Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

The Beatles - "Tomorrow Never Knows"

The Beatles -" A Day in the Life "

Os vivos

Claro, a raiva domestica-se como os cães. Mas, certas vezes, alguém cede e atira uma bala a dois metros na cara do outro, em pleno café.
Uma tese; esta.
«Um homem só pode actuar porque pode ignorar, e contentar-se com uma parte do conhecimento.» (E sobre o conhecimento escreve que é o capricho particular do homem: ultrapassa o necessário.)

Tens dois metros para saltar e saltas quatro, mas esses dois a mais nada contam senão para o orgulho: não recebes mais pontos nem menos doenças: foi exibida uma habilidade, e é tudo.

As oportunidades de suícidio perdem-se como as moedas. Mas se fazem muito barulho a cair no chão, voltas atrás, baixas o corpo e recuperas essa moeda: guarda-a bem, um dia poderás ter que a utilizar.

A mesma moeda que não sai da posse da mesma pessoa. É imaginar um acaso destes, quinze anos com a mesma moeda: foi um acaso, nada de intencional.

Atirou-se da ponte. Parou o carro. Andou uns metros sobre a ponte. E depois atirou-se. No funeral, mulheres choravam e homens que choravam sem esconder a cara: nada assusta mais que uma coisa vertical e séria que chora, aceitação de tudo: eu aceito, ele aceita, todos aceitam.

E, claro, a ponte: o suicídio. É que por vezes é a raiva que domestica o corpo. Nem sempre os vivos são fortes como alguns vivos são fortes.


Conto de Gonçalo M.Tavares, incluído no livro " água, cão,cavalo, cabeça ", Ed. Caminho

U2 -" Until the End of the World "

Samuel Barber - " Agnus Dei "

Accentus Chamber Choir

Outro desastre

Uma vez senti algo semelhante. Tinha que pagar a um oculista. Levava o cheque já preenchido. Cheguei ao sítio e disseram-me: Morreu ontem, num desastre de carro. Tinha o cheque em nome dele, e agora estava morto. O primeiro pensamento foi: se eu tenho um cheque para lhe pagar, ele não pode estar morto. O segundo pensamento, passado uns segundos, foi: como é que a tua cabeça foi capaz de ter aquele 2º pensamento? O quarto foi: toda a gente pensa todas as hipóteses numa situação, mesmo as hipóteses mais nojentas.

Mas o senhor tinha um pai ainda vivo, e eu rasguei o cheque antigo e escrevi o nome do pai no cheque - era quase o mesmo, só mudava a primeira palavra. Estávamos os dois num restaurante de comidas rápidas, de pé. E o pai do meu oculista, que morrera num desastre de automóvel dois dias antes, estava vestido de preto e estava triste, falava pouco, e tinha os olhos baixos. Mas recebeu o cheque.


Conto de Gonçalo M. Tavares, incluído no livro " água, cão, cavalo, cabeça ", Ed.Caminho

Um País de papagaios

Entrevista de Medina Carreira a José Gomes Ferreira, 10/12/2008,Sic Notícias

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Bauhaus -" All We Ever Wanted "

A moeda

Não há legislação para a música como não há legislação para a doença. A natureza é ilegal e bruta e nós não somos natureza enquanto estamos vivos e ricos, com o corpo esquecido. Mas quando somos velhos somos natureza e quando estamos doentes somos natureza, e quando morremos somos ainda natureza.

E não ter dinheiro é isso: é ser mais natureza, estar mais dependente da falta de legislação que há na música e nos bichos: as coisas escuras amedrontam, tornam-te cobarde, escondes os teus filhos atrás do teu corpo, mas sabes que a bala virá por trás.

Dizem que Lúcifer caiu durante nove dias, mas tal viagem não amedronta ninguém. Não foi uma queda, foi um passeio. Porque nove dias são nove dias, por isso o diabo caiu tão bem, com a roupa direita, engravatado, sem uma dorzinha. Percorre as ruas e parece aos outros o corpo de quem subiu até aqui, e não de quem desceu tanto: nove dias, dizem, foram os dias que demorou Lúcifer a cair.

