Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

" Mrs. Dalloway " - Virginia Woolf

" Desde que estava deitada no sofá, enclausurada, protegida ( isenta, preservada), a presença daquilo que sentia tão evidente criou uma existência física; vestida com os ruídos da rua, banhada de sol, o hálito quente, segredando, agitando os estores. Supondo que Peter lhe dizia: « Sim, sim, mas as tuas festas, que significavam as tuas festas? », tudo quanto podia responder era ( e não esperava que ninguém compreendesse): São uma oferenda; o que é terrivelmente vago. Mas quem era Peter para estabelecer que a vida é uma jornada fácil? Peter, sempre apaixonado, sempre apaixonado pela mulher que não lhe convém? Que espécie de amor é o teu?, podia ela perguntar-lhe. E sabia muito bem qual seria a resposta: que é a coisa mais importante do mundo e que talvez mulher nenhuma o compreenda. Muito bem. Mas podia algum homem compreender também o que ela queria dizer? A respeito da vida? Ela não conseguia imaginar Peter ou Richard metendo ombros ao trabalho de dar uma festa sem qualquer razão.
Mas para ir mais fundo, mais além do que diziam as pessoas ( e estas opiniões, como são superficiais e fragmentárias!), agora até ao âmago do seu próprio espírito, que significava para ela isso a que se chama a vida? "

Excerto de " Mrs. Dalloway ", de Virginia Woolf, Trd. Ricardo Alberty, Editora Ulisseia,1982

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