Quer dizer: a «libertação» dos preços no mercado e a «liberdade» da propriedade dos meios de produção associam-se aos chamados direitos do homem e partiram para a globalização das nossas vidas.
Ironia das ironias. Essa situação de hegemonia, ou até monopólio, é absolutamente contrária à natureza desse mesmo capitalismo, cujo primeiro fundamento - o mercado - é o da concorrência. É exactamente por não existir essa concorrência na práctica do seu poder triunfante que ele nos obriga ao pensamento único - uma faca de dois gumes.
Bem podem os partidos ditos socialistas e sociais-democratas usar o unguento da solidariedade que nada pode afastá-los da farmacologia dos ultraliberais. A aceitação do modelo globalizante obriga-os a idêntica corrida à prosperidade dentro da maior ortodoxia financeira.
Pedir, por exemplo, ao Estado e ao Governo portugueses maior distância do empresariado seria pedir uma tarefa impossível porque é o capital - financeiro ou não - que hoje domina em toda a parte, como se pode ver nos balanços das grandes multinacionais e nos orçamentos de um vasto número de estados.
Renegados os sentimentos que lhes deram vida, esses estados e partidos não podem experimentar a paixão. Por isso buscam a excitação no desafio do sucesso sem perceberem, sequer, que o poder está a fugir-lhes das mãos.
Crónica " O ponto do Capitalismo ", de Victor Cunha Rego, publicada em 28/06/1998, no Diário de Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário