Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O direito à infelicidade*

"...não existe manual de auto-ajuda que não apresente o infortúnio como um elemento estranho à condição humana. A tristeza é uma anormalidade, dizem. O fracasso não existe e, quando existe, deve ser imediatamente apagado, ordenam. Na sapiência dos manuais, a infelicidade não é um facto; é uma vergonha e uma proibição.
O que implica o seu inverso: se a infelicidade é uma proibição, a felicidade é obrigatória por natureza. Obrigatória e radicalmente individual. Ela não depende da sorte, da contingência e da acção de terceiros: daqueles que fazem, e tantas vezes desfazem, o que somos e não somos. Depende, exclusiva e infantilmente, de nós. O tom é militar e marcial; a felicidade é uma batalha e uma conquista. E eu rendo-me ao primeiro disparo. Quem suporta semelhante fardo? Quem consegue suportar a obrigação totalitária de ser feliz?

* Excerto de crónica de João Pereira Coutinho, com este título


Spiritualized -" Soul On Fire "

2 comentários:

mdsol disse...

Pois! Tiranias. Sem paternidade completamente assumida! Mas que se insinuam pelos poros do dia a dia! Estar lúcido já ajuda!
:)

cristal disse...

Consumismo e individualismo são o verso e o reverso de uma mesma medalha. É aí que se inscrevem estas noções de felicidade obrigatória, construída de fora para dentro mas como se fosse de dentro para fora. São isso, os livros de auto-ajuda. Que vêm ajudando muito os que os escrevem e os que os publicam.

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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