Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Canção do dia(4) : " Arrependimento " - Sam the Kid(2002)

« Se pudesse viver novamente, na próxima vida tentaria cometer mais erros. »


Jorge Luís Borges

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Canção do dia(3) : " Love of an Orchestra " - Noah and the Whale(2009)



No seu aniversário


« Senão, era ver Rosamaria, com o seu ar de bruxa em sabat, com aquele riso carnívoro que só de ouvi-lo era como um galope de garanhões e um voo de pretas aves em eucaliptos; como se trocassem moradas, rotas, mapas dos desejos. Era só ver a sua própria mulher, Beth, tão gasta como um pano de cozinha, dessa beleza que se convencionou ser austera, mas que é afinal sinal de maus ovários, mau fígado, más veias. O sangue corria aos tropeções nos seus capilares e eles rebentavam, e ficava a dor lancinante que ela dizia ser como uma agulha que passasse nas suas veias. Mas não dispensava ser amada, doente como era, sempre prestes a receber a dor como um filho, a enfaixá-la, a carregá-la no aconchego da carne; até tinha lubricidades, carinhos, apetites; era preciso, senão contentá-la, ao menos respeitar esses grotescos parênteses de amor que ela não merecia. O amor era para jovens belos e rapídissimos, que correm como o vento, saltam até às estrelas; e não aquele rugido triste de homem e mulher, aquela perseguição cheia de artes falsas, de ameaças, de ódio até, e que as crianças suspeitam como a chaga que respiram e que fede no quarto do casal. Os homens sabem que o amor é uma coisa divina, feita para gente divina; e, por isso, matam, porque não são divinos nem suportam interpretar o amor como uma farsa vulgar. Por isso morrem, e dão à morte nomes heróicos, como Sócrates deu, cruelmente marcado na sua prisão, que ele pediu para o corpo velho e sem esplendor, de verme com consequências divinas, mas não divino.»
Fotografia de Agustina Bessa Luís, por Jorge Afonso
Excerto de " Os meninos de ouro "(1983), Ed. Guimarães Editores, 7ª Edição(1987)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Canção do dia(2): " The Girl From Ipanema " - Astrud Gilberto(1964)*

* Música composta por Tom Jobim, incluída no álbum "Getz/Gilberto"(1964) de Stan Getz e João Gilberto.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Canção do dia(1) : " Samsara " - Rupert Hine(1981)





























Eugenio Murillo



« El dibujante Eugenio Murillo Fuentes (1958) lee a Jorge Luis Borges, y en los papeles blancos del artista empiezan a aparecer muros y umbrales. Borges fue el hombre que recogió la historia del emperador chino Shih Huang Ti, quien construyó una gran muralla para aislar su imperio del mundo y quien mandó quemar todos los libros para que la historia comenzara en el reinado de Shih Huang Ti.» ler aqui o artigo completo.»
Darío Chinchilla Ugalda, Ancora, La Nácion, Costa Rica

domingo, 11 de outubro de 2009

Leituras de domingo(1)

«...A "obamania" é um triste sinal de que o Ocidente perdeu qualquer espécie de faculdade crítica. A palavra e o gesto bastam para lhe esconder o que se passa no mundo. Como se uma grande potência pudesse de repente mudar com uma criatura simpática e uma pequena dose de persuasão e boa vontade.
Para começar alguns factos: Guantánamo não fechou; a prática de sequestrar putativos terroristas (eufemisticamente denominada "extraordinary rendition") em países "terceiros" não acabou; e não acabou também a prática de prender suspeitos de terrorismo, dentro e fora da América, e de os tratar como "no campo de batalha". Pior ainda, Obama não quis condenar, nem investigar os crimes de Bush, nomeadamente a tortura; só prometeu, nos casos mais benignos, tribunais militares (regidos, como é evidente, por lei especial) e sobretudo não limitou ou diminuiu a secrecidade e o arbítrio do Estado segurança. Isto quanto aos celebrados direitos do homem e à convivência amigável entre a América e o islão, em que ele proclama acreditar.»

Vasco Pulido Valente, Público de 11/10/2009


« A confissão feita sob tortura não era válida se não fosse ratificada sem tortura, e noutro lugar, donde não se pudesse ver o horrível instrumento, e não no mesmo dia. Eram descobertas da ciência, para tornar, se tal fosse possível, espontânea uma confiança forçada, e satisfazer ao mesmo tempo o bom senso, o qual dizia dizia claramente que a palavra extorquida pela dor não pode merecer fé, e a lei romana que consagrava a tortura. Aliás a razão dessas precauções, iam buscá-la os intérpretes à própria lei, ou seja a estas estranhas palavras: «A tortura é coisa frágil e perigosa e sujeita a enganar; visto que muitos, por força de ânimo ou de corpo, sofrem tão pouco com os tormentos que não se pode, com tal meio, obter deles a verdade; outros são tão intolerantes à dor que dizem qualquer falsidade, em vez de suportarem os tormentos.» Digo: estranhas palavras, numa lei que mantinha a tortura; e para se compreender por que motivo não se extraía outra consequência senão que «nos tormentos não se deve acreditar sempre», temos de recordar que aquela lei havia sido feita na sua origem para os escravos, os quais, na abjecção e na perversidade do gentilismo, puderam ser considerados como coisas e não como pessoas, e sobre os quais se julgava por isso ser lícita qualquer experiência, a ponto de serem torturados para se descobrir os crimes de outros. Novos interesses de novos legisladores fizeram-na depois aplicar-se também às pessoas livres; e a força da autoridade fê-la durar muitos mais séculos que o gentilismo: exemplo nada raro, mas notável, de como uma lei, depois de estabelecida, pode prolongar-se e expandir-se para além do seu princípio, e sobreviver-lhe.»


Excerto de " História da Coluna Infame ", de Alessandro Manzoni, Trd. José Colaço Barreiros, Ed. Assírio & Alvim, 1991

Mar D´Outubro





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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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