Mugabe fez anos. Parabéns, Robert.
Não é caso para menos. A coisa tem sido um sucesso. Bem instalado, Mugabe tem assistido serenamente ao evoluir do Zimbabwe. O desemprego a rondar os 80%, a inflação os 1600%. Coisa pouca para quem pensa em grande como o velho Robert. Mas há mais: 500 mil infectados com HIV, a cólera a aumentar nas zonas rurais e em Harare, e uma reforma agrária plena de sucesso. Eu sei, nesta matéria não levamos lições de moral de nenhum ditadorzeco. O facto é que foi um feito, a expropriação das terras às populações brancas. Branca, porque espiã ao serviço da pérfida Albion, ou não estivéssemos perante mais um ex-colonizado com o tique habitual de sacudir as culpas para quem lá andou antes.
Mas Robert achou tudo isto coisa de meninos e tratou de nos brindar com um plano estatal de destruição de habituações ilegais. Resultado? Mais de 300 mil famílias desalojadas. Esta propensão para o bem comum sempre tocou fundo Mugabe. Por isto há muito que tratou de si, não vá algum louco enfiar-lhe uma valente bala na testa. Com as preciosas ajudas da China e da Coreia do Norte – com muitos adeptos numa ala muito particular do parlamente português – reforçou a sua guarda pretoriana, as forças armadas e a sua amada polícia política. Para bem de todos, em especial do seu.
Parece que também tem havido queixas de torturas maciças, prisões um tanto duvidosas e uma oposição silenciada. Tudo obra da “teia imperialista ocidental” que impõe sanções económicas ao regime e que, nas palavras de Mugabe, o tornaram naquilo que ele é hoje. Não surpreende. Esta esquerda despótica, vermelha porque sangrenta, sempre teve o condão de ver no satã externo os males para todas as suas diabruras. Querem exemplos?
Por tudo isto, Robert está de parabéns. Cumpriu. Mais: superou as expectativas. Tornou-se no case study moderno de como arruinar um país em menos de um piscar de olhos. Para celebrar o feito, o ditador do Zimbabwe fez uma festa a rondar o milhão de dólares. Recorrendo a uma engenharia financeira digna dos eleitos, congelou parte dos salários dos funcionários públicos para patrocinar a farra.
O que me faz alguma espécie é não ver ninguém nas ruas de Lisboa e de outras capitais europeias, sempre prontas para a indignação, aproveitar a efeméride. O anti-americanismo ganhava outra causa e alguns eurodeputados também.
[Atlântico, Maio 07]
Posted 9.5.2007 by Bernardo Pires de Lima
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