Playboy da Indonésia: imagens carnais encontram-se com fé muçulmana
The New York Times
22:00 24/07
Jane Perlez
DENPASAR, Indonésia – Quando Erwin Arnada, editor-chefe da revista Playboy da Indonésia, respondeu uma intimação ao quartel-general da polícia da capital da nação, Jacarta, ele sorriu, comportou-se como um bom cidadão e, em troca, foi tratado educadamente durante as quase seis horas de questionamento.
Leia abaixo o texto
O escape, relembra ele, foi algo mais ou menos assim:
“Quando você conheceu Kartika Oktavina Gunawa?” perguntou a polícia, referindo-se sabidamente à modelo que apareceu no centro da edição da revista na Indonésia vestindo um modesto roupão azul que fez anúncios de lingerie nos jornais ocidentais parecerem decididamente obscenos.
“Como você não consegue lembrar?” perguntou o policial, segundo a explicação do editor sobre recente encontro de bom temperamento.
“Porque eu conheço muitas jovens bonitas todos os dias”, Arnada disse ter respondido.
Os interrogadores riram invejosamente, disse ele. Eles acusaram Gunawan e ele de violarem as provisões de indecência do código criminal, e então os deixaram ir embora.
A Playboy chegou na Indonésia, a nação mais populosa do mundo, três meses atrás com um edição especialmente criada para levar em conta os costumes locais – nada de fotografias de mulheres nuas, nada de nudez.
A revista é publicada sob licença em 20 países, a maioria na Europa. A Indonésia é o primeiro país muçulmano da revista desde que uma edição turca não ‘pegou’ em meados dos anos 90.
Corretamente como esperado, um grupo indonésio, o Front dos Defensores Islâmicos, o qual se especializou em ataques a casas noturnas e esconderijos de jogatina, atirou pedras no escritório da Playboy em Jacarta, causando tantos danos físicos e psicológicos, disse Arnada, que foi impossível para a equipe continuar produzindo lá.
A revista saiu daqui para a capital de Bali, uma ilha Hindu, onde turistas estrangeiros desfilam em reduzidos trajes de banho e saltam felizes em clubes noturnos cheios de álcool.
As segunda e terceira edições foram produzidas na nova sede da revista, um andar de uma casa pertencida a um líder espiritual Hindu, um amigo de Arnada, o qual é muçulmano. Os mais recentes layouts da revista são moldados entre objetos de pendura de Bali e oferendas religiosas a deuses hindus.
Enquanto a reação dos grupos islâmicos na capital não tenha sido surpreendente, a revista também foi pega em um debate parlamentar sobre um projeto de lei anti-pornografia que está testando o coração da tolerância na Indonésia.
A Sociedade Indonésia Contra Pirataria e Pornografia, a qual está pressionando o projeto de lei, registrou um processo contra a revista, estimulando a investigação policial.
Goenawan Mohamad, o fundador da Tempo, uma semanal do país, e um distinto colunista, diz que Arnada tem modelado uma revista tão obediente que seria um absurdo bani-la.
Embora apóie o direito de a Playboy ser publicada, Mohamad disse achar difícil ele ser um entusiasta quanto à causa da revista. “A Playboy é uma revista bem conhecida por causa da falta de vestimenta das mulheres”, disse ele. “Qual é a birra?”.
Em um esforço para tornar a edição indonésia mais aceitável a sensibilidades locais, a entrevista da edição do mês foi com o autor e novelista dissidente mais famoso da nação, Pramoedya Ananta Toer. Ele morreu dia 30 de abril aos 81 anos, logo após de a edição ter sido impressa.
A maioria dos artigos nas primeiras três edições foram as repetições de qualquer revista de interesse geral na Ásia: uma história sobre amputados da guerra civil do Camboja, as histórias de noivas de encomenda indonésias, um ensaio fotográfico sobre violência doméstica contra crianças e um grande artigo sobre o Timor Leste.
As fotografias centrais das Coelhinhas da Playboy em escassas, contudo dificilmente libidinosas, roupas (a segunda coelhinha foi uma francesa de Bali, Doriane Amar – os ataques tem afastado modelos indonésias) e uma coluna de corações solitários direcionada a homens foram a maior sugestão de que a Playboy da Indonésia foi, realmente, direcionada a leitores homens.
A capa da terceira edição foi certamente mais carnal, embora ainda discreta em comparação a outras publicações nas bancas daqui: uma modelo indonésia vestida em um longo suéter de pêlo e um par de roupas de baixo mostra divisão e a sugestão – embora somente a sugestão – de seu umbigo.
Para Arnada, 41, que tem um passado de publicação de tablóides de entretenimento e de produção de filmes de terror, toda a confusão reflete os medos da intrusão da cultura ocidental. “Por que mais eles continuariam gritando sobre a Playboy”, perguntou.
Uma publicação amplamente distribuída na Indonésia, a Red Light, que é pertencida a um dos maiores conglomerados indonésios, o Jawa Pos, é bem mais provocativa, disse Arnada.
Impressa em papel de jornal bruto e vendida nas ruas por mascates pelo equivalente a 20 centavos de dólar, a Red Light carrega anúncios por prostitutas e seus números de telefone, mostra fotos de homens e mulheres nus, e é enfeitada com manchetes sexualmente provocativas.
O Conselho de Imprensa Indonésio, um corpo governamental, na verdade apoiou a publicação da Playboy, dizendo que o país agora tem liberdade de imprensa. Então, por enquanto, Arnada e Ponti Colorus, que cuida do lado financeiro da companhia de publicação, a Velvet Silver Media, pareceram ter prevalecido.
As primeiras duas edições, de 100 mil cópias cada, venderam rapidamente, mesmo com um preço relativamente alto de US$3,80. A terceira está indo bem.
Alguns dos principais anunciantes – companhias de cigarro e telefone celular, e marcas de perfume, óculos de sol e relógios – que fugiram da segunda edição, com medo de ameaças do Front islâmico, retornaram para a terceira edição.
Arnada, um auto-proclamado festeiro, disse que um proeminente dono de clube noturno de Bali havia concordado em sediar o evento da Coelhinha.
Mas sempre um homem de negócios, Arnada permanece cauteloso. “Não digo que eu ganhei”, disse ele. “Não sei onde a bola está indo. De repente eu sou um suspeito, e outras publicações com imagens de nudez têm uma boa vinda”.
" Está descalça. Tem o cabelo despenteado. Veste um roupão curto, de algodão preto, amplo.
A cena é muito lenta, longa.
Lentamente, vai colocar-se debaixo do ventilador de pesadelo. Fica ali.
Agarra os cabelos, afasta-os do seu corpo, num gesto de desânimo-alguém que sufoca de calor.
Depois deixa cair os braços ao longo do corpo.
Na abertura do roupão, o branco do corpo nu.
Imobiliza-se. Cabeça para trás. Procura o ar. Sufoca.
Procura sair fora do calor.
Graça pungente do corpo magro, frágil. "
Excerto de " India Song ", de
Marguerite Duras, Ed.Quetzal