Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ontem como hoje

" A queda, quinta-feira, do mago do hedging, John Meriwether, popularizado no bestseller de há uns anos " Liar´s Poker ", deixou Wall Street siderada. Poucos minutos depois de ter aparecido nos ecrãs da Reuters a notícia de que a UBS, o maior banco da Europa, tinha perdido mais de cem milhões de contos com o seu investimento no fundo especulativo gerido por Meriwether, viu-se o gráfico do Dow Jones - até então impulsionado pelas palavras da véspera de Greenspan sugerindo a possibilidade de um corte nas taxas de juro - começar a cair a pique. Na sexta-feira outros bancos enormes anunciaram prejuízos neste e noutros fundos e nas Bolsas mundiais aconteceu o que aconteceu.
Note-se que estas quedas se deram apesar de o fundo em questão não ter sido liquidado! De facto, as consequências de uma liquidação forçada ( a acrescer às que vêem sendo feitas desde meados de Julho) seriam tais que o FED, quebrando todos os seus princípios, evitou a falência e montou (forçou?) um sindicato bancário internacional que pôs quase setecentos milhões de contos de dinheiro fresco. A verdade é que não só os maiores bancos do mundo lá estavam investindo, como, a título pessoal, alguns dos presidentes desses bancos lá tinham as suas fortunas pessoais... Ninguém sabe a extensão do risco assumido (e vivo neste momento) , mas as estimativas mais conservadoras apontam para 17 ou 18 mil milhões de contos, ou seja, mais do que o PIB anual português. Que tais riscos, geridos, aliás, por um homem de grande prestígio profissional e por uma equipa de traders que inclui dois prémios Nobel e um vice-presidente do Federal Reserve, tenham podido ser assumidos sem supervisão oficial e sem que nenhum dos sofisticados intervenientes seja capaz de os medir ou até, talvez, de os compreender completamente, mostra a extensão da crise financeira que paira sobre nós. E explica que as autoridades bancárias americanas tenham feito exactamente o oposto do que tão arrogantemente aconselham os governantes de outros países a fazer! A realidade tem muita força."

Crónica " A realidade tem muita força ", de Leonardo Ferraz de Carvalho, 28/09/1998, publicada no jornal " Independente "

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