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Oil on canvas,
75 x 60 cm
Castello Sforzesco, Milan,
Tintoretto
" Era um rosto velho e cor de bronze, mirrado e de maçãs salientes; parecia que os traços daquele rosto tinham sido apanhados no instante de um movimento espasmódico, e jorrava deles uma força nada nortenha. Estava gravado naqueles traços o brilho meridional. Vestia o velho retratado um amplo traje asiático. Por mais estragado e empoeirado que estivesse o retrato, quando Tchartkov conseguiu limpar-lhe o pó do rosto, viu a marca do trabalho de um grande pintor. O retrato parecia inacabado, mas a força do pincel era impressionante. O mais extraordinário eram os olhos: parecia que o pintor investira neles todo o seu zelo e toda a força do seu pincel. Aqueles olhos olhavam, pura e simplesmente olhavam do retrato e como que destruíam a harmonia do quadro com a sua estranha viveza. Quando aproximou o retrato da porta, os olhos olharam-no com uma penetração ainda maior. Causaram a mesma impressão ao povo mirone. Uma mulher, de trás de Tchartkov, soltou um grito: « Está a olhar, a olhar!», e recuou. "
Excerto do conto " O retrato", de Nikolai Gógol, incluido nos " Contos de São Petersburgo", trd. Nina Guerra e Filipe Guerra, Ed.Biblioteca Independente, 2007
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