« - Olha lá, meu rapaz, quantos camponeses morreram desde o último censo?
- Quantos? - Uma porção deles! - respondeu o intendente, pondo a mão diante da boca para dissimular um soluço.
- Sim, era justamente isso o que eu pensava - murmurou Manilov. - Morreram bastantes...
- Mas quantos? - insistiu Chichikov.
- Sim, quantos? - repetiu Manilov.
- Quantos? Como posso eu saber ao certo? Ninguém os contou... - desculpou-se o intendente.
- Sim, claro ninguém os contou... - pronunciou Manilov. E voltando-se para Chichikov: - É o que eu supunha, morreram muitos, mas não se sabe bem quantos.
- Pois bem, meu amigo - disse Chichikov, dirigindo-se ao intendente -, não há outro remédio agora senão contá-los. Arranje-me, por favor, uma lista completa dos mortos, com os nomes de todos.
- Isso mesmo - confirmou Manilov. - Uma lista com os nomes de todos os mortos.
- Às suas ordens, senhor! - proferiu o intendente, e retirou-se.
- E para que quer essa lista? - inquiriu então Manilov.
A pergunta confundiu um pouco o visitante. Corou, tartamudeou, fazendo visíveis esforços para encontrar as palavras adequadas. E o caso não era para menos. Manilov ia ouvir coisas extraordinárias, como nunca antes escutara nenhum ouvido humano.
- Deseja saber para que quero esta lista? Pois bem, vou dizê-lo: tenciono comprar-lhe os camponeses que...
Não chegou a concluir a frase, Manilov interrompeu-o:
- Permita-me que lhe pergunte: deseja comprá-los com ou sem as terras?
- Não se trata precisamente de camponeses... - esclareceu Chichikov. - Só quero comprar os que morreram...
- Como?... Desculpe-me... Sou um pouco duro de ouvido, creio que percebi mal...
- Pretendo adquirir as almas mortas que figuram ainda como vivas no recenseamento - explicou Chichikov.»
Excerto de " Almas mortas ", de Nicolai Gogol, Trd. José António Machado, Ed. Estampa
- Quantos? - Uma porção deles! - respondeu o intendente, pondo a mão diante da boca para dissimular um soluço.
- Sim, era justamente isso o que eu pensava - murmurou Manilov. - Morreram bastantes...
- Mas quantos? - insistiu Chichikov.
- Sim, quantos? - repetiu Manilov.
- Quantos? Como posso eu saber ao certo? Ninguém os contou... - desculpou-se o intendente.
- Sim, claro ninguém os contou... - pronunciou Manilov. E voltando-se para Chichikov: - É o que eu supunha, morreram muitos, mas não se sabe bem quantos.
- Pois bem, meu amigo - disse Chichikov, dirigindo-se ao intendente -, não há outro remédio agora senão contá-los. Arranje-me, por favor, uma lista completa dos mortos, com os nomes de todos.
- Isso mesmo - confirmou Manilov. - Uma lista com os nomes de todos os mortos.
- Às suas ordens, senhor! - proferiu o intendente, e retirou-se.
- E para que quer essa lista? - inquiriu então Manilov.
A pergunta confundiu um pouco o visitante. Corou, tartamudeou, fazendo visíveis esforços para encontrar as palavras adequadas. E o caso não era para menos. Manilov ia ouvir coisas extraordinárias, como nunca antes escutara nenhum ouvido humano.
- Deseja saber para que quero esta lista? Pois bem, vou dizê-lo: tenciono comprar-lhe os camponeses que...
Não chegou a concluir a frase, Manilov interrompeu-o:
- Permita-me que lhe pergunte: deseja comprá-los com ou sem as terras?
- Não se trata precisamente de camponeses... - esclareceu Chichikov. - Só quero comprar os que morreram...
- Como?... Desculpe-me... Sou um pouco duro de ouvido, creio que percebi mal...
- Pretendo adquirir as almas mortas que figuram ainda como vivas no recenseamento - explicou Chichikov.»
Excerto de " Almas mortas ", de Nicolai Gogol, Trd. José António Machado, Ed. Estampa
Sem comentários:
Enviar um comentário