Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Don McCullin











Fotografias de Don McCullin, ver aqui na Wikipédia.

« Pensava ele que a saída da prisão iria marcar o início da sua libertação... Mas é a partir de agora que se vai sentir acossado, acossado por uma matilha de pessoas, sem entender porquê. Fugi de Paris porque já não tinha forças... e provavelmente também porque me sentia farto do cerco que me faziam antigos e novos amigos, escreve ele a alguém que o não esqueceu quando ele estava preso. Foi então que os jornais começaram a publicar certas anedotas como a que se segue:

dois anos e meio, Jean Galmot recebia a visita dum jornalista com um nome bem parisiense: chamemos-lhe...
Jacob.
Acabada a entrevista, ia-se despedir a criatura quando Jean Galmot, depois de o ter observado, lhe perguntou:
- Está a olhar para essa pepita de ouro?... Trouxe-a da Guiana.
- É espantosa.
- Gosta? ... Pode ficar com ela. Mas seja amável comigo.
Jacob fica com a pepita, mas esquece-se mais tarde, quando Galmot está em apuros, de ser amável com ele ao escrever a entrevista...
Há dias atrás, depois da libertação do ex-deputado da Guiana, o nosso jornalista tentou de novo entrevistá-lo.
Mas não consegue e obtém de Galmot estas palavras:
- Tenho muita pena, meu caro... Agora já não há mais pepitas de ouro para lhe oferecer.»


Excerto de " Rum A vida secreta de Jean Galmot ", de Blaise Cendrars, Trd. Armando Silva Carvalho, Ed. Assírio & Alvim, 2005

terça-feira, 12 de maio de 2009

Jessica Tremp

Ver aqui site de Jessica Tremp.

"Burbujas" de Daniel Torres

« Es la historia de un tipo gris que tiene una epifanía viendo una pecera. Y la de ese tipo gris que se da cuenta de que le hubiera gustado ser carpintero. Y la de ese mismo tipo gris que atraviesa por una crisis vital. Y también la de su familia, la de un amigo filósofo con alma de Piolín, la de unas vértebras que hablan, y la del poder (o debilidad) de la memoria. Definir "Burbujas", la última obra del dibujante valenciano Daniel Torres ('Opium', Roco Vargas) es difícil, pero sea cual sea la respuesta se trata, sin lugar a dudas, del mejor trabajo de uno de los grandes del tebeo español de todos los tiempos y de una obra condenada a cosechar más de un premio.» ler aqui.
Javier Cavanilles, El Mundo, 12/05/2009

domingo, 10 de maio de 2009

Nua, absolutamente nua


Quando uma coisa se torna popular como os espectáculos de strip-tease, aparece sempre alguém a tentar fazê-lo às avessas. Certo dia o Sr. Samuel J. Burger telefonou para a redacção a dizer que passara a ser o agente de «uma dama de Chicago, e c´um caraças, ela é tão fora de série que me põe maluco.» Nesse dia não me sentia muito bem, e por isso mandaram-me entrevistá-la. O Sr. Burger é um empresário da Broadway, magro, inspirado, de bigodes encerados, que contrata para os espectáculos de vaudeville números como os júris dos julgamentos de homicídios, bubble dancers e índios que lêem a mente.
A sua última atracção revelou-se como sendo uma jovem com uma formação da escola profissional, com umas risadinhas e um par de gâmbias de anúncios de meias. Tinha dezanove anos e chamava-se Jan Marsh. Encontrámo-nos com ela num hotel com teatro e ela fez uma demonstração do seu número.
«Talvez esteja maluca», disse ela, desenfiando o vestido, «mas parece-me que tenho aqui um número capaz de arruinar os esquemas de extorsão do streap-tease.»
Atirou o vestido para o braço de uma cadeira, e depois tirou os sapatos e as meias. A seguir despiu um conjunto de roupa interior de renda preta.
«Agora, olhem», disse ela, desnecessariamente. «É assim que eu começo o meu número. Começo onde o strip-tease acaba. Estou nua, absolutamente nua. Oh, absolutamente. Apareço diante do público assim. Enfio as minhas cuequinhas de renda preta. Depois ponho o cinto de ligas. Depois enfio as meias de rede pretas. O preto é tão fascinante. Depois calço os sapatos. Depois ponho o vestido, um vestido de fecho, do género a que chamam «vestido táxi.» Depois ponho um alfinete de flores, orquídeas talvez. E vou continuando a enfiar peças de roupa até o público começar a resmungar. Visto aí uma tonelada de roupas. Pode ser que eu seja maluca, absolutamente maluca, mas estou convencida de que o meu número vai acabar com os escroques do strip-tease, o que seria prestar um grande serviço ao meu país.»
Miss Marsh sorriu. Depois executou uns passos de dança.
«Claro», disse ela «Faço isso pela arte e não estou a dizer que o meu namorado se chama Art. Reparei no enorme sucesso dessas mulheres voluptuosas do strip-tease, mas não me parece que o público esteja realmente interessado nesse género de coisas. Sou uma rapariga terna e simples. Não sou como essas mulheres aos pulos. Penso que quando eu fizer o inverso do strip-tease, ele se tornará imensamente popular e iniciará um novo movimento. Não fumo nem bebo. Claro que se apreciasse o sabor bebia, mas acho o whisky um horror. Sou boa nadadora. Sou apenas uma rapariga americana simples, e acho que o público preferia isso a uma dessas mulheres aos pulos.»
Miss Marsh disse ter nascido em South Amboy, em New Jersey, mas que a família se mudara para Chicago quando era criança. Os pais tinham-se divorciado. Disse que a mãe sabe que ela viera a Nova Iorque para dar cabo dos escroques do strip-tease e não se importa. Disse que andou no liceu de Chicago e na Drake´s Business College. Depois arranjou um emprego como secretária de uma senhora que trabalhava para a administração da cidade.
«Estava no departamento dos impostos, ou coisa assim», disse Miss Marsh.
Depois informou-nos de que, quando era mais nova, tinha posado para artistas.
«Gosto de posar para artistas», disse ela. «São muito sérios. Ficamos nuas diante deles durante horas, mas eles não se interessam por nós, a não ser de um ponto de vista artístico, e eu gosto disso. Somos apenas um uma inspiração para eles. Sou uma rapariga séria. Nem sequer apalpanços admito.»
Miss Marsh sorriu.
«É do estilo alta-roda», disse o Sr. Burger.
«É isso», disse Miss Marsh.
Disse que recentemente tinha poupado algum dinheiro e decidira vir a Nova Iorque e subir ao palco.
«Tinha na cabeça esta ideia de deitar abaixo o strip-tease», disse ela, «e as pessoas diziam-me que era louca. Foi então que ouvi falar no senhor Burger e pensei que ele devia ter as mesmas ideias. Fui ter com ele e achei que tinha.»
«Os grandes espíritos trabalham no mesmo comprimento de onda», disse o Sr. Burger, sacudindo umas cinzas do cravo branco que trazia na lapela do sobretudo.

