Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

terça-feira, 5 de agosto de 2008

No mundo não há crimes sem testemunhas...


" O livro desapareceu. O enorme e pesado volume, que estava pousado num banco, desapareceu aos olhos de dezenas de doentes. Os que viram o roubo não disseram nada. No mundo não há crimes sem testemunhas, sejam pessoas ou objectos. Mas poderá haver semelhantes crimes? O roubo do romance de Marcel Proust é um mistério que é melhor esquecer depressa. Além disso, todos ficaram calados pela ameaça. Foi lançada para o ar, mas mesmo assim teve um efeito garantido. Quem viu, ficou calado porque tinha medo. O benefício de semelhante silêncio é confirmado por toda a vida no campo de concentração, e não só do campo, mas por toda a experiência da vida civil. O livro podia ter sido roubado por um preso qualquer a mando de algum criminoso mais forte a fim de provar a sua coragem, o seu desejo de pertencer ao mundo do crime, aos donos do campo. O livro podia ter sido roubado por estar mal pousado: na extremidade de um banco que se encontrava no enorme pátio do hospital, um edifício de dois andares."


Excerto do conto " Marcel Proust ", de Varlam Chalamov, Trd. José Manuel Milhazes Pinto

Música: Fun Boy Three -" The Lunatics Have Taken Over the Asylum"

1 comentário:

vírus disse...

Testumunhei tamanho crime.Confesso.

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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