" Posso sem exagero afirmar que o primeiro problema com que, na minha vida, me deparei, foi o problema da Beleza. Meu pai era um simples padre de província, de vocabulário pobre; dissera-me apenas que «nada no mundo igualava em beleza o Templo Dourado». O pensamento de que a beleza pudesse existir algures sem eu dela estar ciente causava-me invencivelmente um sentimento de mau-estar e de irritação; pois se ela existisse realmente neste mundo, era eu quem pelo facto da sua existência, seria excluído desse mesmo mundo.
No entanto, nunca o Templo Dourado permaneceu para mim como simples conceito. As montanhas impediam-me de olhar para ele; mas bastaria que tivesse a fantasia de o ir ver, e isso seria perfeitamente realizável: existia, estava ali. A beleza é portanto algo que podia ser tocado, algo claramente reflectido pelos olhos. Que no próprio seio desse universo de múltiplas metamorfoses o inalterável Templo Dourado devesse continuar a existir tranquilamente, disso estava eu certo, absolutamente certo."
Excerto de " O Templo Dourado ", de Yukio Mishima, Trd. Filipe Jarro, Ed.Assírio e Alvim(1985)
2 comentários:
Muito bonito, mas não sei se gosto mais do Templo em si, se da sua imagem reflectida na água.
É impressionante como este texto é apelativo... a um tempo... inquieta e...tranquiliza!
:)
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