A exposição de Francis Bacon, em Serralves(2003) marcou-me profundamente, e as palavras de João Pereira Coutinho, dizem porquê:
" Francis Bacon é um pintor realista porque, em Bacon, a realidade não é idealização da ordem. A realidade é violenta, caótica e cruel. E por que motivo as suas figuras nos perturbam tanto ? A resposta é mais simples do que parece: porque as pessoas nos perturbam tanto. Porque, como Bacon diria, não ficamos indiferentes às » emanações » daqueles que nos rodeiam. Os nossos sentimentos são múltiplos, contraditórios, avessos a qualquer hierarquia. Amamos, desejamos, tememos, invejamos, odiamos - de uma só vez, perante uma só pessoa. Ao mesmo tempo, num mesmo tempo. Por isso « distorcemos » os outros: porque imprimimos nos outros aquilo que apenas nos pertence. Porque só podemos pintar os outros, pintando aquilo que os outros nos sugerem - aquilo que os outros significam para nós. Nesta, como noutras matérias, convém lembrar o velho Wilde. Todos acabamos por matar aquilo que amamos? Precisamente. "
Excerto da crónica " Francis Bacon "(31/01/2003), publicada no jornal "O Independente " e coligida no livro de crónicas " Vida Independente 1998-2003 ", Ed. O Independente,2004
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