Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Repensar Deus (1)

« Mas o cristianismo está para além da religião, tem uma existência e uma expressão que são culturais, que estão para além das crenças individuais e subjectivas. Uma pessoa agnóstica pode ser cristã.
Os valores cristãos têm uma dimensão ética, e prática, que está para além da religião. O cristianismo contribuiu de forma decisiva para a compreensão da dignidade humana, que se traduziu na formulação dos direitos humanos, e na igualdade entre os homens, independentemente da religião, sexo, cultura. Tudo isso faz parte do mundo cristão e é partilhado também por aqueles que estão expostos a esses valores, mesmo que não haja uma crença explícita no Deus de Jesus. O mais importante é o amor entre os seres humanos, é fazer o bem, e fazê-lo de modo verdadeiro, e eficaz - não falo da pequena caridade, mas da transformação das estruturas sociais, políticas, económicas, de tal modo que todos os homens possam realizar a sua humanidade. Freud, que era ateu, escreveu um dia uma carta em que disse: « Eu procurei na minha vida ser bom e fazer o bem aos homens, mesmo quando eles foram maus para mim. Se me perguntam a razão disso, não sei responder.» Isto representa um sinal de abertura ao mistério, ao sentido último. É que há aqui um problema: o das vítimas inocentes.
Quem são?
Todos aqueles que foram vítimas da brutalidade humana, os que não puderam levar avante a sua realização humana, todas as vítimas de todas as guerras, todos os homens, mulheres e crianças sobre quem foi exercida brutalidade. Há uma escola filosófica, a Escola Crítica de Frankfurt ( Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jurgen Habermas - este último um dos maiores filósofos vivos ) que afirma que há uma dívida para com essas vítimas inocentes, e que pergunta: quem é que pode pagá-la, a essa dívida que a História tem para com os inocentes? E é aqui que surge um enorme clamor por justiça. Num dos últimos textos de Habermas( que á agnóstico), escrito depois do 11 de Setembro, ele fala daquilo que a razão não consegue dar: o perdão.
Porque o perdão é um milagre. »

Excerto de entrevista de Anselmo Borges a Sarah Adamopoulos, publicada na Notícias Magazine de 09/12/2007

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