Crónica de Joseph Mitchell, incluída no livro " Sou todo ouvidos ", Trd. José Lima, Ed. Ambar, 2006

Sophie Evans


























«Sophie Evans es una estrella. Perfeccionista y exigente. Se cuida. Pasa controles de hepatitis, VIH y herpes genital. Es monógama. No fuma ni bebe ni se droga. Lleva una vida ordenada. Como una deportista de élite. Ha intervenido en 200 películas. Ha rodado en Los Ángeles y Budapest, las mecas del sector. A la orden de los más grandes directores del cine para adultos. Junto a los galanes del género. Ha protagonizado miles de escenas sexuales. Sin trampa ni cartón. Ni condón. Felaciones, sexo anal y vaginal; números lésbicos; dobles penetraciones. Su récord en pantalla ha sido mantener sexo con cinco hombres a la vez. “Fue muy bonito. Una sensación diferente. Era precioso ver a esos cinco chicos tan excitados conmigo. He hecho de todo en pantalla salvo cosas extremas; no me gusta que me aten; ni hago nada con animales ni lluvia dorada. Y prefiero la doble penetración al anal, me excita más y pagan mejor”.», ler aqui.

Jesús Rodríguez, El País Semanal, 10/05/2009
« Era do lado de Méséglise, em Montjouvain, casa situada à beira de um grande charco e encostada a um talude de silvedos, que morava o senhor Vinteuil. Por isso, encontrávamos muitas vezes no caminho a sua filha, que conduzia um buggy a toda a velocidade. A partir de um certo ano, nunca mais a vimos só, mas acompanhada de uma amiga mais velha, que tinha má fama na região e que um dia se instalou definitivamente em Montjouvain. Dizia-se: «É preciso que o pobre senhor Vinteuil esteja cego pela ternura para não dar por aquilo que se conta, e para permitir, ele que se escandaliza com uma palavra deslocada, que a filha ponha a viver debaixo do seu tecto uma mulher daquelas. Diz ele que é uma mulher superior, um grande coração, e que teria predisposições extraordinárias para a música se as tivesse cultivado. Mas pode estar certo de que não é de música que ela trata com a sua filha.» O senhor Vinteuil dizia aquilo; e, com efeito, é notável como uma pessoa provoca sempre admiração pelas suas qualidades morais em casa dos pais de qualquer outra pessoa com quem tem relações carnais. O amor físico, tão injustamente desacreditado, força de tal modo todo e qualquer ser a manifestar até às mínimas parcelas que possui bondade e desprendimento de si mesmo, que estas qualidades resplendem mesmo aos olhos dos que o rodeiam de perto. O doutor Percepied, cuja voz grossa e grossas sobrancelhas permitiam representar quando quisesse o papel de pérfido, para que não possuía o físico adequado, sem comprometer em nada a sua inquebrantável e imerecida reputação de ríspido benfeitor, sabia a fazer rir até às lágrimas o prior e toda a gente dizendo num tom rude: «Bem! Acho que ela faz música com a amiga, a menina Vinteuil. Parece que se admiram com isso. Eu cá não sei. Foi o pai Vinteuil que ainda ontem mo disse. No fim de contas, a rapariga tem todo o direito de gostar de música. Mas eu não sou daqueles que contrariam as vocações artísticas dos filhos. E parece que Vinteuil também não. E, além disso, ele também faz música com a amiga da filha. Ah, coa breca, tanta música que se faz naquela casa. Mas porque é que se estão a rir? A verdade é que aquela gente faz música de mais. No outro dia encontrei o pai Venteuil perto do cemitério. Mal se tinha nas pernas.»

Excerto de "Do lado de Swann "( Em busca do Tempo Perdido), de Marcel Proust, Trd. Pedro Tamen, Ed. Círculo de Leitores, p.p. 156/157

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