Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Cinaidos

" Para o homem grego da cidade clássica, o desejo que um cidadão adulto experimentasse por um rapaz livre era o modelo dominante da ligação erótica.Nenhuma outra forma de contacto masculino gozava do mesmo prestígio, a mesma aceitação ou até as mesmas pretensões de bem-aventurança erótica. Mas o sexo entre homens da mesma idade, em especial se ambos possuíssem barba, era alvo constante de chacota, declarado inaceitável pelo espírito de justiça ou, com maior zelo, absolutamente repugnante e detestado( mesmo que a relação decorresse sob a máscara da privacidade). Contudo, o pior dos adultos que se pudesse imaginar era um adulto efeminado, que permitia que o próprio corpo fosse usado para o prazer de outro homem - o «cinaidos». Ninguém se chamava a si próprio «cinaidos», e este tratava-se do tipo de insulto explosivo que nem sequer podia considerar-se chacota. Era até possível dizer-se à socapa que todos os políticos « levavam por trás » e soltar umas gargalhadas, mas chamar« cinaidos» a alguém representava um acto de uma hostilidade violenta. Como senhor, um cidadão podia ter sexo com o moço seu escravo e até expressar desejo por ele, embora as relações de poder influíssem inevitavelmente no que se passava. Não era muito digno fazer sexo com um prostituto, em especial aos olhos dos inimigos, mas as normas das preocupaçõesda Antiguidade a respeito do recurso a prostitutos não eram iguais às das preocupações moralistas contemporâneas. Melhor dizendo, havia um franzir reprovador do sobrolho, porque frequentar um prostituto podia tornar-se um fardo em termos financeiros ou revelar pouco auto-domínio, em especial quando o visado dissera mal de alguém que lhe era antipático. Mas, perante o modelo do cidadão com o seu moço, todos os outros tipos de desejo masculino desvaneciam-se.


Excerto de " Amor, Sexo e Tragédia ", de Simon Goldhill, Trd. Maria Graça Caldeira, Ed. Aletheia

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