Excerto de " Os Génios do Cristianismo ", de Henri Tincq, Trd. Público, Ed. Público, 1999
« Na saída principal, a turba esmagava-se, empurrava-se, atropelava-se, umas pessoas perdiam o chapéu, outras benziam-se... Da porta lateral, da qual se estilhaçaram dois vidros, saiu, recamada de ouro e prata, mas também espavorida e sufocada, a procissão com o coro. Manchas douradas vogavam no mar negro, do qual emergiam barretes purpúreos e mitras, e as bandeiras inclinavam-se, para transpor as portas, e voltavam logo a erguer-se.
Geava e toda a cidade parecia fumegar. O adro da igreja, conspurcado por milhares de pés, gemia sem cessar. Uma névoa glacial pairava no ar estático e subia para o campanário. O pesado sino de Santa Sofia tocava com força, a tentar abafar toda aquela horrível e vociferante desordem. Os sinos mais pequenos também faziam o que podiam, sem tom nem som, como se o próprio Diabo, oculto numa sotaina, se tivesse instalado no campanário e puxasse as cordas dos sinos, para se divertir. Pelas fendas negras do alto campanário, viam-se os sinos badalar, como cães furiosos a esticar as correntes. O frio cortava e a massa negra, amalgamada, de penitentes desembocava no adro. »
Excerto de " A Guarda Branca "(1922/1923), de Mikhaïl Bulgakov, Trd. Fernanda Pinto Rodrigues, Editorial Pórtico
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