Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

terça-feira, 15 de maio de 2007

" Da indústria literária "

A democracia introduz não só o gosto pelas letras nas classes que trabalham na indústria, mas também o espírito industrial no seio da literatura.
Nas aristocracias, os leitores são difíceis e pouco numerosos; nas democracias, é mais fácil agradar-lhes e o seu número é prodigioso. Daqui resulta que no seio dos povos aristocráticos só se pode ter esperança de triunfar à custa de esforços imensos, esforços esses que, se por um lado podem proporcionar muita glória, por outro nunca trazem muito dinheiro; pelo contrário, nas nações democráticas, um escritor pode gabar-se de obter, sem grande dificuldade, um prestígio medíocre e uma grande fortuna. Para isso, não é necessário que o admirem; basta que o aprovem.
A multidão sempre crescente dos seus leitores e a sua necessidade constante de novidades asseguram a venda de um livro que não é, demodo nenhum, estimado.
Nas épocas democráticas, o público age frequentemente em relação aos autores como os reis costumam fazer com os cortesãos: enriquecem-nos e desprezam-nos. De que mais precisam as almas mercenárias que nascem nas cortes ou que são dignas de aí viver?
Este tipo de autores que apenas vêem nas letras uma indústria abundam nas literaturas democráticas e a alguns grandes escritores que aí possam existir pode-se contrapor milhares de vendedores de ideias. "

Capítulo XIV, " Da Democracia na América ", de Alexis de Tocqueville, Trd. Carlos Correia Monteiro de Oliveira, Ed. Principa, 2002

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