Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Gostos não se discutem! Ou discutem?

" Porque é que gostamos das pessoas? Desta e não daquela, quero eu dizer.
Como penso que já disse, na idade do crescimento gostava das pessoas porque elas gostavam de mim. Ou seja, gostava imensamente delas quando se limitavam a ser educadas e decentes comigo: Falta de auto-confiança. É muitas vezes por esta razão que as pessoas se casam a primeira vez, fiquem sabendo. Não conseguem esquecer o facto de alguém dar a entender que gosta delas, sem querer saber de mais nada. Foi em parte o meu caso com a Gill, vejo-o agora. Não é a base suficiente, pois não?
Há depois outra maneira de gostar das pessoas. Vemo-lo nas séries clássicas da televisão. Por exemplo, um homem e uma mulher conhecem-se e ele não a impressiona por aí além mas, durante algum tempo, ele faz várias coisas que a fazem ver que afinal ele é um tipo decente e passa a gostar dele. Do estilo, o tenente Chadwick salva uma dívida de jogo, de uma posição potencialmente ruinosa ou de outro embaraço social ou financeiro o Major Thingummy, e então a irmã do Major, Miss Thingummy, que o tenente Chadwick admira à distância desde que foi destacado para a região, reconhece de repente as suas virtudes e gosta dele.
Não sei se as coisas alguma vez acontecem assim, ou se é só uma fantasia do escritor. Não acham que é o oposto? Pela minha experiência, que é limitada, não é assim, conhecemos alguém, ficamos depois com alguns dados sobre a pessoa e, baseados nisso, decidimos que gostamos dela. É o contrário: gostamos de alguém e depois vamos à procura de provas que sustentem esses sentimento.
A Ellie é simpática, não é? Gostam dela, não gostam? Têm provas suficientes? Eu gosto dela. Talvez a convide para sair, mas a sério. Acham boa ideia?
Ficavam com ciúmes?

Excerto de " Amor & etc.", de Julian Barnes, Trd. Helena Cardoso, Ed. Asa

"Boca de Ouro ", da antologia " A vida como ela é", do dramaturgo brasileiro Nélson Rodrigues

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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