Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Todos nascemos nus

Todos nascemos nus
- condição dos vermes,
dos punhais
e da luz.


Os filhos só têm a mais
o terror das diferenças
das mães a vesti-los com os braços
- destinos feios
de mijo a chorar nas rendas
e violinos em trapos.


Todos nascemos nus
- condição dos seios,
das açucenas
e dos sapos.


Mas até os seios das mães
são diferentes.
Uns cheiram a sedas quentes,
outros, a urina de cães.


Bem. Agora devia sofrer
cuspir nos espelhos
dos remorsos.
E esbofetear o céu
com gritos de mãos de ossos.


Mas não. Sorrio.
Todos nascemos nus
- condição dos mortos
despidos pelo frio.


Álbum/XII, de José Gomes Ferreira

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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