Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

segunda-feira, 9 de março de 2009

Leituras na retrete(3)

" Fazia um calor infernal e seco, que ela adorava. Antes de aterrar, o piloto fora informado da existência de ligeiros tremores de terra na região mas já tinham passado, disse ele, e não havia razão para desistir. E pôs-se a dizer mal dos franceses.«Após cada um destes testes podem-se contar cinco dias: um, dois, três, quatro, cinco e a terra põe-se a tremer.» Pousou o helicóptero num campo de futebol poeirento no centro da didadezinha de Tequila. A população local estava rodeada por um cordão formado pelo que devia constituir toda a força policial da terra. No momento em que Vina Apsara fazia a sua descida majestosa (sempre fora uma princesa e agora preparava-se para ser uma rainha), ouviu-se num grito o seu nome simplesmente, Vi-i-i-i-naaa, aquelas vogais alongadas pela ânsia pura, e eu percebi - e não foi a primeira vez - que apesar da extrema devassidão, amplamente publicitada, da sua vida, apesar dos seus caprichos de estrela, dos seus nakhras, nunca ninguém lho levara a mal; havia nela qualquer coisa de desarmante e a reacção do público, em vez de censura, era miraculosamente de afeição incondicional, como se ela fosse o filho recém-nascido do mundo inteiro.
Chamemos-lhe amor." (09/03/09-06:57)

Excerto de " O chão que ela pisa ", de Salman Rushdie, Trd. Helena Ramos e Artur Ramos

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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