A maldade não se distingue; como as meninas gémeas que vão para o colégio de mãos dadas, com a vestimenta azul, igual. A maldade não tem uma marca na testa como as vacas que têm doenças e foram marcadas na testa pelo dono.
- Esta é para ser morta, não é para ser vendida.
A doença tem marcas, a pobreza tem marcas, mas a maldade não tem marcas. Os feios têm marcas.

Um vagabundo pedia esmola num semáforo. Passou de um carro para outro, depois para outro. Um deles abriu o vidro da sua porta só uns centímetros e deixou cair uma moeda valiosa ao chão, depois arrancou porque o semáforo estava verde. O pedinte baixou-se para apanhar a moeda e veio um carro que só viu o semáforo verde e atropelou-o. Apanhou-o em cheio, partiu-lhe os ossos da anca.
Já numa maca, em cima do passeio, o dedo esticado do vagabundo não era compreendido por ninguém porque ele não conseguia falar.
- Alguém conhece este homem? Sabem se já não falava antes?
Ele apontava para a moeda no meio da estrada, mas ninguém percebia. E foi levado.

( A química não estuda aquilo que muda na matéria quando a matéria é o nosso corpo e alguém o abraça no momento exacto.)

Três meses depois, quando saiu do hospital, ele coxeava e não falava. Ninguém sabe se foi do acidente ou se antes já ele era mudo e com olhos de louco, porque ninguém o conhecia. (Ninguém podia confirmar se ele já era louco antes. Mas agora era louco.) Nesse mesmo dia ele foi ao sítio do acidente e no meio da estrada perigosa ainda estava a moeda. Meteu-a no bolso. um carro aproximou-se e ele correu para o passeio. Ficou em segurança e acariciou a moeda com os dedos.
Do carro, que novamente quase o atropelara, uma mulher chamou-lhe maluco. Mas ele, o louco, estava contente.


Conto de Gonçalo M.Tavares, incluído no livro "água, cão, cavalo, cabeça", Ed. Caminho

Hanns Eisler -" Elegie "(1939), poema de Bertolt Brecht

Carla Bruni - " Fernande "

Carla Bruni, canta ao vivo " Fernande ", de Georges Brassens.

Ípsilon Online


Plagiando o blogue Da Literatura, ver aqui site da Ípsilon.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Kiss

Marilyn Monroe canta "Kiss", no filme "Niagara"(1953)

Luz sensual

Sensualidade italiana

Oscar Niemeyer: Arquitectura sensual



Ver aqui " Cien años de amor a las curvas ", El País Online

High Places

« Os High Places, ou seja Mary Pearson e Rob Barber, não conhecem os Young Marble Giants, mas as suas cançonetas perseguem o mesmo desígnio, fazendo muito com pouco, ou seja, artesanato em miniatura, criado a partir de polirritmias exóticas, sons naturais e micro-percussões, mistura de elementos orgânicos e produção electrónica, transportados numa pequena caixa de música. "Nunca quisemos ser uma banda rock com guitarra, baixo e bateria, fazendo música numa estrutura reconhecível", explica Mary. "Nunca nos quisemos limitar. Não significa que queiramos fazer uma cacofonia qualquer, mas queremos conciliar melodias familiares com sons misteriosos, conduzindo a nossa música para um lugar tranquilo e hipnótico." » Vítor Belanciano, Ípsilon, 05/12/2008

High Places - "Shared Islands"(Ao vivo)

Ver e ouvir High Places no Myspace, aqui.

Young Marble Giants - " Credit in the straight world "

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pink Floyd -" Pigs "

A carne desapareceu???!!!

« O Ministro da Agricultura, Jaime Silva, admitiu hoje que as 30 toneladas de carne importadas da Irlanda, em Outubro e Novembro, podem ter já desaparecido do mercado, embora as autoridades sanitárias estejam a tentar identificar o seu paradeiro.

