Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A cidade das aldeias*

« O presente trabalho, realizado sob a forma de reportagem fotográfica e vídeo, visa possibilitar a leitura do que subsiste dos antigos Lugares da cidade do Porto e dos caminhos entre eles, registando e divulgando o que ainda hoje se pode observar, revelador de uma forma de assentamento e formação de território, de construção e de vivência de uma outra cidade, a cidade das aldeias, que corre o sério risco de ser literalmente engolida pela velocidade desenfreada própria dos dias em que vivemos, resultado das dinâmicas de desestruturação urbana e social que, infelizmente, vão esquecendo estes espaços, as suas gentes e os conjuntos edificados.

Comparando a planta da cidade do Porto desenhada sob a direcção de Augusto Teles Ferreira e impressa no ano de 1892 com a cidade actual verificamos que, ainda hoje, subsiste uma substrutura rural que, à época, constituía uma rede de caminhos e lugares exteriores ao centro urbano em processo de consolidação.Esses lugares, aquando da delimitação administrativa da cidade ocorrida no final do século XIX, seriam integrados no perímetro urbano, ficando a Estrada de Circunvalação como linha de fronteira da nova cidade que acolhia no seu interior um conjunto de lugares e de freguesias novas, incorporava áreas de freguesias vizinhas e deixava de fora algumas parcelas de terreno, que, embora pertencentes ao concelho, sempre foram consideradas exteriores à cidade que se havia circunvalado.

Pela imagem, pretende-se tornar pública essa outra cidade que abrange, na área geográfica do concelho do Porto, núcleos como Pinheiro de Campanha, S. Pedro, Azevedo, Areias, Contumil, Pego Negro, Granja, Vila Cova, Campo, Aldeia Nova do Monte, Fojo, Águas Férreas, Outeiro do Tine, Aval de Baixo, Ramalde do Meio, Vilanova de Cima, Furamontes, Ribeirinho, Campinas, Arrábida, Olivais, entre muitos outros lugares que nos vão falando de percursos, de espaços, de construções e de gentes.

Este sentimento de viver periférico, presente nos lugares visitados, poderá, um dia, vir final e felizmente a desaparecer e dar lugar a uma realidade policêntrica, assente em contínuos de território, o qual, ligado por redes e canais, será capaz de unir e esbater as sensações de dentro e fora, contribuindo para minimizar a sensação de centro e periferia, quer no plano físico quer no plano das mentalidades e sentimentos, consolidando e dando espessura ao tecido urbano.Assim, as redes vão-nos ligar os pontos e os canais vão-nos traçar as rectas e articular a sobreposição das redes, cosendo-as ao concelho ao qual pertencem e aos concelhos limítrofes, promovendo um tecido forte e coeso, permitindo que não sejam áreas conflituantes, mas sim conjugadas e convergentes num só objectivo: a ampliação da cidadania e a gestão participada do território municipal pelas populações, comprometendo todos num esforço unitário, em busca de uma estrutura onde todos tenham lugar.

É um registo fotográfico que permite pensar que, numa cidade equilibrada, esta diversidade de ocupação do solo ajuda a qualificar o ambiente urbano, oferecendo a leitura de várias épocas históricas, de vários tempos, de vidas que podem, trinta e cinco anos passados sobre o 25 de Abril, se todos quisermos, coexistir em harmonia, derrubando a última muralha desta cidade e pensar, na Área Metropolitana do Porto, mais do que na metropolitanidade, na rur-urbanidade.»

Mário João Mesquita, apresentação da *exposição a decorrer no CPF.

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