Suede -" So Young "
Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com
sábado, 1 de março de 2008
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Animais....!
" Se existissem domínios mais sombrios da noite ele tê-los-ia descoberto. Jazendo com os dedos enfiados nos ouvidos para não esquecer o chilreio estridente dos miríades de grilos negros com quem partilhava a choupana de paredes nuas. Uma noite, meio adormecido na enxerga, ouviu algo galopar pelo quarto e saltar fantasmagoricamente ( viu ele, enquanto lutava para se erguer) pela janela aberta. Ficou sentado buscando em volta com o olhar mas o vulto tinha desaparecido. Conseguia ouvir cães de caça gritando a plenos pulmões, lamentos torturados e latidos quase de agonia vindos do ribeiro, subindo o vale. Inundaram o pátio da choupana num pandemónio de uivos em soprano e arbustos entrechocando-se. Ballard, nu e de pé, viu à ténue luz das estrelas a porta da frente encher-se da soleira para cima com cães vociferando. Ali ficaram por um momento numa moldura palpitante de pelagens malhadas e depois arquearam-se para a frente e encheram o quarto, descreveram um círculo num crescendo de corpos entrelaçados e depois precipitaram-se de roldão pela janela fora entre uivos dissonantes, arrastando primeiro os pinázios, a seguir o caixilho, deixando um buraco quadrado e nu na parede e um tinido nos ouvidos de Ballard. Enquanto ele ali estava praguejando mais dois cães entraram pela porta. Pontapeou um ao passar, enterrando-lhe os dedos nus no quadril ossudo. Estava aos saltos, guinchando agarrado ao pé, quando um último cão entrou no quarto. Caiu sobre ele e agarrou-lhe uma pata traseira. O animal lançou um uivo penoso. Ballard golpeou-o cegamente com o punho fechado, pancadas fortes e insistentes que ecoaram no quarto quase vazio por entre imprecações e queixumes desesperados."
Excerto de " Filho de Deus ", de Cormac McCarthy, Trd. Paulo Faria
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Para relembrar constantemente
Tom Zé e Jarbas Mariz cantam Companheiro Bush
Recordações
Sinatra & Bono -" I've got you under my skin "
Tom Zé -" Augusta, Angélica e Consolação "
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Ophélia
On the calm black water where the stars are sleeping
White Ophelia floats like a great lily;
Floats very slowly, lying in her long veils...
- In the far-off woods you can hear them sound the mort.
For more than a thousand years sad Ophelia
Has passed, a white phantom, down the long black river.
For more than a thousand years her sweet madness
Has murmured its ballad to the evening breeze.
The wind kisses her breasts and unfolds in a wreath
Her great veils rising and falling with the waters;
The shivering willows weep on her shoulder,
The rushes lean over her wide, dreaming brow.
The ruffled water-lilies are sighing around her;
At times she rouses, in a slumbering alder,
Some nest from which escapes a small rustle of wings;
- A mysterious anthem falls from the golden stars.
II
O pale Ophelia! beautiful as snow!
Yes child, you died, carried off by a river!
- It was the winds descending from the great mountains of Norway
That spoke to you in low voices of better freedom.
It was a breath of wind, that, twisting your great hair,
Brought strange rumors to your dreaming mind;
It was your heart listening to the song of Nature
In the groans of the tree and the sighs of the nights;
It was the voice of mad seas, the great roar,
That shattered your child's heart, too human and too soft;
It was a handsome pale knight, a poor madman
Who one April morning sate mute at your knees!
Heaven! Love! Freedom! What a dream, oh poor crazed Girl!
You melted to him as snow does to a fire;
Your great visions strangled your words
- And fearful Infinity terrified your blue eye!
III
- And the poet says that by starlight
You come seeking, in the night, the flowers that you picked
And that he has seen on the water, lying in her long veils
White Ophelia floating, like a great lily.
Arthur Rimbaud
Peter Hammill - "Ophelia" (ao vivo em Itália,1983)
A musa venal
Musa do meu amor, ó principesca amante,
Simbiose (im)perfeita
Elvis Costello e Fiona Apple - "Shabby Doll "
domingo, 24 de fevereiro de 2008
A vida não pára
Lenine - " Paciência "
" De súbito uma força desconhecida atingiu-o no peito e no flanco, oprimindo-lhe ainda mais a respiração, caiu no buraco e ali, no fundo do buraco, qualquer coisa começou a brilhar. Aconteceu-lhe aquilo que lhe costumava acontecer na carruagem do comboio, quando pensava que seguia para a frente e ia para trás, e de repente descobria a verdadeira direcção.
- Sim, nada foi como devia ser - disse a si mesmo. - Mas não importa. É possível, «isso» pode fazer-se. Mas «isso» é o quê? - perguntou a si mesmo e sossegou. "
Excerto de " A morte de Ivan Ilitch ", de Lev Tolstoi, Trd. António Pescada
Monty Phyton - Funeral de Graham Chapman (legendado)
Marjane Satrapi, uma mulher no Irão
" Não sou, de todo, uma pregadora e é por isso que faço arte e também não gosto de pregadores. Enquanto artistas, o nosso dever é levantarmos questões para mostrar que a situação é complexa. Pomos cada pessoa perante um dado e ela que se encarregue de julgar. Não somos portadores de respostas, e nesse sentido este não é um filme revolucionário. Coloca perguntas sobretudo num plano humano. Hoje, falamos de ocidentais e orientais, de muçulmanos e cristãos, mas os cristãos não se parecem todos. Há indivíduos e o indivíduo é a base da democracia. Compreender que um ser humano tem um valor é a base de tudo. É isso que estamos a caminho de perder a grande velocidade. Se há uma mensagem neste filme é, justamente, retomar tudo a um nível individual, humano. A partir daí talvez consigamos fazer a boa pergunta. "
Excerto de entrevista a Marjane Satrapi por Alexandra Lucas Coelho(em Paris), publicada no Ípsilon de 22/02/2008
Olhar a morte com os olhos bem abertos
" « Quando eu não existir, o que existirá? Não existirá nada. Pois onde estarei eu quando não existir? Será isso morrer? Não, não quero.»
Levantou-se de um salto, quis acender a vela, procurou-a com as mãos trémulas, derrubou a vela e o castiçal para o chão e deixou-se cair para trás, sobre a almofada. « Para quê? Tanto faz - disse consigo, olhando a escuridão com os olhos muito abertos. - É a morte. Sim, a morte. E nenhum deles sabe, nem quer saber, e não têm pena. Estão a tocar. (Ouvia através da porta o som das vozes e das cantorias.) A eles tanto se lhes dá, mas também eles hão-de morrer. Loucos! Eu antes, eles depois; e também a eles acontecerá. Mas estão alegres. Animais!» Teve um acesso de raiva. E sentiu um mal-estar de agonia, insuportável. Não é possível que todos estejam sempre condenados a este medo horrível. "
Excerto de " A morte de Ivan Ilitch ", de Lev Tolstoi, Trd. António Pescada
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