« A vida tem sido amarga para mim. Mas, enfim, eu sonhei usar óculos, e uso-os; sonhei ter botas altas, e pude arranjá-las, quando estive na tropa; sonhei ter carta de condução, e tirei-a nessa altura; sonhei - ó sempre Capitão Morgan e meu pai, capitão de navios em que eu navegava da Rocha do Conde de Óbidos a Santa Apolónia! - navegar de longo curso às Áfricas e aos Brasis, e, sabe Deus como, naveguei; sonhei visitar o Castelo da Feira, aquelas torres, aquele eirado dos retratos, e visitei-o sozinho, fechado à chave pelo guarda, que é como aquilo gostosamente se visita.»
Excerto do artigo " Castelos e outros objectos de influência ", de Jorge de Sena, publicado no Jornal de Letras, Nrº 1000