Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quinta-feira, 7 de julho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

«A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitectura interna. Uma pessoa, por exemplo, lê na idade madura um livro importante para ela, que a faz dizer:«Como podia viver sem o ter lido!» e ainda:«Que pena não o ter lido quando era jovem!». Pois bem, estas afirmações não fazem muito sentido, sobretudo a segunda, porque a partir do momento em que ela leu aquele livro, a sua vida torna-se a vida de uma pessoa que leu aquele livro, e pouco importa que o tenha lido cedo ou tarde, porque até a vida que precede a leitura assume agora uma forma marcada por aquela leitura.»


Italo Calvino, “ Palomar”, Trd. João Reis
«As pessoas agarravam-se cegamente à primeira coisa que lhes aparecesse: comunismo, orgias, andar de bicicleta, erva, o catolicismo, halteres, viagens, o recolhimento, a comida vegetariana, a Índia, pintura, beber, andar por aí, iogurtes, congelados, Beethoven, Bach, Buda, Cristo, haxixe, sumo de cenoura, suicídio, roupas por medida, viajar de avião, Nova Iorque, e de repente tudo desaparece. As pessoas tinham de encontrar coisas para fazer enquanto esperavam pela morte. Acho que era bom podermos escolher.»



Charles Bukowski, “Mulheres”(1978), Trd. Fernando Luís
«Apesar de tudo, o homem tem tanto apego ao que existe, que prefere naturalmente suportar a sua imperfeição e a dor que causa a sua fealdade, em vez de aniquilar a fantasmagoria com um acto da sua própria vontade. E pode acontecer, também, que quando chegámos ao limite do desespero que precede o suicídio, por se ter esgotado o inventário de tudo o que é mau e se ter chegado ao ponto em que o mal é insuperável, qualquer elemento bom, por pequeno que seja, adquire um valor desproporcionado, acaba por tornar-se decisivo e aferramo-nos a ele como nos agarraríamos desesperadamente a qualquer erva ante o perigo de cair num abismo.»




Ernesto Sabato, “O Túnel”(1948), Trd. Iva Delgado
«Na época em que eu tinha amigos, eles riram-se muitas vezes da minha mania de escolher sempre os caminhos mais arrevesados: eu pergunto-me porque há-de a realidade ser simples? A minha experiência ensinou-me que, pelo contrário, quase nunca o é e que quando há algo que parece extraordinário, claro, uma acção que parece obedecer a uma causa simples, quase sempre há por baixo motivos mais complexos.»




Ernesto Sabato, “ O Túnel”(1948), trd. Iva Delgado
«Acendeu um charuto, limpou com o guardanapo o suor que lhe escorria da testa, desabotoou o primeiro botão da camisa e disse: as razões do coração são as mais importantes, é preciso seguir sempre as razões do coração, os dez mandamentos não dizem isto, mas digo-lho eu, mas é preciso ter os olhos abertos, apesar de tudo, coração sim, de acordo, mas também olhos bem abertos…»
« - É difícil ter certezas quando se fala das razões do coração, afirma Pereira.»




Antonio Tabucchi, “Afirma Pereira”, Trd. José Lima

Disorder

« - Tente nunca se apaixonar por um animal selvagem, Mr. Bell – aconselhou-o Holly. – Foi aí que o Doc errou. Estava sempre a trazer animais selvagens lá para casa. Um falcão com uma asa partida. Uma vez apareceu com um lince adulto a coxear. Mas não podemos confiar o coração a um animal selvagem: quanto mais lhe damos, mais forte fica. Até ter força suficiente para largar a correr para a floresta. Ou voar para uma árvore. E depois para uma árvore mais alta. E depois para o céu. É o que lhe vai acontecer, Mr. Bell, se se apaixonar por um animal selvagem. Acaba a olhar para o céu.»




Truman Capote, “Boneca de luxo”, Trd. Margarida Vale de Gato
«Cada um é feito daquilo que viveu e do modo como o viveu, e isto ninguém lho pode tirar. Quem viveu sofrendo, fica feito pelo seu sofrimento; se pretenderem tirar-lho, deixa de ser ele.»


Italo Calvino, “ Palomar”, Trd. João Reis

Heart and Soul

Isolation

Agustína Bessa-Luís - " Memórias Laurentinas "








« Há homens sós, mas não há mulheres sós; elas sempre encontram maneira de emparceirar com tudo o que não lhes oferece resistência, inclusive um deus.»


«As mulheres não reconhecem a glória senão nos filhos, nos amantes e nas coisas razoáveis da vida, como a chave de casa e do coração das amigas.»

«Um homem apaixonado, mesmo morto, convence mais do que cem poetas vivos. Digo isto porque os poetas nunca se apaixonam. São pessoas litigiosas e que seguem os caminhos da poesia para sequestrar a admiração dos outros.»