Em declarações aos jornalistas, na Figueira da Foz, o ministro sustentou, no entanto, o “risco mínimo” para a saúde, argumentando com a pouca quantidade de carne importada da Irlanda, “insignificante” face ao consumo português.“Trinta toneladas em 440 mil toneladas de consumo que temos em Portugal é 0,006 por cento, ou seja, o risco é mínimo.

O risco que essas 30 toneladas tenham provavelmente já desaparecido no mercado, isso é real”, declarou Jaime Silva.O governante explicou que depois do Ministério da Agricultura ter sido notificado “esta manhã” da existência em Portugal de 30 toneladas de carne importadas da Irlanda.Uma brigada da Direcção-Geral de Veterinária dirigiu-se à empresa importadora, situada em Vila do Conde, “para localizarmos em definitivo onde estão essas 30 toneladas”.» Público Online,08/12/2008


A carne desapareceu provávelmente no meu organismo. Almoço todos os dias, a poucos quilómetros de Vila de Conde, e, estranhei que nas últimas semanas os pratos do dia fossem essencialmente à base de porco. Ainda hoje comi três costelinhas duvidosas.

E, o ministro diz que a carne desapareceu. Não: foi comida, tragada, e transformada pelo nosso sistema digestivo.
" Nós, nos afortunados países do Ocidente, agora consideramos a nossa bolha de liberdade e riqueza, velha de 200 anos, como sendo normal e inevitável; tem sido chamada de o «fim da História», tanto no sentido temporal como taleológico. Contudo, esta nova ordem é uma anomalia; o oposto do que geralmente acontece quando as civilizações crescem. A nossa era foi financiada pela tomada de metade de um planeta, ampliada com a tomada da maior parte da outra metade, e sustentada pelo desgaste de novas formas de capital natural, especialmente combustível fóssil. No Novo Mundo, o Ocidente ganhou o maior prémio de sempre. E não haverá outro igual - a não ser que encontremos os marcianos civilizados de H. G. Wells, completos com a vulnerabilidade aos nossos germes que os derrotou na " Guerra dos Mundos "."


Excerto de " Breve História do Progresso ", de Ronald Wright, Trd. José Couto Nogueira, Ed. D.Quixote

domingo, 7 de dezembro de 2008

Adam & The Ants

Stand and Deliver


Prince Charming

Durutti Column - "Never Know"

Contrastes outonais




" Música a perder de ouvido ", Íntima Fracção, Expresso Online, 12/11/2008

Reflectir sobre o poder(2)

« "¡Uh, ah, Chávez no se va! Si Dios quiere y me da salud, estoy listo para seguir con ustedes. Lo que Dios diga y lo que el pueblo mande", ha repetido insistentemente el gobernante en la celebración de sus diez años de mandato. » El País Online,07/12/2008


Chavez interrumpe discurso del ministro de comunicacion(13/02/2008)

Reflectir sobre o poder(1)

Triumph des Willens (Triumph of the Will), documentário de Leni Riefenstahl .

El mayor asesino de masas*


*«El hombre mide 1,74 metros; su mirada es acuosa; la mandíbula, indefinida; el apretón de manos, blando. Creía que el universo se originó por una mutación de hielo, se entusiasmó con la radiestesia y quiso sustituir el cristianismo por una especie de germanismo. En tiempos normales, la vida del ingeniero agrónomo Heinrich Himmler habría transcurrido al margen de la sociedad burguesa. Pero el muniqués, nacido en 1900, vivió en los primeros 45 años del siglo XX, una época de extremos. Así, este sujeto estrafalario llegó a convertirse en "jefe supremo de las SS"; el hombre más temido de Europa, el ejecutor de los planes de Hitler. "¿Es judío?", preguntó Himmler en 1941 en una visita al frente oriental a un prisionero ruso y rubio. "Sí". "¿Hijo de padre y madre judíos?". "Sí", respondió el pobre hombre. "¿Tiene algún antepasado no judío?". "No". "Pues no puedo hacer nada por usted". Fue asesinado de un tiro. Así era Heinrich Himmler. » El País Semanal, 07/12/2008

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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