Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

domingo, 15 de novembro de 2009

Leituras de domingo(5)

« Existiu uma ambivalência de sentimentos? Houve um momento em que percebeu que ele era desprezível e simultâneamente digno de amor?

Eu não amava o meu pai. Um homem que faz 15 filhos a uma mulher não é respeitável! Ele respeitava Franco, respeitava o nacional-catolicismo. Era respeitado pelo franquismo, pela igreja: Tudo isto me parecia irracional, animalesco. A partir de determinado momento, deixámos de discutir. Se tinha que o ajudar em algum aspecto, económico ou outro, ajudava-o, mas nunca teve o meu carinho nem o meu respeito.

Nem quando era pequena? Nunca foi para si o pai herói? O pai-Deus, bom, grande, omnisciente, omnipotente.

Nunca tive essa ideia. Pergunto-me como é possível que haja mulheres que continuam a sentir fascinação pela figura do pai. É a figura do impositor, do guerreiro, o depositário da autoridade divina e social. Eu rebelo-me contra isso, geneticamente e ideologicamente.»


« Como é que tem assistido à polémica que envolve " Caim "?

Estes colunistas de merda, tão jovens, submissos, obsoletos, em vez de pensarem: "Um tipo com 86 anos que enfrenta Deus, que enfrenta a sociedade... Que sorte ter um homem com esta capacidade de rebeldia!", perguntam: "Quem é? Quem escreve? Não gosto!" Estou indignada de ver o pouco livre que são os jovens, o quão convencionais são, o quão cansados estão. Estão assustados porque José tocou num livro sagrado. Mas quem disse que o livro é sagrado? Que mentes tão pequenas julgam a obra pública. Não conseguem ver a grandeza nem de uma ponte nem de um ser humano. Têm uns óculos que lhes deve dar para verem o tamanho do seu pénis... pequenino.»

Excertos de entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Pilar del Río, publicada na Pública de 15/11/2009

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