Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

" A caveira da mártir " - Camilo Castelo Branco

" Um dia, pouco depois de nascido o Sol, quando se não esperava, chegou à portaria de Odivelas D. Catarina de Castro em sege com sua mãe, e dois monges de S.Bernardo em outra sege. A prelada recebeu a nova que lhe levou a porteira juntamente com a ordem do dom abade-geral, em a qual se incluía a sentença absolutória da freira, acusada falsa e protervamente por denunciantes contra quem as leis civis iam proceder, se o Santo Ofício fosse, contra os usos e direitos, menos executivo.

A fim de não amotinar a comunidade, que ainda ressonava ensopada nas molezas da manhã, a prelada foi silenciosamente à portaria, recebeu com boa sombra a freira, e ordenou que se recolhesse a mãe à hospedaria do mosteiro.

Catarina entrou na cela, e fechou-se para chorar e gemer, abafando os gritos com o lenço premido na boca. Mas, às vezes, a pontada no coração era tão lancinante, agonizavam-na tão insofridas aflições, que os soluços estalavam-lhe agudíssimos da violenta represa."


Excerto de " A caveira da mártir ", de Camilo Castelo Branco, Ed. Domingos Barreira

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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