Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sábado, 10 de novembro de 2007

" A morte de Siegmund " - D.H.Lawrence

" Chegaram a uma praia abrigada, de areia branca e tépida, pálida e macia como veludo. O grito das gaivotas enchia os recessos escuros do promontório; no ponto onde a água quebrava, dócil, ouvia-se o som ténue do entrechocar de seixos e o múrmurio indistinto do mar entre as concavidades da falésia, semelhante ao de conchas. Siegmund e Helena deitaram-se lado a lado na areia seca, minúsculos como duas aves em repouso, enquanto milhares de gaivotas rodopiavam numa tempestade de flocos brancos por cima das suas cabeças; grandes penhascos erguiam-se mais além e, muito acima dos rochedos, uma imensidade de nuvens avançava, fazendo lembrar uma grande caravana en route. Por entre o desfilar dos oceanos e das nuvens e o voo circular das grandes esferas, invisíveis no céu, Siegmund e Helena, dois grãos de vida no vasto movimento do universo, viajavam por instantes lado a lado.
Deitados na praia assemelhavam-se a uma ave marinha cinzenta e branca. Os navios preguiçosos que cruzavam lentamente o Solent observavam as falésias e os penedos, mas Siegmund e Helena eram demasiado pequenos. Ali deitados, permaneciam ignotos e insignificantes, a contemplar através dos dedos entreabertos a passagem da caravana do Dia, em constante mutação. Deitados, com os dedos cruzados sobre os olhos, viam os barcos cortar a água azul do seu campo de visão."

Excerto de " A morte de Siegmund ", de D.H.Lawrence, Trd. Ana Falcão Bastos, Ed. Círculo de Leitores,1996

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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