Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O mal é uma banalidade

Fotografia da Life(1917)

" Não era daqueles que mal chegavam a todo aquele caos de violência ficavam impacientes por se lançarem ao barulho, daqueles que não regulavam muito bem ou eram muito agressivos por natureza e a quem bastava a mais pequena oportunidade para ficarem loucos violentos. Havia um tipo na sua unidade, um indivíduo a quem chamavam Calmeirão, que um ou dois dias depois de chegar abrira o ventre de uma mulher grávida. Farley só começara a tornar-se bom naquilo no fim da sua primeira vez. Mas na segunda, naquela unidade onde havia uma quantidade de outros tipos que também tinham voltado e não o haviam feito apenas para matar tempo ou ganhar umas massas extra, naquela segunda vez na companhia de tipos sempre ansiosos para serem postos na frente, tipos chalados que tinham consciência do horror mas sabiam que era o melhor momento das suas vidas, tornou-se também chalado, igual a eles. Debaixo de fogo, a fugir do perigo, com armas a disparar por todos os lados, é impossível não sentir medo, mas um tipo pode passar-se e ficar eufórico e temerário, e por isso, na segunda vez, ele passou-se. Na segunda vez apoderou-se dele o frenesi da fúria e espalhou o caos e a destruição. Estar ali à beira do abismo, a todo o gás, ébrio de excitação e medo: não há na vida civil nada que se possa comparar a isso. "
Excerto de " A Mancha humana ", de Philip Roth, Trd. Fernanda Pinto Rodrigues
" Uma multidão de soldados alinhados transforma-se em mancha; um erva preta com capacete por cima; uma erva com a cabeça dilatada, mas estúpida, como caíste no erro de querer defender o abstracto?
Uma prostituta despiu-se à frente do soldado mantendo as meias pretas.
- Tens cancro?
A prostituta encontra-se nua, nua em frente de um soldado que ainda não desapertou sequer um botão, um soldado que tem uma arma e força; e tem dinheiro e ela não, e tem o poder de ainda permanecer vestido, de não parecer ridículo, porque a prostituta é ridícula, não é bonita nem feia, é ridícula, meias pretas de sedutora, a anca para fora à sedutora, mas é ridícula, gorda em sítios ridículos, posições exageradas.
E foi ela que perguntou:
- Tens cancro?
O soldado não tem cabelo, mas tem uma arma. Quando tirou o capacete mostrou que não tinha cabelo, e quando retirou a arma do cinto mostrou que tinha arma.
- Pareces doente com essa careca."
Excerto de " As ervas daninhas ", de Gonçalo M.Tavares

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