« Mas ainda falta muito para o fim do mundo!
Como é que sabe isso? Ninguém sabe de nada. O futuro é uma incógnita. Sabe que o conhecimento dá-nos o que se conhece, as leis que se tiraram da natureza para aplicar cá em baixo, mas a experiência dá-nos a sabedoria. A sabedoria vem daquilo que se sofreu e viveu. Eu não deito a mão numa chapa porque vejo que está quente, é a experiência. A experiência é o que nos fica, é essa acumulação de conhecimentos vividos e sofridos, mas o que acontece é que hoje as mudanças são são tão rápidas que já é difícil ser-se sábio. É uma vida tão acelerada que vai mais rápida que os nossos sentidos, que estão sempre atrasados face à realidade. É claro que a gente nova é predisposta a aceitar e a receber as coisas porque as recebe de outro modo, mas quando chegada à minha idade, o mundo terá dado tantas voltas que estará como eu, já não sabe nada.
Mas acha que o mundo não tem muito futuro?
Futuro há-de ter, mas toda a matéria é para morrer. Eu estive no México para receber uma medalha e soube que era de prata. E, curiosamente, perguntei: "Então aqui, a medalha é de prata?Isto é um segundo prémio?" E disseram-me: "Não, este é o prémio mais de topo, a prata foi descoberta aqui no México." Então fui ver os maias e havia lá um texto que dizia o seguinte, entre outras coisas: "Semeia para colheres, colhe para comeres, come para viveres." Isto parece simples, mas é profundíssimo, e foi preciso a recente falta de milho para as pessoas ficarem todas aflitas porque não podiam comer dinheiro.»
Excerto do filme "Aniki Bobó"(1942), e excerto de entrevista realizada por João Céu e Silva a Manoel de Oliveira, e publicada no Diário de Notícias de 31/08/2008
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