de topo da inteligência, o que de modo nenhum é exacto. A alegria tem, na realidade, um grande merecimento, mas a alegria e a seriedade devem alternar uma com a outra de modo a que a seriedade conduza à alegria e a alegria conduza à seriedade, a delimite ou conduza perto dela. "
Excerto de " O salteador ", de Robert Walser, Trd. Leopoldina Almeida, Ed. Relógio d´Água
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