Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sábado, 29 de dezembro de 2007

Balanços de 2007 (2)




Anais Mitchell -" Old Fashioned Hat "

Os dez melhores discos, nacionais e internacionais, para o Blogue do JL.

Balanços de 2007 (1 )

Os dez livros do ano, para o suplemento Babelia do jornal El País.

"Exit Music "(for Donnie Darko) - Radiohead

Aqui não há inocentes

" - Ai de quem me diga que alguém é inocente. Tudo menos isso. Porque aqui não há inocentes. Ninguém está aqui por acaso. Quem atravessou o portão deste Pátio não é inocente. Fez qualquer coisa de mal, mesmo que tenha sido em sonhos. Ou pelo menos, a sua mãe, quando o paria, pensou em qualquer coisa de mal. Cada um, claro, diz que não é culpado, mas, em todos estes anos que aqui passei ainda não conheci um só caso que tivesse sido para cá trazido sem mais nem menos e sem culpa nenhuma. Quem aqui entra, culpado é ou, no mínimo, passou perto de um culpado. Ffiii! Foram muitos os que soltei, por ordem alheia ou à minha responsabilidade. Mas eram todos culpados. Aqui não há inocentes. Mas há culpados, aos milhares, que não estão aqui e que jamais para cá virão parar, porque se todos os culpados acabassem aqui, este pátio teria de se estender de mar a mar. Eu conheço os homens, são todos culpados, só que nem todos estão destinados a comerem o pão aqui."

Excerto de " O pátio maldito ", de Ivo Andric, Trd. Lucia e Dejan Stankovic,Ed. Cavalo de Ferro,2003

Radiohead - "You"

Morrisey - " Everyday Is Like Sunday "

Gomez -" Machismo "

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

"Roda Viva" - Chico Buarque

Roda Viva

Composição: Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu...

A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega o destino prá lá ...

Roda mundo, roda gigante

Roda moinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração...

A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a roseira prá lá...

Roda mundo, roda gigante

Roda moinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração...

A roda da saia mulata

Não quer mais rodar não senhor

Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou...

A gente toma a iniciativa

Viola na rua a cantar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a viola prá lá...

Roda mundo, roda gigante

Roda moinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração...

O samba, a viola, a roseira

Que um dia a fogueira queimou

Foi tudo ilusão passageira

Que a brisa primeira levou...

No peito a saudade cativa

Faz força pro tempo parar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a saudade prá lá ...

Roda mundo, roda gigante

Roda moinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas rodas do meu coração

A consoada

" Sentados à grande mesa, todos riem e galhofam, mas eis que chega o esperado e fiel amigo. Faz-se então o silêncio das grandes ocasiões. Nem palavra, porque a coisa impõe respeito. Enchem-se os pratos desta delícia e é uma refeição inteira, que para ser a preceito apenas se completa com os doces tradicionais desse dia e as frutas secas que também é de uso petiscar - os figos, as passas de uva, as pêras e as ameixas, a noz, a avelã, a amêndoa e o pinhão -, e que, depois do honesto vinho de mesa, fazem boca para os mais apaladados e espirituosos néctares, que no Alto Douro são de se lhe tirar o chapéu. Nisto degenerou a parca ceia de magro, da originária consoada, e temos em boa razão de convir que degenerou bem, evoluiu num mais lato e farto sentido das coisas, quer pela graça sentimental, quer no verdadeiro conteúdo. Dá aprazimento e conforto. Pelo tempo frio come-se melhor. Bênçãos devemos aos céus, quando generosamente as coisas, assim a nosso contento se transformam. E é este o caso."

Excerto de " A consoada ", incluído no " Roteiro Sentimental Douro" de Manuel Mendes, escrito entre 1961/1963 e publicado em 1964 e 1967, reeditado em 2002 pela Afrontamento

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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