Quando uma coisa se torna popular como os espectáculos de strip-tease, aparece sempre alguém a tentar fazê-lo às avessas. Certo dia o Sr. Samuel J. Burger telefonou para a redacção a dizer que passara a ser o agente de «uma dama de Chicago, e c´um caraças, ela é tão fora de série que me põe maluco.» Nesse dia não me sentia muito bem, e por isso mandaram-me entrevistá-la. O Sr. Burger é um empresário da Broadway, magro, inspirado, de bigodes encerados, que contrata para os espectáculos de vaudeville números como os júris dos julgamentos de homicídios, bubble dancers e índios que lêem a mente.
A sua última atracção revelou-se como sendo uma jovem com uma formação da escola profissional, com umas risadinhas e um par de gâmbias de anúncios de meias. Tinha dezanove anos e chamava-se Jan Marsh. Encontrámo-nos com ela num hotel com teatro e ela fez uma demonstração do seu número.
«Talvez esteja maluca», disse ela, desenfiando o vestido, «mas parece-me que tenho aqui um número capaz de arruinar os esquemas de extorsão do streap-tease.»
Atirou o vestido para o braço de uma cadeira, e depois tirou os sapatos e as meias. A seguir despiu um conjunto de roupa interior de renda preta.
«Agora, olhem», disse ela, desnecessariamente. «É assim que eu começo o meu número. Começo onde o strip-tease acaba. Estou nua, absolutamente nua. Oh, absolutamente. Apareço diante do público assim. Enfio as minhas cuequinhas de renda preta. Depois ponho o cinto de ligas. Depois enfio as meias de rede pretas. O preto é tão fascinante. Depois calço os sapatos. Depois ponho o vestido, um vestido de fecho, do género a que chamam «vestido táxi.» Depois ponho um alfinete de flores, orquídeas talvez. E vou continuando a enfiar peças de roupa até o público começar a resmungar. Visto aí uma tonelada de roupas. Pode ser que eu seja maluca, absolutamente maluca, mas estou convencida de que o meu número vai acabar com os escroques do strip-tease, o que seria prestar um grande serviço ao meu país.»
Miss Marsh sorriu. Depois executou uns passos de dança.
«Claro», disse ela «Faço isso pela arte e não estou a dizer que o meu namorado se chama Art. Reparei no enorme sucesso dessas mulheres voluptuosas do strip-tease, mas não me parece que o público esteja realmente interessado nesse género de coisas. Sou uma rapariga terna e simples. Não sou como essas mulheres aos pulos. Penso que quando eu fizer o inverso do strip-tease, ele se tornará imensamente popular e iniciará um novo movimento. Não fumo nem bebo. Claro que se apreciasse o sabor bebia, mas acho o whisky um horror. Sou boa nadadora. Sou apenas uma rapariga americana simples, e acho que o público preferia isso a uma dessas mulheres aos pulos.»
Miss Marsh disse ter nascido em South Amboy, em New Jersey, mas que a família se mudara para Chicago quando era criança. Os pais tinham-se divorciado. Disse que a mãe sabe que ela viera a Nova Iorque para dar cabo dos escroques do strip-tease e não se importa. Disse que andou no liceu de Chicago e na Drake´s Business College. Depois arranjou um emprego como secretária de uma senhora que trabalhava para a administração da cidade.
«Estava no departamento dos impostos, ou coisa assim», disse Miss Marsh.
Depois informou-nos de que, quando era mais nova, tinha posado para artistas.
«Gosto de posar para artistas», disse ela. «São muito sérios. Ficamos nuas diante deles durante horas, mas eles não se interessam por nós, a não ser de um ponto de vista artístico, e eu gosto disso. Somos apenas um uma inspiração para eles. Sou uma rapariga séria. Nem sequer apalpanços admito.»
Miss Marsh sorriu.
«É do estilo alta-roda», disse o Sr. Burger.
«É isso», disse Miss Marsh.
Disse que recentemente tinha poupado algum dinheiro e decidira vir a Nova Iorque e subir ao palco.
«Tinha na cabeça esta ideia de deitar abaixo o strip-tease», disse ela, «e as pessoas diziam-me que era louca. Foi então que ouvi falar no senhor Burger e pensei que ele devia ter as mesmas ideias. Fui ter com ele e achei que tinha.»