« - As mulheres gostam de quem as sustenta. Mesmo quando são ricas não sabem gastar o que é delas. Só sabem gastar o que é nosso.
- As mulheres gostam de dois tipos de homens: os que as despem e os que as vestem.»

«Os tempos eram rudes, e ainda são. Não me venham dizer que isto só acontece aqui, neste país folião e miserável, que não acontece. A Europa profunda ainda tinha trogloditas há pouco tempo, as crianças dormiam na palha e iam trabalhar aos sete anos. As coisas mudam tragicamente, ou não mudam. A habitualidade funciona como um travão e as leis levam uma eternidade a ser aceites e adequadas ao génio da mendicidade, que é mais poderoso do que se julga. Basta dizer que o génio da mendicidade vive em todo o lado, tanto no palácio como na barraca. Um político que queira ter sucesso tem que servir o génio da mendicidade; da sua camarilha, primeiro, depois dos ricos e do povo em geral. Tem de prometer aos que precisam e aos que não precisam. Tem de dar ou fingir que o fará; tem de viver com a dívida permanente do auxílio que não pode prestar, e lega aos seus sucessores a má-fé desse acordo com o génio da mendicidade que devora a alma do povo e não chega para acudir a todos os desastres que se acumulam sobre a cabeça dos cidadãos.»

sexta-feira, 3 de junho de 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

In itinere











Exposição de José Barrias, a decorrer no Museu de Serralves

segunda-feira, 16 de maio de 2011

«Cada um é feito daquilo que viveu e do modo como o viveu, e isto ninguém lho pode tirar. Quem viveu sofrendo, fica feito pelo seu sofrimento; se pretenderem tirar-lho, deixa de ser ele.»



Italo Calvino, " Palomar ", Trd. João Reis
«Os pensamentos maus não me largam. Mais do que aquilo que aconteceu: é estar a acontecer tantas vezes. Uma amiga trabalhou durante anos num emprego que não a satisfazia, apenas com um objectivo: juntar o dinheiro suficiente para passar o resto da vida a viajar. E conseguiu. Mas no mês em que se despediu foi-lhe detectado um cancro. Outro amigo esperou pacientemente pela idade da reforma, para finalmente conseguir escrever um livro. Nos últimos anos vivia para isso. Comprou uma pequena casa no campo, preparou tudo. Depois sofreu um AVC e deixou de conseguir pensar. Outro ainda investiu tudo no casamento. O que ele abandonou por aquela mulher! Mas quando tinha criado um paraíso para viver o grande amor, ele extinguiu-se. Não foi ela, foi ele que deixou de amar.
Lembrei-me do prior da Cartuxa, que me falou do dia em que deixou de acreditar em Deus. Um homem que desistiu de tudo, para passar a vida fechado num convento. E de repente, sozinho na sua cela, à noite, descobre que perdeu a fé. "Deus ausenta-se", sussurrava o prior, apavorado.»



Paulo Moura, Pública de 15/05/2011

Suícidio



Fotografia de GMB Akash, da série : Suicide cotton farmers in India

Os pequenos agricultores que produzem algodão, suicidam-se com frequência devido à destruição das colheitas, causada pelas intempéries.

domingo, 15 de maio de 2011

«Estás em perpétua contradição. Inutilizas-me metade da vida e nunca me pude desfazer de ti. Nesta luta de todos os dias, quando me julgo livre, é quando te sinto todo o peso.

Isto é de certo a vida. Mas a vida é também o instinto que me diz: - Aproveita, não deixes fugir o único minuto. Se a vida é um momento entre o nada e o nada, o que vale a pena é aproveitá-lo.»




Excerto de "Húmus", Raul Brandão
«É que a morte regula a vida. Está sempre ao nosso lado, exerce uma influência oculta em todas as nossas acções. Entranha-se de tal maneira na existência, que é metade do nosso ser. Incerteza, dúvida, remorso... Nunca se cerra de todo a porta do sepulcro, sentimos-lhe sempre o frio. Agora não, a vida pertence-nos. A morte não existe, desapareceu a morte...»



Excerto de "Húmus", Raul Brandão
«Só a insignificância nos permite viver. Sem ela já o doido que em nós prega tinha tomado conta do mundo. A insignificância comprime uma força desabalada.»
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«Estamos aqui todos à espera da morte! Estamos aqui todos à espera da morte!»


Excertos de "Húmus", de Raul Brandão

A propósito da Alma

« - A alma - diz ele - , ao contrário do que tu supões, a alma é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia toma cor. Há-os cuja alma é duma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes de a matéria comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluídos, formando uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. É assim que o homem faz parte da estrela e a estrela de Deus.»


Excerto de "Húmus", de Raul Brandão

Aurora

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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