Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

domingo, 2 de dezembro de 2007

" Muitas maravilhas existem, mas nenhuma tão prodigiosa como o homem - o poder que, açoitado pelos tempestuosos ventos do Sul, atravessa o mar coberto de branca espuma, rasgando estradas sob os vagalhões que ameaçam tragá-lo, que domina a Terra, a mais velha das deusas, a imortal, a infatigável, revolvendo o solo com os cavalos, enquanto a charrua, todos os anos, se vai deslocando, ora por aqui, ora por ali.
É a jovial família das aves e as tribos de animais selvagens e as marítimas criaturas das profundidades, às quais ele arma ciladas com as suas redes, aprisionando-as com a superioridade da sua inteligência? Consegue igualmente domesticar, com as suas artes, a fera que percorre os altos e cujo fojo se oculta no seio da floresta; amansar o cavalo de crinas hirsutas, lançando-lhe as rédeas ao pescoço e dominar o infatigável touro das montanhas.
E a fala e a arte de pensar com a rapidez do vento e todos os dotes com que se pode criar uma nação? Tudo isso ele aprendeu, por si mesmo, e como fugir aos golpes do frio, quando duro se torna viver exposto ao cruel fulgor do céu, e evitar as flechas da chuva torrencial. Sim, soube descobrir recurso para tudo; só contra a Morte, embora inventasse defesas para lutar contra a doença traiçoeira, é que ele em vão clamará por auxílio."

Excerto de " Antígona ", de Sófocles, in " Debaixo do Vulcão ", de Malcolm Lowry, Trd. Vírgina Motta, Ed. Livros do Brasil

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