" Como é que este coronel Bernardes nos aparece instalado, ao reflexo azul e espúrio duma piscina, num monte restaurado, nas espessuras dum Alentejo em que ainda correm abetardas, se levantam perdizes e melharucos, pairam águias de pólo em pólo e jazem restos de dólmens e menires, encobertos entre os alecrins? O coronel recolheu-se a este monte isolado, por largas temporadas, numa atitude de protesto, num brado de carácter. Fora humilhado.
É que o coronel Bernardes, que daqui a nada levantará a voz contra os faladores deste país, sem que o autor o contrarie, revela-se, ele mesmo, um conversador compulsivo e isso teve as suas consequências menos fastas. Mas como é que pode ser, isto de um homem praticar precisamente aquilo contra que levanta bandeira? Dolorosa resposta: a alma humana, a contraditória, paradoxal e desamparada alma humana. Meditemos durante uns largos segundos e compenetremo-nos de quão frágeis somos e dignos de comiseração."
Excerto de " Fantasia para dois coronéis e uma piscina", de Mário de Carvalho, Ed. Caminho,1ª Edição
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