Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

segunda-feira, 16 de maio de 2011

«Os pensamentos maus não me largam. Mais do que aquilo que aconteceu: é estar a acontecer tantas vezes. Uma amiga trabalhou durante anos num emprego que não a satisfazia, apenas com um objectivo: juntar o dinheiro suficiente para passar o resto da vida a viajar. E conseguiu. Mas no mês em que se despediu foi-lhe detectado um cancro. Outro amigo esperou pacientemente pela idade da reforma, para finalmente conseguir escrever um livro. Nos últimos anos vivia para isso. Comprou uma pequena casa no campo, preparou tudo. Depois sofreu um AVC e deixou de conseguir pensar. Outro ainda investiu tudo no casamento. O que ele abandonou por aquela mulher! Mas quando tinha criado um paraíso para viver o grande amor, ele extinguiu-se. Não foi ela, foi ele que deixou de amar.
Lembrei-me do prior da Cartuxa, que me falou do dia em que deixou de acreditar em Deus. Um homem que desistiu de tudo, para passar a vida fechado num convento. E de repente, sozinho na sua cela, à noite, descobre que perdeu a fé. "Deus ausenta-se", sussurrava o prior, apavorado.»



Paulo Moura, Pública de 15/05/2011

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