Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 4 de maio de 2007

" Ele foi Mattia Pascal " - Luigi Pirandello

" Por várias vezes, acordando no coração da noite ( mas neste caso, a noite demonstrava realmente não ter coração), aconteceu-me sentir no escuro, no silêncio, uma estranha estupefacção, um estranho incómodo ao recordar qualquer coisa feita durante o dia, à luz, sem prestar atenção; e perguntei, então, a mim mesmo se, na determinação das nossas acções, não concorrem também as cores, a vista das coisas que nos rodeiam, o ruído variado da vida. Mas é claro que sim, sem dúvida! E sabe-se lá quantas outras coisas! Não vivemos nós, segundo o senhor Anselmo, em união com o Universo ? Ora, é preciso ver quantas tolices este maldito Universo nos faz cometer, de que nós depois afirmamos responsável a nossa miserável consciência, pressionada por forças exteriores a ela, ofuscada por uma luz que vem de fora dela. E, ao invés, quantas deliberações feitas, quantos projectos arquitectados, quantos expedientes maquinados durante a noite não se mostram vãos e não se desmoronam e esfumam à luz do dia ? Como o dia é uma coisa e a noite outra, do mesmo modo talvez nós sejamos uma coisa de dia e outra de noite: uma coisa miserabilíssema, infelizmente, tanto de noite como de dia. "

Excerto da tradução de José J.C. Serra, Ed. Cavalo de Ferro

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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