Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

domingo, 25 de outubro de 2009

Leituras de domingo(3)

« Como Benjamim de Petrogrado, durante esse ano de 1922, cerca de 2700 padres e bispos, 2000 monges, 3400 religiosas foram executados. É uma das páginas mais negras da revolução bolchevique. Segundo relata Olivier Clément, nessa época os santuários são profanados, os ícones espezinhados, padres, bispos, fiéis são fuzilados, empalados, fervidos em água! Que Deus vos perdoe!, grita o bispo Vladimiro de Kiev no momento de ser fuzilado. A outro mártir, o professor do seminário de Voronej, Nectaire Ivanov, partiram-lhe as pernas e os braços, enfiaram-lhe no corpo bocados de madeira e obrigaram-no a comungar com chumbo fundido na boca. Antes de morrer, arranjou forças para se lembrar da fórmula bíblica: Senhor, deixa agora ir o seu servo em paz

Excerto de " Os Génios do Cristianismo ", de Henri Tincq, Trd. Público, Ed. Público, 1999

« Na saída principal, a turba esmagava-se, empurrava-se, atropelava-se, umas pessoas perdiam o chapéu, outras benziam-se... Da porta lateral, da qual se estilhaçaram dois vidros, saiu, recamada de ouro e prata, mas também espavorida e sufocada, a procissão com o coro. Manchas douradas vogavam no mar negro, do qual emergiam barretes purpúreos e mitras, e as bandeiras inclinavam-se, para transpor as portas, e voltavam logo a erguer-se.
Geava e toda a cidade parecia fumegar. O adro da igreja, conspurcado por milhares de pés, gemia sem cessar. Uma névoa glacial pairava no ar estático e subia para o campanário. O pesado sino de Santa Sofia tocava com força, a tentar abafar toda aquela horrível e vociferante desordem. Os sinos mais pequenos também faziam o que podiam, sem tom nem som, como se o próprio Diabo, oculto numa sotaina, se tivesse instalado no campanário e puxasse as cordas dos sinos, para se divertir. Pelas fendas negras do alto campanário, viam-se os sinos badalar, como cães furiosos a esticar as correntes. O frio cortava e a massa negra, amalgamada, de penitentes desembocava no adro. »

Excerto de " A Guarda Branca "(1922/1923), de Mikhaïl Bulgakov, Trd. Fernanda Pinto Rodrigues, Editorial Pórtico

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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