Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sábado, 28 de fevereiro de 2009

O caminho do Oriente

Prancha do álbum " O caminho do Oriente ", desenhado por Eduardo Teixeira Coelho.

The Undertones



Waves


Pontes...



Porto, 24/02/2009

Japan



Sgt. Kirk


Ler aqui na Wikpédia.

Manuel Chaves Nogales

« La historia, la literatura y el periodismo -si es que hay que diferenciar entre estas dos últimas categorías- han acabado por darle la razón. Para la vida, Chaves Nogales fue valiente; para el oficio, audaz y creativo hasta la genialidad. Es decir, hasta inventar caminos que nunca antes había explorado nadie y crear con ellos una escuela que es vigente, en la que trastocó todos los géneros y los modernizó hasta un punto en que hoy, al leerlo, parecen recién inventados. Genial es un adjetivo tan manoseado ante el que se impone no malgastar gratuitamente el uso para aquellos que no lo merezcan. Pero en el caso de este hombre, cuadra a la perfección por abrir caminos que unen la urgencia del periodismo con el arte literario. Por su utilización proverbial y acertada del lenguaje, tan efectiva y práctica como bella, contundente y alejada del artificio.» Ler aqui artigo de Jesús Ruiz Mantilha para a Babélia(El País),28/02/2009

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Identificação de uma mulher(3)


" Eu continuei sem dizer nada, olhando-o com grande tristeza, os meus lábios mascarados pela franja do meu xaile preto. Ficou um momento junto à vidraça pela qual, hesitante, esbarrando-se e zumbindo, uma mosca subia, subia e caía de novo. Depois passou o dedo pelas lombadas dos livros na minha estante. Como a maior parte das pessoas que lêem pouco, sentia uma afeição rasteira por dicionários e vai então de tirar um grosso volume cor-de-rosa com uma corola de dente-de-leão e uma rapariga de cabelos ruivos na capa.

- Korochaia chtuka - disse ele: pôs no sítio a chtuka(coisa) e de súbito desatou a chorar. Mandei-o sentar-se ao meu lado no divã, ele tombou para um lado, com os soluços a aumentarem, e acabou por enterrar a cara no meu regaço. Dei uma palmadinha leve na lixa do seu escalpe e na robusta nuca rosada que considero tão atraente nos homens. Aos poucos, os espasmos foram cedendo. Ele mordeu-me de mansinho através da saia e sentou-se.

- Sabes que mais? - disse Pavel Romanovitch, e enquanto falava estalou sonoramente as palmas côncavas das suas mãos colocadas na horizontal ( não pude deixar de sorrir ao lembrar-me de um tio meu, proprietário rural no Volga, que costumava descrever assim o som de uma procissão de dignas vacas ao deixarem cair a bosta ). - Sabes que mais caríssima? Vamos para minha casa. Não suporto a ideia de estar lá sozinho. Jantamos, bebemos umas vodcas, depois vamos ao cinema... Que dizes?

Não podia recusar a sua oferta, embora soubesse que me ia arrepender. enquanto telefonava para o antigo emprego de Niki ( ele precisava das galochas de borracha que lá deixara ), vi-me ao espelho da entrada, parecia uma freira decadente com cara de cera austera; mas no minuto seguinte, quando passei ao acto de me embelezar e de pôr o chapéu, como que mergulhei no fundo dos meus grandes olhos negros experientes e aí encontrei um brilho nada freirático: mesmo através da voilette, como eles ardiam, céus, como ardiam!


Excerto do conto " Um caso verídico ", de Vladimir Nabokov, Trd. Telma Costa
Fotografia de Ewa Brzozowska

Identificação de uma mulher(2)

Identificação de uma mulher(1)



O eclipse






Excerto de " O eclipse "(cena final), de Michelangelo Antonioni.

Música de Prokofiev, 7ª Sonata, 2º Andamento, interpretada por Richter.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Leituras na retrete (1)

" Leu o anúncio do cinema que estava preso com punaises na leitaria; os outros anúncios, por baixo, estavam rasgados. Bloch continuou a andar e encontrou um rapaz soluçando numa quinta. Viu vespas no pomar. Num crucifixo ao pé da estrada havia flores velhas em latas de conserva. Na relva ao lado havia caixas de cigarros vazias. perto das janelas fechadas, viu ganchos que pendiam das persianas. quando passou por uma janela aberta, cheirou-lhe a qualquer coisa estragada. no bar a locatária disse-lhe que tinha morrido uma pessoa na casa em frente, no dia anterior."

Excerto de "A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty", de Peter Handke, Trd. Maria Adélia Silva Melo


Braga, 22/02/2009

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Slumdog Millionaire


" Mas aquelas duas crianças conseguiriam ou não alcançar ao menos a última carruagem do comboio? Ivanov debruçou-se da carruagem e olhou para trás.


As duas crianças, de mãos dadas, continuavam a correr em direcção à passagem de nível. Caíram as duas ao mesmo tempo, levantaram-se e continuaram a correr. A mais crescida levantou o braço e, voltando o rosto no sentido da marcha do comboio, acenou como quem chama alguém e lhe pede que volte. E então caíram de novo. Ivanov reparou que a criança mais crescida tinha um pé calçado com uma bota de feltro e o outro com uma galocha de borracha - e era por isso que caía tantas vezes.


Ivanov fechou os olhos, não querendo ver nem sentir a dor das crianças exaustas caídas no chão, e de repente sentiu um calor dentro do peito, como se o coração, encerrado e ansioso dentro dele, estivesse a bater há muito e em vão durante toda a sua vida, e só agora começasse a bater em liberdade, enchendo todo o seu ser de calor e de frémito. De repente reconheceu tudo aquilo que já conhecia antes, com muito mais precisão e autenticidade. Dantes sentia a vida através da barreira do amor-próprio e do seu próprio interesse, e agora de súbito tocava-a de coração descoberto.


Do estribo da carruagem olhou uma vez mais na direcção da cauda do comboio, para as crianças distantes. Agora já sabia que eram os seus filhos, Petruchka e Nástia. Certamente tinham-no visto quando a carruagem atravessava a passagem de nível, e Petruchka chamava-o para casa, para junto da mãe, e ele não lhe prestara atenção, pensava noutra coisa e não reconhecera os seus próprios filhos.


Agora Petruchka e Nástia corriam atrás do comboio, longe, pelo caminho de areia ao lado da linha; continuava a segurar a mão da pequena Nástia, arrastando-a quando ela não conseguia acompanhá-lo na corrida.


Ivanov atirou o saco para o chão, depois desceu para o último degrau e saltou do comboio para o caminho de areia por onde os seus filhos corriam atrás dele."




Excerto do conto " O regresso ", de Andrei Platónov, Trd. António Pescada

...


terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Arquivo do blogue

Acerca de mim

" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

FEEDJIT Live Traffic Feed