
Obra gráfica de Carlos Franco, ler aqui.
Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com
Observe nas cenas, o indivíduo branco barbudo entre os índios. Ele é Hans Staden, um europeu que viveu entre os Tupinambás após ter naufragado com seu navio no litoral de São Vicente em São Paulo. Outra cena do ritual. Após ser separado em partes o prisioneiro era assado e depois consumido por todos. Pelo requinte no detalhamento da cena, observa-se claramente a exaltação do Europeu pelo mórbido e como forma de tratar os brasileiros como bárbaros. Gravura de Theodore de Bry feita por volta de 1540.
Ilustração de uma cena de canibalismo conforme relato de Hans Staden, um Europeu que conviveu com os índios na época do descobrimento. Estes relatos, a nosso ver eram muito fantasiosos e refletiam mais um desejo pelo exótico fantástico do povo europeu, que a realidade dos nossos antepassados. De acordo com relatos dos primeiros Europeus que por aqui passaram, principalmente Jean de Léry, um calvinista francês, os Tupinambás comiam seus adversários e acreditavam que com isso o espírito guerreiro do inimigo se incorporava ao seu. Gravura de Theodore de Bry feita por volta de 1540.
É importante que se diga que o ilustrador não presenciou nada disso, ele apenas retratou baseado em esboços recebidos dos viajantes e em descrições textuais que estes também fizeram. Nesta cena os índios, principalmente mulheres e crianças, consomem uma espécie de sopa, que conforme os relatos desse religioso que sequer falava a língua deles, consideravam muito substanciosa e que eles preparavam com as vísceras do prisioneiro. Gravura de Theodore de Bry feita por volta de 1540.
Ontem, na sua coluna do Diário de Notícias, escrevendo sobre direito de escolha, João Miranda afirma:«[...] Considere-se o exemplo da ópera. A ópera é um espectáculo sujeito às regras da escassez que, por ser especialmente caro e especialmente desinteressante, acaba por ser uma actividade residual. Claro que o direito negativo à escolha está garantido. Ninguém é impedido de ir à ópera. O problema, para a pequena minoria que gosta de ópera, é que em condições normais a procura não é suficiente para justificar espectáculos regulares de ópera. Se dependesse do mercado, essa pequena minoria ficaria sem o seu direito positivo à ópera. [...] Quando o Estado cobra impostos às pessoas que detestam ópera para pagar espectáculos às que gostam, prejudica as primeiras de duas formas. [...] Os subsídios à ópera são um caso particularmente perverso de intervenção estatal. O objectivo declarado dos subsídios é criar escolhas de modo a que ninguém possa ficar impedido de ir à ópera por razões económicas. No entanto, dado que a ópera é tendencialmente uma actividade que interessa muito mais aos ricos que aos pobres, existe uma grande probabilidade de serem os que têm menos escolhas a financiar os que têm mais escolhas.»Acompanho o raciocínio, mas não subscrevo. É que eu gosto de ópera. [Estou neste preciso momento a ouvir a Callas em L’altra notte in fondo al mare, do Mefistofele de Boito.] Perversão por perversão, a indústria do futebol não existiria nos moldes em que existe sem as mãos largas (e o conúbio político) do Estado. Ser para uma larga maioria não justifica tudo. Haverá sempre uma minoria lesada. O problema não está nos subsídios. Está no seu uso deficiente. O Estado devia ter a obrigação de promover a educação musical desde o ensino básico. E sobretudo devia obrigar o Teatro Nacional de Ópera, através de exigência contratual expressa (e não tácita), a promover récitas paralelas em recintos que permitissem preços acessíveis à maioria das pessoas, como aliás se fez até ao início dos anos 1980, fosse nos Coliseus de Lisboa e do Porto, no grande auditório do Centro Cultural de Belém ou no Pavilhão Atlântico. As pessoas “não gostam” porque não ouvem. E não ouvem por uma série de razões (e preconceitos) que o Estado podia e devia ajudar a ultrapassar. O americano médio, como o inglês ou o francês médios, não é mais culto que o português médio. Então por que carga de água as temporadas de ópera de Nova Iorque, Londres (ambas sem um cêntimo estatal) e Paris estão sempre esgotadas?