" Por uma vez, em muito tempo, os portugueses não têm para onde olhar. Brasil, África e Europa pertencem ao passado. Com a particularidade de a Europa e o mundo terem deixado de ser fronteiras e horizontes a explorar e se terem transformado em ameaças e fontes de crise. Por uma vez, em muito tempo, os portugueses têm de contar consigo, só podem mesmo contar consigo próprios. O que, numa sociedade livre e num mundo aberto, é muito mais difícil. Habituados a contar com expedientes e bodes expiatórios e mal educados pela demagogia política, os portugueses comprazem-se em aspirar a muito mais do que podem e têm direito. Consomem mais do que lhes é permitido pelos seus rendimentos. Querem mais do que lhes autoriza a sua produtividade. Devem muito mais do que ganham num ano. Adoptaram os tiques da cultura do êxito, dos vencedores, da gente bonita e da exibição de capa cor-de-rosa. E parece não se importarem com as desigualdades sociais que fazem desta sociedade um pesadelo moral e estético."
*Excerto de crónica " A Europa não é o que era ", de António Barreto, publicada no jornal " Público " de 01/06/2008
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