" Estarei certo? Um homem de bom senso, acreditaria no que ouvi ontem à noite, no que imagino saber? Aconselhar-me-ia a esquecer este pesadelo de ver em tudo uma máquina organizada para me capturar?
E se se tratasse de uma máquina para capturar-me, porque seria tão complexa? Porque não me deteria, directamente? Não seria uma loucura toda esta laboriosa representação?
Os nossos hábitos supõem um modo de as coisas se sucederem, umas às outras, uma vaga coerência do mundo. Agora a realidade propõe-se-me transmutada, irreal. Quando um homem desperta ou morre, tarda em desfazer-se dos terrores do sono, das peocupações e das manias da vida. Agora vai custar-me a perder os costume de ter medo destas pessoas. "
Excerto de " A
invenção de Morel ", de
Adolfo Bioy Casares, Trd. Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá, Ed. Antígona, 1984
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aqui prólogo de Jorge Luís Borges.