Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A propósito do celibato sexual(2)

" Por mais que um corpo emaciado e um olhar de santo pudessem deixar transparecer pureza, a sexualidade constituía o barómetro da luta mais íntima, secreta e significativa contra o pecado e a impureza. Mesmo que o comportamento sexual pudesse ser refreado e os anseios sexuais recalcados, o que sucedia à noite constituía um lembrete constante de uma batalha que ainda não fora vencida.
«Se não estás a pensar em sexo, lamento-te», escreveu um asceta, «significa que deves estar a fazê-lo.» Assim, não havia muita margem para a calma ou a grandiosidade espiritual( nem muita escolha). Abundam os relatos do malogro na contenção sexual, desde as poluções nocturnas a sonhos eróticos, aos deslizes de gerar filhos ilegítimos ou molestar sexualmente as noviças. A «pureza de coração» facilmente resvalava para o medo da tentação e daqui para a misoginia. Esta misoginia podia expressar-se de uma forma física brutal. Há o relato de um monge que enfiou o hábito no corpo putrefacto de uma morta, a fim de que o fedor o impedisse de ter pensamentos de mulheres que não estivessem ligados à carne em decomposição e à morte. A castidade de um monge era um bem frágil ameaçado de todos os lados e sobretudo a partir do íntimo. Vencer Satanás constituía um empreendimento a tempo inteiro."


Excerto de " Amor, Sexo e Tragédia", de Simon Goldhill, Trd. Maria da Graça Caldeira

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