«Os grandes espíritos trabalham no mesmo comprimento de onda», disse o Sr. Burger, sacudindo umas cinzas do cravo branco que trazia na lapela do sobretudo.
Crónica de Joseph Mitchell, incluída no livro " Sou todo ouvidos ", Trd. José Lima, Ed. Ambar, 2006
A sua última atracção revelou-se como sendo uma jovem com uma formação da escola profissional, com umas risadinhas e um par de gâmbias de anúncios de meias. Tinha dezanove anos e chamava-se Jan Marsh. Encontrámo-nos com ela num hotel com teatro e ela fez uma demonstração do seu número.
«Talvez esteja maluca», disse ela, desenfiando o vestido, «mas parece-me que tenho aqui um número capaz de arruinar os esquemas de extorsão do streap-tease.»
Atirou o vestido para o braço de uma cadeira, e depois tirou os sapatos e as meias. A seguir despiu um conjunto de roupa interior de renda preta.
«Agora, olhem», disse ela, desnecessariamente. «É assim que eu começo o meu número. Começo onde o strip-tease acaba. Estou nua, absolutamente nua. Oh, absolutamente. Apareço diante do público assim. Enfio as minhas cuequinhas de renda preta. Depois ponho o cinto de ligas. Depois enfio as meias de rede pretas. O preto é tão fascinante. Depois calço os sapatos. Depois ponho o vestido, um vestido de fecho, do género a que chamam «vestido táxi.» Depois ponho um alfinete de flores, orquídeas talvez. E vou continuando a enfiar peças de roupa até o público começar a resmungar. Visto aí uma tonelada de roupas. Pode ser que eu seja maluca, absolutamente maluca, mas estou convencida de que o meu número vai acabar com os escroques do strip-tease, o que seria prestar um grande serviço ao meu país.»
Miss Marsh sorriu. Depois executou uns passos de dança.
«Claro», disse ela «Faço isso pela arte e não estou a dizer que o meu namorado se chama Art. Reparei no enorme sucesso dessas mulheres voluptuosas do strip-tease, mas não me parece que o público esteja realmente interessado nesse género de coisas. Sou uma rapariga terna e simples. Não sou como essas mulheres aos pulos. Penso que quando eu fizer o inverso do strip-tease, ele se tornará imensamente popular e iniciará um novo movimento. Não fumo nem bebo. Claro que se apreciasse o sabor bebia, mas acho o whisky um horror. Sou boa nadadora. Sou apenas uma rapariga americana simples, e acho que o público preferia isso a uma dessas mulheres aos pulos.»
Miss Marsh disse ter nascido em South Amboy, em New Jersey, mas que a família se mudara para Chicago quando era criança. Os pais tinham-se divorciado. Disse que a mãe sabe que ela viera a Nova Iorque para dar cabo dos escroques do strip-tease e não se importa. Disse que andou no liceu de Chicago e na Drake´s Business College. Depois arranjou um emprego como secretária de uma senhora que trabalhava para a administração da cidade.
«Estava no departamento dos impostos, ou coisa assim», disse Miss Marsh.
Depois informou-nos de que, quando era mais nova, tinha posado para artistas.
«Gosto de posar para artistas», disse ela. «São muito sérios. Ficamos nuas diante deles durante horas, mas eles não se interessam por nós, a não ser de um ponto de vista artístico, e eu gosto disso. Somos apenas um uma inspiração para eles. Sou uma rapariga séria. Nem sequer apalpanços admito.»
Miss Marsh sorriu.
«É do estilo alta-roda», disse o Sr. Burger.
«É isso», disse Miss Marsh.
Disse que recentemente tinha poupado algum dinheiro e decidira vir a Nova Iorque e subir ao palco.
«Tinha na cabeça esta ideia de deitar abaixo o strip-tease», disse ela, «e as pessoas diziam-me que era louca. Foi então que ouvi falar no senhor Burger e pensei que ele devia ter as mesmas ideias. Fui ter com ele e achei que tinha.»
«Os grandes espíritos trabalham no mesmo comprimento de onda», disse o Sr. Burger, sacudindo umas cinzas do cravo branco que trazia na lapela do sobretudo.
Crónica de Joseph Mitchell, incluída no livro " Sou todo ouvidos ", Trd. José Lima, Ed. Ambar, 2006
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