Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O poder do tempo

" Os meus remorsos tinham acalmado, deixava-me deslizar para a doçura daquela noite em que tinha a minha mãe ao pé de mim. Sabia que uma noite assim não poderia tornar a acontecer; que a maior aspiração que eu tivesse neste mundo, a de conservar a minha mãe no meu quarto durante aquelas tristes horas nocturnas, era por de mais contrária às necessidades da vida e aos desejos de todos para que a satisfação que lhe haviam concedido naquela noite pudesse deixar de ser artificiosa e excepcional. Amanhã as minhas angústias recomeçariam, e a minha mãe não ficaria ali. Mas, quando as angústias se me acalmavam, eu deixava de as compreender; além disso, amanhã à noite era ainda distante; dizia de mim para mim que teria tempo para pensar, embora esse tempo não pudesse trazer-me qualquer maior poder, já que se tratava de coisas que não dependiam da minha vontade e que só o intervalo que ainda as separava de mim me fazia parecer mais evitáveis. "


Excerto de " Do lado de Swann",1º Volume de " Em busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, Trd.Pedro Tamen,Ed. Círculo de Leitores,2003, P. 50

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