Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

" O apartamento de Maninho Saraiva tinha quatro colunas de som que recebiam tardes de apenas se ouvir música. Tardes de chuva, com a água a cair na calma, braseando as musiquinhas de Vinicius de Moraes e do melhor Chico Buarque e os poemas de Eugénio de Andrade e Manuel Bandeira, no meio de " Em Defesa de Joaquim Pinto de Andrade". Ou as obras de Lenine, na «colecção fogão-geleira», livros para a clandestinidade. Tinham títulos como " O Fogão ", com um fogão a gás na capa, ou "A Geleira", mas dentro, em papel de muito má qualidade, estavam os clássicos proibidos. Viu-se " O Couraçado Potenkine" nessa casa.
Maria Alexandre, caçulinha - dezoito anos entre amigos que rondavam os trinta -, tinha a chave da cozinha. Davam-lhe liberdade para certas aventuras culinárias mas as festas estavam-lhe vedadas porque, nessa altura, a libertação de costumes ainda não tinha acontecido.(As jovens começavam a namorar mais cedo, «éramos mais soltas por causa do clima», vulgarizavam-se mini-saias, bikinis e hot-pants «mas o grande desbragamento angolano aconteceu depois da indepêndencia com a dinâmica da revolução e da liberdade reclamada por todos».) A caçula podia também tratar dos livros, manusear os panfletos proibidos e as conversas políticas."

Excerto de " Baía dos Tigres", de Pedro Rosa Mendes,Ed.D.Quixote,2ªEdição,1999



Chico Buarque -" Morena de Angola "

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

FEEDJIT Live Traffic Feed